Tabet: Problema do Leo Lins é que piada era ruim; limite do humor é a lei
O ator Antonio Tabet participou do UOL Entrevista nesta segunda-feira (18) e comentou sobre humor e política. Ele explicou que atualmente é mais difícil fazer comédia por causa do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), que ele considera um concorrente. E também analisou a polêmica recente envolvendo o humorista Leo Lins, demitido por fazer piada sobre hidrocefalia e Teleton.
"O limite do humor só pode ser um, a lei. O humor precisa ser engraçado. O problema do Leo Lins não é falar da hidrocefalia. Ele pode fazer piada com hidrocefalia. A piada só precisa ser boa. Eu achei uma merda, mas ele tem o direito de contar. E o SBT tem o direito de mandar ele embora. Imagina, ele fez piada falando de um produto importante, o Teleton. O empregador está no direito de mandar embora", comentou Tabet.
O ator entende que a piada de Leo Lins é diferente de casos de preconceito. "No caso da piada do Leo Lins, fazer piada é só mau gosto. Ele não está levando perigo. Faz desconforto para família, mas não é pela piada que alguém vai bater. É diferente da homofobia. Dos males do Brasil, a piada do Leo Lins está lá embaixo".
Ele também explicou que é contra a Justiça intervir nesses casos e defendeu a liberdade de expressão no humor. Caso contrário, teme que outras piadas sejam censuradas.
"Eu não faria piada com criança com hidrocefalia. Não gosto, não consumo, não penso nisso. Mas ele pensou. O problema é que esse argumento do tipo 'não pode' serve para o outro lado também. Amanhã um cara vai fazer piada com igreja evangélica e vai chegar um Feliciano dizendo que com isso não se brinca, é sagrado, não pode. Aí é problema. Tem que ter liberdade de expressão", defendeu Tabet.
Perguntado sobre as diferenças de fazer humor nos governos do PT e na atual gestão de Bolsonaro, Tabet disse que vê o presidente como um concorrente.
"Tenho para mim que fazer humor é sempre oposição. A diferença agora é que você tem no governo um concorrente na questão do absurdo. Uma ferramenta do humor é o exagero. É adequar e trazer elementos surreais para que o exagero inflame a piada. Já aconteceu inúmeras vezes da gente pensar em uma esquete com a situação e nós mesmos dizermos que isso nunca aconteceria. E passar três dias e isso acontecer", iniciou Tabet.
Na sequência ele citou um exemplo de quando isso aconteceu. "Teve uma época que estava começando a rolar indícios de que haveria pessoas simpáticas ao nazismo no governo. A gente pensou em uma esquete que um ministro seria um nazista típico, com uniforme, falando com sotaque alemão. Seria um nazista como secretário de culturas do Nordeste. A gente pensou que seria um pouco demais. A gente desistiu, passou dois dias e foi lá o Roberto Alvim e replicou o discurso nazista com trilha sonora. É um governo tosco. Seria cômico se não fosse absurdamente trágico", contou Tabet.
O ator também analisou a situação do humor na Rede Globo, que enfrenta dificuldades atualmente. Ele elencou diversos erros da emissora, apesar de ressaltar que não está dentro da emissora para saber detalhes.
"Acho que a Globo passou por problemas de avaliação de mercado há um tempo. A Globo demorou para entender a internet. Passou muito tempo vendo internet e o YouTube como concorrente e não como um braço que ela poderia esticar e aproveitar. Ela demorou para acordar para isso. A Globo podia ter comprado a Netflix. Hoje poderia ter a Globoplay com catálogo Netflix", comentou Tabet.
Outro problema da Globo, segundo Tabet, foi abandonar o público infantil. "Você tem que se preocupar com quem virá a gostar de você em algum momento. Eu cresci vendo desenho animado na Globo. Você forma gerações com esse hábito. A Globo simplesmente jogou fora o público infantil dela. Tirou desenho animado, focou na dona de casa e ajudou a criar geração que passou a assistir Galinha Pintadinha e irmãos Felipe Neto e Lucas Neto nos tablets. Quando esses problemas se juntaram, voce vê a conta diminuindo".
Por fim, em um problema mais específico do humor, Tabet lembrou da polêmica entre Marcius Melhem e Dani Calabresa. "Para terminar houve questão com o Marcius Melhem, que foi um meteoro. Quem trabalhava com humor sabia que era programa caro. Apesar de ter pouco espaço de grade, tinha voluma de produção alto. Mas a Globo mantém excelentes atores e roteiristas. Infelizmente não publica nada e hoje em dia e aposta produçoes de fora de lá".
Política
Tabet atualmente faz parte do canal MyNews, sobre política, e deixou claro qual será a posição dele na eleição presidencial. Ele disse que cresceu em um ambiente "brizolista" e portanto pretende votar em Ciro Gomes, do PDT, mesmo partido de Leonel Brizola. Mas o ator cogita votar em Lula (PT) no primeiro turno.
"Nunca votei no PT, no Lula, mas dessa vez faço questão de votar em qualquer cenário que possa tirar o Bolsonaro do poder da maneira mais rápida possível. Meu posicionamento está muito semelhante ao do Fábio Porchat nesse caso: Pretendo votar no Ciro Gomes, é minha primeira opção de voto. Mas se chegar na véspera e houver chance do Bolsonaro ser derrotado no primeiro turno, vou votar no Lula", prometeu.
Bolsonaro tem questionado as urnas eletrônicas com frequência, além de sempre criticar o STF. Questionado se isso gera um temor de golpe nas eleições, Tabet descartou.
"Acredito que ele é um imbecil e não tem condição de dar golpe. Qualquer pessoa que estudou história sabe que, para dar golpe, você precisa ter um mínimo de inteligência e de habilidade politica. Ele não tem. Ele tem milícias por aí. Ele vai dar golpe baseado em que? Ele vai dizer que a mesma eleição que reelegerá o Arthur Lira não valeu? Como vai lidar com centrão, com o pobre? E o 'day after' do golpe? Eles são tão ruins, tão ineptos. São trapalhões e não vão conseguir dar golpe. Até pensei em uma esquete no Porta dos Fundos que é isso: Demos o golpe e agora? Faz o que? O que eu vou fazer? Estou com um problemão agora, como vai resolver?", ironizou o humorista.
Veja a entrevista completa:
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