Klara Castanho: O que se sabe sobre caso de doação de bebê fruto de estupro

A atriz Klara Castanho publicou neste sábado (25) uma carta aberta (leia a íntegra) em que revelou que entregou para a adoção um bebê fruto de um estupro que sofreu. O caso movimentou as redes sociais e a classe artística, com dezenas de manifestações em apoio à jovem de 21 anos.

O assunto passou a ganhar notoriedade após a apresentadora Antonia Fontenelle dizer em uma live que sabia da história de "uma atriz global de 21 anos [que] teria engravidado e doado a criança para adoção". Conforme a comunicadora, a artista sequer "quis olhar para o rosto da criança".

Embora não tenha citado nominalmente Klara Castanho, Fontenelle deu várias dicas — idade, o fato de já ter trabalhado na TV Globo e de atualmente fazer parte do elenco de uma série da Netflix — e não demorou para que os internautas associassem a "atriz global" à artista.

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Imediatamente, Klara Castanho se tornou trending topic no Twitter e passou a ser alvo de críticas e ataques, com dezenas de internautas a chamando de "irresponsável" sem sequer terem ainda a confirmação da história, tampouco cientes do que de fato aconteceu.

Com tanto julgamento, a atriz veio a público na noite de sábado, quando confirmou que de fato fez a doação de um bebê, que foi gerado a partir de uma violência sexual sofrida.

O que se sabe sobre o caso

Em um longo desabafo, Klara Castanho destacou que, embora seja uma pessoa pública, sempre prezou por manter sua vida afetiva longe dos holofotes. Entretanto, após ter a privacidade violada por terceiros, decidiu explicar o que aconteceu.

Conforme detalhou, ela foi estuprada e optou por não denunciar o caso às autoridades por sentir "vergonha e culpa", além de acreditar que, ao "fingir" que o episódio não aconteceu, "talvez esquecesse".

Na ocasião em que foi abusada, a atriz diz que tomou pílula do dia seguinte e realizou alguns exames clínicos. Passado algum tempo, se sentiu mal e foi ao médico. Foi então que descobriu a gravidez e quando teve início um novo suplício, não apenas por ter que carregar o fruto de uma violência sexual, mas também por ter sido destratada pelo profissional que a atendeu, que não foi empático com sua dor, mesmo após revelar que foi estuprada.

Incapaz de criar um filho fruto de um estupro, Klara Castanho optou pela doação do bebê que gerou e fez todos os procedimentos legais, conforme ordena as leis brasileiras para esse tipo de situação. Entretanto, quando teve a criança, ela diz ter sido ameaçada por uma enfermeira, que quis levar o caso a público por meio da imprensa.

Procurada por Splash, a assessoria de imprensa do hospital em que a atriz foi atendida não se manifestou até a publicação desta nota.

O Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) afirmou que já determinou a apuração dos fatos e prestou solidariedade à atriz de 21 anos.

"O princípio basilar da Enfermagem é a confiança. Portanto, o profissional de saúde que viola a privacidade do paciente em qualquer circunstância comete crime e atenta eticamente contra a profissão, conforme prevê o Art. 82 do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Casos assim devem ser rigorosamente punidos, para que não mais se repitam", disse o órgão em nota.

Castanho diz ainda que não demorou para que jornalistas passassem a procurá-la, ainda no hospital, para questionar sobre a gravidez e a adoção, mas, ao explicar para eles que o filho foi fruto de uma violência, os repórteres se comprometeram em não publicar matéria a respeito. Até que o assunto ganhou força nas redes sociais.

"A verdade é dura, mas essa é a história real. Essa é a dor que me dilacera. No momento, eu estou amparada pela minha família e cuidando da minha saúde mental e física. Minha história se tornar pública não foi um desejo meu, mas espero que, ao menos, tudo o que me aconteceu sirva para que mulheres e meninas não se sintam culpadas ou envergonhadas pelas violências que elas sofram. Entregar uma criança em adoção não é um crime, é um ato supremo de cuidado. Eu vou tentar me reconstruir, e conto com a compreensão de vocês para me ajudar a manter a privacidade que o momento exige. Com carinho, Klara Castanho."

Participação de Leo Dias e Antonia Fontenelle

Embora o assunto tenha repercutido após a live de Antonia Fontenelle, o jornalista Leo Dias já havia abordado o tema durante participação no programa "The Noite", comandado por Danilo Gentili, no SBT, que foi ao ar em 16 de junho.

No talk show, Leo contou que sabia de uma informação "inacreditável" sobre uma atriz e que a "conta" dela iria chegar, pois o caso "envolve vidas". Sem citar nomes, o jornalista se referia à Klara Castanho.

"Vivi um dilema recentemente, muito recente, esse mês. É coisa inacreditável, coisa da sociedade se questionar muitas vezes, mas envolve uma atriz... É muito pesado", disse Leo no SBT.

Após a publicação da carta de Klara Castanho, Dias postou, no Instagram, um texto confirmando que sabia do caso, mas optou por não divulgá-lo. O jornalista cita palavras como "fofoca" e "ética" e classificou o episódio como um "oportunidade para repensar o sofrimento sentido por mães".

Foi também por meio do Instagram que Antonia Fontenelle voltou a comentar o assunto por vários motivos: rebater as críticas a ela dirigidas, negar que tenha sido a responsável por divulgar a história — e culpar Leo Dias por isso — e, por último, para acusar Klara de ter cometido crime de "abandono de incapaz". A apresentadora está filiada a um partido político e almeja disputar cargos públicos nas eleições de 2022.

Apesar da apresentadora falar em abandono de incapaz, a "entrega voluntária para adoção" é um dispositivo legal, previsto na Lei 13.509 de 2017, a chamada "Lei da Adoção". O texto altera o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e dá as diretrizes para amparo de gestantes ou mães que queiram entregar crianças para adoção formal e legalizada por meio da Justiça da Infância e da Juventude

"Parir uma criança e não querer ver e mandar desovar para o acaso é crime, sim, só acha bonitinho essa história de adoção quem nunca foi em um abrigo, ademais quando se trata de uma criança negra. O nome disso é abandono de incapaz", escreveu.

Apesar da apresentadora falar em abandono de incapaz, a "entrega voluntária para adoção" é um dispositivo legal, previsto na Lei 13.509 de 2017, a chamada "Lei da Adoção". O texto altera o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e dá as diretrizes para amparo de gestantes ou mães que queiram entregar crianças para adoção formal e legalizada por meio da Justiça da Infância e Juventude.

Procurada por Splash via WhatsApp, Antonia Fontenelle respondeu da seguinte forma: "E o que eu tenho com isso? Você me viu em algum momento citando o nome dela?"

Pai diz apoiar Klara

Em meio a toda a repercussão do caso na internet e na imprensa, o pai de Klara Castanho, Cláudio Castanho, se manifestou em uma demonstração de apoio e solidariedade à filha.

Nos stories de seu perfil no Instagram, Claudio compartilhou uma imagem em que aparece na praia com Klara agarrada às suas costas, enquanto segura seu outro filho, Lucas Castanho, o caçula da família.

Na legenda, ele escreveu: "Estarei com vocês até o fim da minha vida!".

Além do pai da atriz, diversas famosas estão usando as redes sociais para oferecer solidariedade à artista e defender o direito à privacidade.