Manson, pornô de vingança, ódio: quem é 'O Homem Mais Odiado da Internet'
Ele dizia que sua missão era ser profissional em estragar as vidas das pessoas, já chegou a se comparar a Charles Manson e se autoproclamou o "rei do revenge porn". Agora, ele é o foco do novo documentário da Netflix, cujo título já dá a dimensão do tipo de personalidade de Hunter Moore: "O Homem Mais Odiado da Internet".
A série com três episódios carrega o mesmo nome de uma reportagem publicada em novembro de 2012 pela revista Rolling Stone, que dá detalhes sobre a vida e a captura do homem que, de fato, conseguiu conquistar o seu objetivo e estragar vidas de milhares de pessoas.
Mas como?
Em 2010, Hunter Moore criou um site que já chegou a ser muito popular, chamado "Is Anyone Up?" ("Tem alguém acordado?", em tradução livre). A princípio, o objetivo era ser um lugar para interações sociais, mas as coisas começaram a se transformar quando ele publicou uma foto nua de uma garota que estava namorando na época.
Uma semana depois, quando ele voltou para conferir a publicação, a foto já contava com 14 mil acessos, e Moore decidiu adicionar mais fotos de pessoas nuas. Dessa vez, ele buscou fotos de anônimos na internet, mas não publicadas por eles mesmos. Geralmente, eram ex-namorados ou namoradas que compartilhavam as imagens de seus ex-companheiros, sem autorização.
A prática, então, começou a se popularizar entre os usuários do site. Quando uma nova foto surgia, ela costumava vir acompanhada do perfil da pessoa em questão nas redes sociais e informações pessoais. Alguns divulgavam até mesmo endereço, profissão, detalhes do local de trabalho e nome e informações de familiares. Isso garantia que a imagem apareceria nos buscadores como o Google e que amigos, colegas e familiares poderiam localizar as imagens.
Com a popularização do site, antes mesmo de o termo "revenge porn" cair no uso, Moore foi ficando mais ambicioso, e começou a hackear computadores pessoais e roubar fotos íntimas de arquivos. Ao longo de 16 meses, o site chegou a ter 350 mil usuários únicos por dia, e até mesmo uma mulher em uma mesa de cirurgia teve suas imagens expostas sem consentimento.
'L.O.L'
Quando as pessoas enviavam e-mails ou ordens judiciais pedindo para que as suas imagens fossem retiradas do ar, Moore costumava responder com ironia, geralmente utilizando apenas a sigla "LOL", usada para simbolizar risadas. Ele justificava a publicação das fotos alegando que não tinha responsabilidade por conteúdos gerados por usuários, e defendia que deixá-las no ar era uma questão de liberdade de expressão.
Culto como o de Charles Manson
Ao mesmo tempo em que algumas pessoas tentavam desesperadamente derrubar suas próprias imagens do site, outras se reuniam em volta de Hunter, querendo ter contato com ele e que suas fotos fossem expostas. Essa onda de seguidores, uma espécie de culto, recebeu o nome de "A Família", assim como o culto liderado por Manson na década de 1960.
As coisas começaram a mudar graças a uma mãe disposta a tudo para defender a filha, Kayla. Charlotte Laws, uma mulher da Califórnia, passou dois anos montando um dossiê contra Moore. Ela conversou com cerca de 40 vítimas ao redor do mundo e entregou o documento para o FBI em 2012.
Em entrevista ao tabloide The Sun, Charlotte recorda algumas das passagens de sua investigação sobre Hunter e o site.
"Era um mural de ódio. Havia tentativas de fazer as vítimas cometerem suicídio, chamando as pessoas de gordas e feias. Não eram apenas imagens de jovens de 20 anos. Havia imagens de mulheres com mais de 60 anos, de pessoas com sobrepeso, até mesmo de uma pessoa paraplégica", afirmou.
"O site trazia o pior em homens misóginos. Eu estava assustada de isso acontecer com a minha filha. Ela se trancou no quarto, mas começou a receber ligações estranhas. Até mesmo um ator de filmes pornô, Ron Jeremy, ligou querendo falar sobre negócios."
Foi em janeiro de 2014 que o FBI enfim capturou Hunter Moore, sob acusações de conspiração, acesso não-autorizado a computadores pessoais e roubo de identidade. Ele foi sentenciado a dois anos e seis meses de prisão e teve que pagar uma multa e uma taxa de restituição.
Charlotte finaliza: "Moore usava a linguagem de Charles Manson. Eu via comentários como 'eu vou matar por você, Pai' muitas vezes no site. Precisei colocar cadeados no meu portão e Kayla dormia com barras de metal sob a cama."
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