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Como Buzz Lightyear ajudou a construir a Pixar?

Marcos Mion dá voz ao astronauta Buzz Lightyear no novo filme da Pixar - Disney/Pixar
Marcos Mion dá voz ao astronauta Buzz Lightyear no novo filme da Pixar Imagem: Disney/Pixar

Mariana Assumpção

da Ingresso.com

17/06/2022 04h00

Ao infinito? e além!

Uma das frases mais marcantes do cinema é creditada ao boneco Buzz Lightyear, o brinquedo que passou grande parte da "vida" pensando ser, de fato, um patrulheiro espacial destinado a salvar a galáxia das mais perigosas ameaças.

Apresentado originalmente na animação Toy Story (1995), Buzz se tornou um dos personagens mais divertidos e intrigantes da Pixar, estúdio responsável pela sua criação.

Mas como a história do brinquedo está diretamente ligada ao crescimento da empresa que o trouxe ao mundo?

Toy Story foi a primeira animação feita por computação gráfica?

A resposta para esta pergunta é: sim, e não.

Primeiramente, é preciso salientar que as Imagens Geradas por Computador (CGI) não surgiram com o lançamento do longa. Elas apareceram anteriormente em produções live-action como Westworld - Onde Ninguém Tem Alma (1973), Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança (1977) e até num curta-metragem animado chamado The Adventures of Andre & Wally B (1986), da Lucasfilm - em uma divisão que viria a ser a Pixar que conhecemos hoje.

Nem mesmo a Walt Disney Pictures, que coproduziu Toy Story, tem o longa como o precursor no uso da técnica em seu catálogo. A primeira aparição significativa de computação gráfica em uma animação do estúdio aconteceu em As Peripécias do Ratinho Detetive (1986), mais especificamente em sua cena final, na qual o camundongo Basil aparece na torre do relógio - as engrenagens foram geradas por computador. Já os personagens, desenvolvidos em animação tradicional, foram inseridos sobre o plano de fundo em CGI.

Alguns anos depois, A Bela e a Fera (1992) foi o primeiro filme de animação da Disney a usar fundos CGI 3D em movimento, totalmente renderizados e texturizados em combinação com a animação tradicional dos personagens. O mesmo recurso ainda pode ser visto Aladdin (1992), outro grande sucesso do estúdio.

Mas, então, por que Toy Story é amplamente reconhecido como o pioneiro na técnica?

A explicação é simples: além de trazer uma narrativa inspiradora sobre amizade, união e apoio incondicional, a história na qual os brinquedos ganham vida revolucionou a indústria cinematográfica por ser a primeira animação desenvolvida inteiramente por computação gráfica. Sim, muitos já utilizavam a técnica, mas nunca havia se criado um longa-metragem 100% animado por CGI.

O script fracassado de Toy Story

Rex, Slinky, Sr. Cabeça de Batata e o Xerife Woody são apenas algumas das figuras apresentadas em Toy Story que, até hoje, exercem verdadeiro fascínio sobre crianças e adultos. Quem nunca se rendeu à magia de imaginar que seus brinquedos preferidos tivessem personalidades próprias, e fossem capazes de se aventurar para salvar o dia?

A premissa do longa é realmente encantadora, mas, inicialmente, o projeto seria bastante diferente. O primeiro esboço de roteiro, feito em 1991, aproveitaria Tinny, estrela de um outro filme da Pixar, chamado Tin Toy (1988).

O curta-metragem acima (que traz um bebê BASTANTE assustador como um de seus protagonistas) serviu como inspiração para Toy Story e, a princípio, Tinny dividiria a tela com uma versão muito diferente de Woody.

A arte conceitual da dupla e a aparição de Tinny em Toy Story 2 (1999) podem ser vistas na imagem abaixo:

O curta-metragem acima (que traz um bebê BASTANTE assustador como um de seus protagonistas) serviu como inspiração para Toy Story e, a princípio, Tinny dividiria a tela com uma versão muito diferente de Woody.

A arte conceitual da dupla e a aparição de Tinny em Toy Story 2 (1999) podem ser vistas na imagem abaixo:

Arte conceitual e a aparição de Tinny em Toy Story 2 - Ingresso.com - Ingresso.com
Arte conceitual e a aparição de Tinny em Toy Story 2
Imagem: Ingresso.com

O longa contaria a história do pequeno brinquedo de lata, revelando que, após ser esquecido em um posto de gasolina por um menino que acabara de ganhá-lo do pai, ele seria achado por um colecionador de bugigangas.

Entre os itens de seu novo dono estaria Woody, um boneco de ventríloquo. Os dois brinquedos lutariam para enfrentar o medo de serem superados pelas crianças, afinal, nenhum dos dois era exatamente popular entre a garotada dos anos 90: eles eram brinquedos ultrapassados.

E foi pensando nessa característica obsoleta que os produtores decidiram cortar Tinny do longa e adaptar o boneco Woody, para que ele se tornasse mais atrativo ao público infantil.

Um licenciamento negado, um astronauta e uma personalidade forte

Além de transformar o visual e a personalidade de Woody, os produtores da Pixar decidiram mudar um pouco os rumos da história. Anteriormente, os protagonistas iriam parar em uma escola de jardim de infância na conclusão do filme, entendendo que suas preocupações sobre o esquecimento estavam resolvidas, pois sempre encontrariam novas crianças para brincar.

A ideia foi adaptada em outros longas da franquia, mas, para o filme de estreia, eles decidiram que o cenário principal seria o quarto e a casa de Andy. Assim, como eles fariam para deixar tudo adequado à década de 90 e aos desejos das crianças da época, dispostas a sair dos cinemas em busca de produtos derivados de Toy Story?

Woody transformou-se em um xerife, afinal, bonecos de ventríloquo estrelavam filmes de terror e a Disney não gostaria de associar o gênero a uma animação tão promissora; sua personalidade também foi moldada: antes mais brincalhão - e até desonesto -, ele se tornou responsável e preocupado, liderando o restante dos personagens.

Mas as mudanças de Woody não eram o suficiente: ele precisava de um parceiro à altura. No livro The Pixar Touch: The Making of a Company, escrito por David A. Price, descobrimos que demorou até que Tinny, sua dupla antiquada, fosse substituída pelo popular Buzz Lightyear.

John Lasseter, diretor de Toy Story e um dos principais nomes da Pixar, queria que o brinquedo fosse um G.I Joe, boneco que ele mesmo era fã em sua infância, na década de 60. De acordo com o psicólogo Keith Sawyer, em seu livro Zig Zag: The Surprising Path to Greater Creativity, a Pixar chegou a entrar em contato com a Hasbro, que negou os direitos dos G.I Joe ao estúdio iniciante.

Os pesquisadores afirmam que o parceiro de Woody já foi um guarda florestal egocêntrico e, até mesmo depois de ser definido como um patrulheiro espacial, ainda era bem diferente da versão que conhecemos.

Billy Crystal foi a primeira voz a ser considerada para o personagem, que teria uma personalidade extremamente forte e arrogante. O ator, no entanto, não pôde participar do projeto, e Tim Allen assumiu o seu posto. Com a mudança, surgiu um novo problema: os diálogos pedantes de Buzz não combinavam com a essência de seu novo intérprete:

"A Pixar precisou reescrever cada linha que Buzz Lightyear dizia, e reconceber completamente toda a sua personalidade", acrescenta Sawyer.

O psicólogo acredita que a longa estrada até o surgimento de Toy Story explica o seu sucesso. Para ele, o fato de a produção e seus personagens serem tão bem-sucedidos se deve ao processo criativo errante que enfrentaram. As ideias mudavam constantemente e, como as pessoas estavam receptivas e abertas, essas iterações, nas quais os personagens se transformavam sem parar, aconteceram naturalmente - e foram cruciais para que os produtores chegassem à fórmula perfeita para o sucesso.

Buzz Aldrin, o segundo astronauta a pisar na lua - Ingresso.com - Ingresso.com
Buzz Aldrin, o segundo astronauta a pisar na lua
Imagem: Ingresso.com

A verdade é que Buzz foi um dos últimos personagens a tomar a forma que conhecemos, e até sua alcunha foi decidida tardiamente. Procurando nomes únicos e marcantes, o astronauta Buzz Aldrin, segundo homem a pisar na lua, foi o homenageado no batismo do personagem.

Jamais saberemos como o filme teria se saído nos cinemas e no imaginário das crianças, caso as primeiras ideias sobre Buzz, Woody e toda a turma, tivessem saído do papel. A criação de Buzz, além de ajudar a consolidar a Pixar no mercado (e propiciar parcerias milionárias entre fabricantes de brinquedos e o estúdio logo depois), conquistou crianças, jovens e adultos, que acompanharam os desdobramentos de sua história em curtas, séries, jogos eletrônicos e tantos outros derivados da franquia.

A complexidade do personagem é tão intensa e instigante que, na próxima quinta-feira (16), a saga do homem cuja trajetória originou o brinquedo chegará aos cinemas. Lightyear é uma aventura que apresenta o surgimento do herói, o lendário patrulheiro espacial que impactou todas as gerações.

O elenco de dublagem original da animação conta com Chris Evans dando voz ao Buzz, além de Keke Palmer, Dale Soules, Taika Waititi, Peter Sohn, Uzo Aduba, James Brolin, Mary McDonald-Lewis, Efren Ramirez e Isiah Whitlock Jr.

No Brasil, o ator e apresentador Marcos Mion será a voz oficial do protagonista.

Lightyear é dirigido por Angus MacLane, que propõe um mergulho profundo em questões sobre a vida do homem sob o capacete, responsáveis por torná-lo um ser humano extremamente sério e regrado. O longa chega aos cinemas nesta quinta-feira - garanta o seu ingresso através do nosso site ou app.