Estupro e sexualização no cinema: atriz de 'Beleza Americana' expõe traumas
A atriz Mena Suvari, conhecida por filmes como "American Pie" e "Beleza Americana", sofreu uma série de abusos sexuais e psicológicos desde a adolescência. É o que a artista de 43 anos revelou no livro "The Great Peace: A Memoir" no ano passado.
Desde o lançamento do livro de memórias, ela conta detalhes de uma "vida oculta" que não aparecia à frente das câmeras enquanto era jovem. Sua história envolve estupro aos 12 anos, uso de drogas como refúgio, manipulação de ex para fazer ménage e sexualização do próprio corpo nos filmes.
Ela decidiu escrever o livro para desabafar sobre acontecimentos traumáticos de sua vida. "Eu precisava me expressar. Eu precisava limpar isso para seguir em frente... Eu queria muito deixar isso para lá", destacou a artista, que lançou o livro logo depois de dar à luz ao primeiro filho, Christopher.
"Descobri que estava grávida quando terminei de escrever o livro de memórias", lembrou ela, que intitula o filho nascido em abril de 2021 como um "presente", em entrevista à revista People.
Christopher é fruto do casamento de Suvari com Mike Hope, quem conheceu no set de filmagens de "I'll Be Home For Christmas." em 2016. "Foi a primeira vez que senti que queria ter uma família com alguém", disse ela sobre o marido. Eles se casaram em 2018.
Anteriormente, ela havia casado e se divorciado duas vezes. Esses relacionamentos foram marcados por episódios abusivos.
Violências
Em entrevista ao The Guardian, a atriz comentou que foi estuprada aos 12 anos por um amigo de um dos irmãos mais velhos. O jovem, identificado como KJ, a encorajou a fazer sexo e, depois, falou para colegas da escola que a menina era uma "prostituta".
Mena Suvari lembra que o momento foi traumático e perdeu as esperanças. "Isso me tirou a vida. Acho que foi apenas uma confirmação excessiva de que ninguém iria me salvar, ninguém faria nada por mim", confessou.
"Ele me usou, se divertiu comigo e depois se livrou de mim. Ele me chamou de p*ta. Eu nunca cheguei a ter uma expressão saudável de [sexo]. Minha escolha foi perdida. E isso, compilado com já não se sentindo visto e ouvido, estabeleceu um conceito que eu teria de mim mesmo. Que esse era o meu valor", afirmou à People em 2021.
Pouco tempo depois, aos 16, a artista viveu um relacionamento abusivo no qual era xingada e maltratada. Tyler, com quem ela foi casada dos 17 aos 20 anos, a pressionava para fazer sexo a três com outra mulher na casa do casal. "Lembro de pensar que talvez seja assim que as relações são: os gritos, o nome chamando, o abuso", diz ela. Senti como se tivesse trazido tudo de alguma forma. De KJ para Tyler, foi um processo de destruição", completou.
Para lidar com a situação, começou a usar drogas. "Eu não estava sendo amada. Eu era apenas um corpo, um receptáculo para seus desejos", pontuou ao The Guardian.
"Você perde sua cabeça com a metanfetamina, fica em uma zona diferente. E ela [a droga] era rotulada como a 'pior coisa do mundo', entretanto [prometiam] que ela faria você se sentir capaz de fazer qualquer coisa", relatou, pontuando que, naquele momento de sua vida, ela "sentia que não tinha nada a perder", disse ao programa "Good Morning America" em 2021.
Sexualização no cinema
Em 1999, a atriz estrelou outros dois longas ("American Pie" e "American Virgin") que tinham o mesmo tema em comum: sexo. Ou melhor, jovens dos Estados Unidos curtindo a vida sem muita responsabilidade e buscando sexo. Dois anos depois, ela voltou às telonas com a continuação de "American Pie". Esses trabalhos cravaram o título de "sex symbol" à jovem.
No livro, ela também contou que o ator Kevin Spacey foi "estranho e inquietante" durante o set de filmagem do "Beleza Americana" (1999). Antes da gravação de uma cena, o ator que tinha 40 anos se aproximou da atriz de 19 e a agarrou.
"O Kevin me levou para uma pequena sala com uma cama e se deitou ao meu lado, comigo a olhar para ele, e me agarrou levemente", descreveu a atriz sobre o momento que descreveu como "estranho e inquietante", mas também "calmo e apaziguador", contou em entrevista à revista People durante a época de divulgação do livro.
Em setembro de 2020, o ator Anthony Rapp e um outro homem processaram Kevin Spacey, hoje com 62 anos, alegando que ele os havia abusado sexualmente, em momentos distintos, quando ambos tinham apenas 14 anos.
Virada
Ela também já narrou a dificuldade para encontrar papéis que a agradassem. "Havia um papel principal, normalmente a menina bonita, mas pouco desenvolvida a nível de personalidade. E depois a melhor amiga, que não era bonita, mas era muito mais interessante. Eu queria esse papel, mas eles achavam que não era para mim", recordou em entrevista à revista People.
Cansada de fazer os mesmos papeis, ela saiu de grandes produtoras e passou a fazer filmes independentes. Ela decidiu que só escolheria papéis que a satisfizessem e passou a recusar convites que reforçassem o estigma de "sex symbol".
"Cheguei a um ponto em que as pessoas desistiram, porque me fartei de fazer merdas esquisitas", contou à "Vanity Fair". A partir daí, ela atuou em papeis mais complexos, como uma mulher possuída por demônios e outra viciada em drogas.
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