'Sou um ser humano em construção e um fd* em desconstrução', diz João Gordo
João Gordo, vocalista do Ratos de Porão, 58 anos, confessou que tem mudado muito seu posicionamento como ser humano nos últimos anos. Segundo o cantor, atualmente, ele é uma pessoa em "construção" e "um filho da pu** em desconstrução".
"Estou tentando sempre me tornar uma pessoa melhor. Há uns 20 anos, eu era um bolsominion! Eu era escroto, homofóbico... Hoje sou um ser humano em construção e um filho da p* em desconstrução", disse ele, em entrevista ao jornal O Globo, ao comentar sobre seus antigos programas no canal MTV, como "Fundão MTV" ("um jogo de humilhação idiota") e o "Gordo Freak Show".
"Esse tinha umas torturas... mas quando as bandas gringas vinham ao Brasil, eu levava ao programa. Aquele Gordo hoje é diferente, os tempos mudaram", queixou-se ele.
Embora lamente quando fala como era sua personalidade no passado, na semana passada, o músico e apresentador viu de perto o carinho de muitas pessoas com ele após publicar uma foto em que aparece fazendo nebulização com um oxímetro no dedo.
"Acho que eu sou muito mais querido do que odiado. Fico feliz de o pessoal se preocupar comigo, mas não é para todo mundo ficar passando a mão na cabeça do gordinho, para ficar com dó de mim. Tudo isso aconteceu é porque eu sou um retardado!", disse ele.
Constantemente com problemas de saúde, o cantor parou de fumar há dois anos e há três foi diagnosticado com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, no qual vive uma rotina de inalações de corticoides e de ingestão de antibióticos.
"De vez em quando dou uns bong nuns baseados, mas não é como era antes. Fiquei quatro meses na UTI, foram seis internações. Eu já estava na pandemia antes de todo mundo. Estou bem e tal, mas se eu ando até a esquina já estou morrendo. Agora no inverno fui fazer uns shows no Sul, voltei gripadão e comecei a sentir falta de ar de novo", afirmou o músico.
Em razão da situação pulmonar, no fim de semana, João precisou cancelar um show que faria com o Asteroides Trio: um tributo acústico, em homenagem aos 40 anos dos Ratos de Porão, que neste ano lançou o 13º álbum, "Necropolítica", e tem uma agenda de shows programados.
Além dos problemas pulmonares, o cantor vem de uma série de outras enfermidades. Na pandemia, ele teve depressão e ganhou 20 quilos que afetaram a coluna e os joelhos.
"Minha luta contra a obesidade vem desde quando era criança. Já passei por operação [de redução] de estômago e outras ações cirúrgicas. A última que eu fiz se chama plasma de argônio, que cria uma espécie de calo na boca do estômago, e emagreci dez quilos. Mas, por um passe de mágica, voltei a comer igual antes e engordei tudo de novo", explicou.
Na entrevista, o músico contou que, na pandemia, se juntou separadamente aos outros integrantes dos Ratos de Porão para compor. "Quando vi, tinha 12 músicas para eu fazer a letra, e eu pensei: 'Caralho, tem a maior distopia, negacionismo, fascismo, nazismo e racismo em torno de mim!', e o disco ficou parecendo uma opereta, cada música tem a ver com a outra, e por isso se chama 'Necropolítica'. Ele saiu e chocou muita gente, mas está rolando, e isso é o principal", disse.
João acredita que algumas faixas retratam a crônica política dos tempos, como em "Alerta antifascista", "Passa pano pra elite", "Bostanágua" e "Guilhotinado em Cristo".
"Faço parte do punk, do hardcore... e o hardcore é isso. Cada disco dos Ratos de Porão reflete uma época da história do Brasil. Já vi professor dando aula com letra minha", se orgulha o cantor.
Ele continuou e disse: "O rock nacional tem alguns, mas isso vem mais do metal, um estilo em que os caras eram meio isentões. O metal é fascista e é racista, tem uns poucos no meio que são conscientizados", finalizou.
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