Documentário da 'Vaza Jato' ignora hacker e foca em Moro e Lula
Na noite de um domingo, 9 de junho de 2019, uma bomba caiu sobre a política brasileira. A reportagem inaugural da "Vaza Jato", publicada pelo site The Intercept Brasil, levantou suspeitas sobre a conduta dos agentes públicos envolvidos na Operação Lava Jato, especialmente do ex-juiz Sergio Moro, então ministro da Justiça do governo Bolsonaro, e dos procuradores do Ministério Público Federal.
Três anos depois, hoje, chega aos cinemas o documentário "Amigo Secreto", filme da diretora Maria Augusta Ramos que acompanha jornalistas do Intercept e do jornal digital El País Brasil durante a divulgação das matérias.
Quem for ao cinema não deve esperar, no entanto, os bastidores de como a bomba foi armada, como fizeram filmes recentes sobre o jornalismo a exemplo de "Spotlight" e "The Post". O que se vê em "Amigo Secreto" é o impacto que a bomba fez depois de ser lançada, com o enfraquecimento de Moro e especialmente a reabilitação política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O filme não trata, por exemplo, do hacker Walter Delgatti, que afirma ter sido o responsável por acessar as conversas dos integrantes da Lava Jato e repassá-las ao site The Intercept. "Amigo Secreto" também não entra no mérito de como foi o trabalho jornalístico para checar a autenticidade do material, se limitando a algumas rápidas explicações sobre o critério editorial e também registrando que as autoridades não desmentiram o conteúdo das conversas.
O novo filme sintetiza, ao longo de pouco mais de 2h, a visão de uma parte da sociedade sobre o que aconteceu no Brasil nos últimos quatro anos. Assim como os outros documentários citados acima, este também parece mirar o público estrangeiro, ao elencar uma série de fatos que são conhecidos à exaustão do público brasileiro, muitos deles extraídos para o filme dos próprios telejornais.
O caso do ex-presidente Lula entra como o fio condutor da história, que começa com ele sendo interrogado por Moro ainda juiz e termina com o petista sendo candidato e liderando as intenções de voto. É em uma fala sobre Lula que o documentário traz uma das poucas informações inéditas, que é o depoimento em que Alexandrino Alencar, ex-executivo da Odebrecht, afirma ter sido pressionado a falar do ex-presidente em delação premiada.
As entrevistas conduzidas pelos jornalistas Carla Jimenez, Leandro Demori, Marina Rossi e Regiane Oliveira são um ponto alto. Interessantes, com análises a respeito do ocorrido com a operação. Um olhar trazido por esses especialistas, que deve repercutir mais após o documentário, é o que relaciona interesses estrangeiros aos rumos da Lava Jato, em especial em relação à Petrobras.
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