Sarah Oliveira vê onda de conservadorismo na música: 'MTV faz falta'
Para Sarah Oliveira, não há meias palavras: a antiga MTV Brasil faz falta. Aos 43 anos, a apresentadora que hoje comanda o programa "Minha Canção", na Rádio Eldorado, acredita que o comprometimento que a versão anterior da emissora tinha com a música e com os debates políticos e comportamentais da sociedade não é mais encontrado com tanta facilidade.
Sarah fala a Splash no bojo da recente discussão sobre a música e a política após um debate público sobre a "politização" da banda Rage Against The Machine, bem como de recentes críticas a respeito de artistas que se manifestam politicamente nos palcos.
"É importante que se noticie para as pessoas entenderem, porque não são só as letras", diz a apresentadora. "Quando eu entrevistei o Tom Morello, por exemplo, ele não estava no Rage Against the Machine. Ele estava no Audioslave, que não era uma banda que tinha letras tão fortes quanto o Rage, mas que era contundente", recorda.
A MTV Brasil da qual Sarah Oliveira sente saudade não é o mesmo canal que está no ar atualmente na TV por assinatura. A primeira versão nacional da Music Television (MTV) no Brasil foi lançada em 1990 pelo Grupo Abril em parceria com a MTV Networks, detentora global da marca. O canal ficou no ar, em TV aberta, por 23 anos, com programação voltada ao público jovem, com música e humor como nichos principais.
A partir de outubro de 2013, a MTV se tornou um canal de TV por assinatura, de posse apenas da Paramount Media Networks (nome atual da antiga MTV Networks) e com outra grade de programação, com versões locais e estrangeiras de reality shows, como o "De Férias com o Ex".
Mesmo assim, o espírito da antiga MTV está por aí.
Para ela, um dos exemplos disso é o novo documentário dos Titãs, apresentado por ela e já disponível no streaming Star+. Trata-se de um novo episódio da série "Bios - Vidas que Marcaram a Sua", que celebra os 40 anos da banda com depoimentos inéditos de ex e atuais integrantes do grupo.
"Quanto aos Titãs, quando eles cantam 'Polícia', 'Comida', 'Cabeça Dinossauro', ou mesmo Arnaldo [Antunes], Nando [Reis] e [Paulo] Miklos em seus próprios trabalhos, estão colocando isso [posicionamentos políticos] para fora, transformando em arte."
Sobre a recente polêmica com a banda Rage Against The Machine, Sarah enxerga algo bom no fato de esse tipo de debate ressurgir de tempos em tempos.
"Mesmo nas entrevistas não tinha como fugir, eles só falavam de questões sociais, porque eles são isso, está no âmago. E, às vezes, não é só falar, é uma questão de atitude. O Emicida fala nessa entrevista [para seu programa na rádio] que não é militante, porque ele não aguenta mais ficarem só perguntando de racismo. Então não é só falar, é sobre ter atitude, avalia.
Doc dos titãs
Sarah Oliveira afirma que, quando recebeu o convite para apresentar o documentário sobre os Titãs, "passou um filme" pela cabeça. "Tenho uma relação de afeto muito forte com eles, desde a infância. Primeiro recebi o convite do pessoal do National Geographic, e aí, paralelamente, o pessoal do Titãs ligou falando que queriam muito que eu aceitasse. Então fiquei muito feliz, mas aí também precisei pesquisar, porque os caras são muito importantes para o cenário musical."
Atenta aos debates das redes sociais e a polêmicas que volta e meia ressurgem sobre o lugar de manifestações políticas em shows musicais, Sarah enxerga um conservadorismo no rock atual, mas faz uma ressalva.
"A gente deu de cara com esse conservadorismo nos últimos anos, mas isso não se aplica aos Titãs. Não se aplica a Marina Lima, por exemplo, ou aos Paralamas do Sucesso. Acho que os Titãs são únicos justamente nesse sentido. É um grupo que sempre misturou ousadia, originalidade, punk e poesia", afirma.
"Uma coisa que eu descobri no documentário é a relação deles com o samba. Ali cada um tem uma referência musical, e eu não conhecia a relação do grupo com Clementina de Jesus."
Aí você vê que uma banda de rock que tem respeito pelo fundamento da música preta brasileira não vai se perder no caminho
Sarah Oliveira, jornalista e apresentadora
A falta que a MTV faz
Mesmo que, para ela, bandas como o próprio Titãs mantenham essa chama da música de protesto acesa, o susto que algumas pessoas ainda levam com a mistura entre música e política pode ter relação com a mudança do cenário da televisão.
"Acho que a MTV tinha uma coisa muito legal da cidadania, do jovem aprender a ser um cidadão melhor para a sociedade", ressalta a jornalista que é até hoje lembrada pelo "Disk MTV", pelo "Top 20" e pelas edições do "Luau MTV".
"Isso ajudava muito os músicos! A Pitty também é um exemplo disso, para não falar de Rita Lee, que não continuou na música, mas continuou nos livros e segue como uma influência", continua. "Estou falando de gente de todas as gerações."
"Eu brinco que a MTV faz falta, porque não tem como. Eu acho que era um comprometimento não só com a música, mas com a sociedade. Mas acredito que muitas pessoas conseguiram manter isso, como eu faço com o meu trabalho até hoje", reflete, mencionando o último episódio da 10ª temporada do "Minha Canção".
"Acabei de encerrar a temporada com o Emicida, e tivemos um debate lindo. Fela Kuti já dizia que a música é uma arma. Artistas como Emicida e Titãs usam isso da forma mais preciosa que existe, e é muito emocionante acompanhar aqueles que a sabem usar."
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