Como a família de Margarida Bonetti reagiu a 'A Mulher da Casa Abandonada'?
Assunto do momento, o podcast "A Mulher da Casa Abandonada" veio parar hoje na Bienal do Livro de São Paulo. Chico Felitti, criador e apresentador do programa do jornal Folha de S. Paulo, reuniu uma multidão junto com Marcela Ceribelli em uma gravação ao vivo do "Bom Dia, Obvious" no estande do Submarino.
Em um papo exclusivo com Splash logo após a gravação, Chico Felitti falou um pouco mais sobre sua relação com Margarida Bonetti e com a família dela. O jornalista está em contato direto com um parente de primeiro grau da principal personagem do podcast e contou que falou com eles pela última vez há três dias, depois que a história explodiu no TikTok, em outras redes sociais e até na televisão.
"Felizes eles não estão, certamente. Tenho interlocução com uma pessoa específica, mas é um parente de primeiro grau. Eles estão assustados com tudo o que está acontecendo. Mas temos uma relação cordial, temos um diálogo aberto", contou Chico, que não sofreu nenhuma censura em seu conteúdo por parte da família.
"Eles não pediram para tirar nada, mudança de nenhuma informação, não pediram errata de nada. Só me ligaram para saber o que estava acontecendo. Foi uma conversa super civilizada. Entenderam, mas tem uma parte da televisão que eles estão começando a se preocupar", revela o autor do podcast.
Programas de TV chegaram a enviar equipes para a frente da mansão em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo. Chico critica a postura que algumas emissoras estão tomando em relação ao caso. "Fizeram uma re encenação do caso com atores e atrizes. Daí acho que talvez já fuja à compreensão deles e à minha também."
A casa abandonada de Margarida Bonetti
Um boom inesperado
Chico Felitti atribui ao TikTok o boom recente do podcast, que estreou em 8 de junho, mas só chegou com força às redes sociais no dia 30, um dia depois da estreia do quarto episódio, chamado "Uma Mulher e um Homem Livres". Do app chinês aos Instagrams de fofoca, "A Mulher da Casa Abandonada" virou assunto popular.
"Tem um gráfico disso. Um dia depois que foi ao ar o episódio, o gráfico sobe. Foi uma tiktoker de crime que fez um vídeo em frente à casa. Esse vídeo tem mais de um milhão de likes. Comecei a receber mensagens de amigos dizendo que as filhas e filhos deles adolescentes estavam indo para a casa. Foi aí que mudou completamente."
O interesse em torno do podcast não incomoda Chico, pelo contrário. Mas causa uma preocupação no autor: que o tema principal, a escravidão moderna, seja discutido e levado a sério.
"Óbvio que a gente quer chegar ao máximo de gente possível, não vou mentir. A minha preocupação é que a mensagem fique clara. Tem um assunto ali sendo discutido. Que não seja a estética pela estética. O esvaziamento daquilo. Estamos falando de uma coisa que ainda acontece muito no Brasil e que a gente pode mudar. Tem que denunciar."
Segundo o autor, desde que o quinto episódio foi ao ar, na última quarta-feira (6), ele foi informado pela Secretaria Especial da Previdência e Trabalho que mais de mil denúncias foram feitas. "Não digo que foi só o podcast. Mas alguma coisa há de ser. Porque foi muito atípico." Nesse episódio específico, Chico divulga o canal de denúncias para situações exploratórias de trabalho.
Ainda assim, o autor decidiu junto com o jornal Folha de S. Paulo inserir um aviso ao público antes dos episódios, já que a casa passou a ser alvo de visitas, pichações e situações de ódio coletivo. "É para lembrar que as pessoas não podem fazer nada violento. Não se responde violência com violência. Um crime não justifica outro. Vai começar a ter em todos os episódios esse aviso."
Vai virar série?
Com três livros publicados ("Ricardo e Vânia", "A Casa" e "Elke: Mulher Maravilha"), Chico Felitti já diz ter recebido convites para transformar "A Mulher da Casa Abandonada" em livro. Mesmo tendo 280 páginas escritas que foram base para o roteiro do podcast, o jornalista não pretende publicá-las.
"A editora veio me perguntar se interessava. Mas eu acho tão sonoro, a voz dela, o rugido da serra elétrica. Não vejo como. Estou ficando velho e começando a aprender que algumas coisas são o que elas tem que ser. 'A Mulher da Casa Abandonada' a mídia certa é o podcast."
O autor, no entanto, não descarta transformar o podcast em série ou em um documentário. "Série tem bastante gente interessada. Já fui procurado por Deus e o mundo. Todo mundo que você possa pensar. Eu combinei com a Folha e também acho justo que o podcast vá ao ar inteiro primeiro. Mas tudo indica que vai rolar."
72 horas acampado para entrevista
"A Mulher da Casa Abandonada" terá sete episódios. O último deles, um episódio extra, será uma entrevista de cerca de 2 horas que Chico fez com Margarida Bonetti, a brasileira procurada pelo FBI. Para conseguir o feito, o jornalista chegou a acampar por 72 horas em frente à mansão em Higienópolis.
"A entrevista começou pessoalmente, mas ele meio que foge de mim. Fiquei lá para conseguir o outro lado e foi horrível. Foram 72 horas acampado, dormindo em frente à casa", conta Chico sobre sua saga para conseguir falar com a personagem principal de sua reportagem.
"Quando finalmente consigo pegar ela, ela fala 'eu vou falar com você, só vou escovar o dente'. Some e fica horas sem aparecer. Suspeito que ela tenha fugido ou desistido de mim. Até lá eu já tinha falado que era um documentário para a Folha de S. Paulo, que estava gravando e ela respondeu", continua.
"Umas horas depois ela me liga e me dá uma entrevista de duas horas." No papo com o público da Bienal, Chico disse que as coisas que a mulher falou na entrevista foram tão surreais que o marido dele, o roteirista Renan Bianco, chegou a desconfiar que o jornalista estava falando com uma atriz ao telefone.
"Ela disse o inesperado. O que você não acha que ela vai dizer, é o que ela vai dizer a ponto de eu ficar exasperado na minha casa.
Eu não acreditei no momento e ainda não acredito quando ouço. Parece um filme. Em vez de tentar apagar o incêndio, ela truca e pede 12. É meio inacreditável."
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