Ex-MST, Debora Rodrigues defende reforma agrária e votará em Bolsonaro
O ano era 1997 e a novela "O Rei do Gado" batia recordes de audiência na TV aberta. Patrícia Pillar interpretava uma sem-terra na trama, até que descobriram uma militante tão bela quanto a atriz da Globo fora das telas. Era Debora Rodrigues.
Na época, com 29 anos, a paranaense era mãe de dois filhos e buscou no MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) uma oportunidade de conquistar um pedaço de terra para plantar e garantir o sustento da família. Filha de caminhoneiro, ela também dirigia caminhões e trabalhava como motorista do movimento.
"Eu estava no MST por necessidade, tinha dois filhos para criar. Já tinha procurado emprego em tudo quanto é estado e não conseguia me firmar porque não ganhava o suficiente. Até que decidi ficar em Teodoro Sampaio (SP), entrar no MST, conseguir meu lote, plantar e colher", conta a atual empresária e piloto de caminhão em entrevista a Splash.
Por seu passado, Debora poderia até ser ligada à esquerda, o que ela rebate. "Muita gente diz que eu era petista. Nunca fui. Pode procurar onde quiser. Na época em que eu entrei, o movimento era contra se aliar com algum partido em particular. Tinha um alinhamento com as igrejas, com assistencialismo, mas eles não queriam de forma alguma ter compromisso com partido político."
Segundo a ex-MST, o movimento mudou bastante depois que ela saiu para aproveitar a fama conquistada após ser capa da Playboy, em 1997. "Depois que o movimento foi mudando. Lógico que sempre tiveram simpatia [pela esquerda], mas nunca quiseram uma aliança. Era proibido inclusive se candidatar."
Filiação e apoio à reforma agrária
Apoiadora de Jair Bolsonaro (PL), Debora votou no atual presidente em 2018 e não pretende mudar seu voto neste ano. "Eu continuo Bolsonaro. Não tem como eu votar numa pessoa que foi condenada por corrupção. Foi tudo comprovado, ele [Lula] não foi inocentado, ao contrário do que muita gente diz."
Lula, atual candidato do PT à presidência e principal adversário de Bolsonaro, ficou preso durante 19 meses e ganhou liberdade em novembro de 2019 quando o STF declarou inconstitucional a prisão de condenados em 2ª instância, caso do ex-presidente.
Apesar de as atuais lideranças do MST acusarem Jair Bolsonaro de desestruturar a reforma agrária, Debora diz que continua a favor da melhor distribuição de terras produtivas no Brasil. "A reforma agrária na época que começamos era um assunto sério. Depois virou uma baderna. Continuo achando que a reforma agrária justa, feita corretamente, seria bom para o país."
Ela vê potencial em terras ainda não exploradas. "Nós iríamos produzir mais, já que infelizmente ainda tem muita terra improdutiva. Em um país onde você joga uma semente em cima da terra e ela brota, não podemos ficar sem plantar."
Uma reforma agrária bem planejada seria maravilhosa para o país. Se hoje nós já somos o celeiro do mundo, com isso nós seríamos muito mais. Debora Rodrigues
Consciente de pautas relevantes para o país, a empresária chegou a ser convidada para se filiar a um partido e aceitou. Sem revelar qual é sigla, Debora diz que ainda não pretende se candidatar para algum cargo político.
"Esse ano, me filiei por uma questão de amizade, me pediram. Eles querem que saia candidata, mas não sei. Não é algo que tenha vontade de fazer porque sou muito encrenqueira."
Com a polarização cada vez mais acirrada com a proximidade das eleições, em outubro, a ex-MST diz temer por sua família. "Não sei até que ponto seria saudável." Porém, caso fosse convidada por seu candidato a discutir a reforma agrária, estaria disposta a ajudar.
"É óbvio que o que eu puder levar, sugerir, se eu tiver oportunidade, com certeza vou fazer. Eu não sei ficar de boca fechada. Já sobre ser candidata, sinceramente, não é uma coisa que eu sonho."
"Não lucrei, mas também não me endividei"
Há 24 anos competindo em corridas de caminhão e casada com o também piloto Renato Martins, Debora entende bastante do meio de transporte mais utilizado para distribuir produtos no Brasil. Afetada diretamente pela alta de combustíveis —no caso, o diesel—, a empresária vê os preços exorbitantes como um problema global, e não de Bolsonaro.
"A alta nos combustíveis prejudica tudo. Alimento, roupa, tudo sobe de preço. Só que a gente tem que ter consciência que isso não é um problema só do Brasil. Tenho amigas nos Estados Unidos que ficam me mandando vídeo da bomba. Aí ficam metendo pau no Brasil. Isso é um problema global", diz.
A tese de Debora é que os empresários do setor querem recuperar os prejuízos causados pela pandemia, doa a quem doer.
"Muitas empresas tiveram prejuízo porque a circulação diminuiu, principalmente em 2020 em que foi mais radical. Eles estão tentando recuperar o tempo perdido. E isso está acontecendo com muitas indústrias. Como tiveram um prejuízo enorme querem descontar aumentando o preço"
Ela, que também é empresária e mais conhecida pela nova geração por ter participado do reality show "Mulheres Ricas", na Band, há dez anos, diz ter mantido sua equipe completa com negociação de salários e não ter tido prejuízos ao longo da pandemia.
"Eu não lucrei, mas eu também não me endividei", conta. Debora credita aos patrocinadores que não a abandonaram, e de alguma forma se reinventaram, o fato denão ficar sem vender na pandemia. Mesmo sem público presente, a Copa Truck, na qual ela corre, foi a primeira categoria a voltar a competir.
"O dia mais triste da minha vida nesse período de pandemia foi nossa primeira corrida. Cheguei no box e quando olhei para a pista, que a arquibancada fica em frente, não tinha público. Sabe aquela cena de filme de fim do mundo em que eles saem dos abrigos e olham e tudo vazio? Me senti assim. Na hora não consegui segurar o choro."
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