Daniella Perez: série trata de tatuagem no pênis e impasse sobre tesoura
Em cinco episódios, "Pacto Brutal - O Assassinato de Daniella Perez", disponível na HBO Max, revisita com olhar apurado um crime que parou o país há 30 anos: o assassinato brutal de Daniella Perez, atriz e filha da escritora Gloria Perez, pelo ator Guilherme de Pádua e pela então esposa dele, Paula Thomaz (que hoje se apresenta como Paula Peixoto).
Baseada nos autos do processo que condenou Guilherme e Paula pelo crime, a série documental vai além de recontar a história que figura no imaginário popular. A produção parte da premissa de eliminar "versões", fazendo prevalecer as conclusões da Justiça sobre o caso — além de discutir antigas questões, como o tipo de arma de fato utilizado no crime.
Em entrevista a Splash, Gloria Perez afirma que o documentário não deixa dúvidas. "Não se trata mais de apresentar versões. É o processo que fala e é só por ele que você pode entender o que aconteceu e por que dois psicopatas foram condenados por homicídio duplamente qualificado".
Dentre os episódios que vêm à tona na série, estão a escalação na verdade acidental de Guilherme de Pádua para a novela "De Corpo e Alma", em um papel escrito para Alexandre Frota, e a saga enfrentada por amigos e familiares, em especial pela mãe Gloria Perez, para elucidar o crime e depois preservar a memória de Daniella.
Punhal
Diferentemente do que foi bastante propagado à época do crime, a Justiça concluiu que a arma usada não foi uma tesoura, mas sim um punhal. A tese da morte a tesouradas foi apresentada pela defesa de Guilherme de Pádua e Paula Thomaz em uma tentativa de mostrar que o assassinato se tratava de algo passional, que aconteceu ao acaso, afinal uma tesoura é um objeto que qualquer um poderia ter consigo no carro ou na bolsa.
Eles terem carregado um punhal até a cena do crime, no entanto, corrobora a tese de que o crime foi premeditado. Além da arma, a adulteração da placa do carro dirigido por Guilherme de Pádua e a emboscada em um posto de gasolina também levaram à conclusão de que os dois planejaram a morte de Daniella Perez.
Tatuagem íntima
Dez dias antes do assassinato de Daniella Perez, Guilherme de Pádua e Paula Thomaz tatuaram juntos o nome um do outro. Até aí, um ato "comum" entre um casal apaixonado, se não fosse um porém: a tatuagem foi feita no pênis do ator e na virilha de sua então esposa.
O documentário mostra rapidamente as imagens — é preciso um espectador bastante atento para conseguir vê-las, logo na sequência de abertura da série, —, e cita diversas vezes que os dois tinham tatuagens íntimas. Inclusive, Guilherme quis mostrar o escrito para os policiais quando foi preso, como forma de "provar seu amor" por Paula.
Ritual
Além da tatuagem, há outros detalhes que podem indicar que o casal de assassinos teria participado de alguma espécie de "ritual". Em nenhum momento o documentário dá a certeza absoluta de que a intenção era ter Daniella Perez como um sacrifício, mas mostra indícios de que poderia se tratar de algo "ritualístico".
"Pacto Brutal" insinua que os dois teriam realmente feito um "pacto" entre eles - sendo a tatuagem uma das maneiras de selá-lo. Uma especialista explica que o fato do crime ter acontecido na última segunda-feira do ano, último dia de lua cheia, dentro de um círculo de mato queimado, com uma mecha de cabelo de Daniella tendo sido arrancada e sua aliança ter sumido, podem sim indicar uma espécie de ritual.
Este "sacrifício" não é atribuído a nenhuma religião, como o documentário faz questão de reforçar diversas vezes ao tratar do assunto.
Versões
Por ser baseado nos autos do processo, a produção pretende derrubar qualquer versão que não seja a verdadeira sobre o crime. Para isso, é traçada uma linha do tempo do que é dito por Guilherme de Pádua, que foi mudando o seu discurso ao longo do processo, diferente de Paula Thomaz, que sempre disse que não estava no local do crime.
O ator começou dizendo que era apaixonado por sua esposa e que nunca teve nenhum tipo de relacionamento com Daniella. Depois, Guilherme chegou a afirmar que a atriz era obcecada por ele, o que deixava Paula com muitos ciúmes. Uma das versões finais afirmava que os colegas de novela mantinham um relacionamento extraconjugal.
O documentário mostra que nunca foi provado nenhum tipo de relação — nem mesmo de amizade — entre os dois.
Frentista
Uma história que foi esmiuçada no documentário foi a longa jornada de Gloria Perez para encontrar frentistas que pudessem testemunhar no caso. A dramaturga recebeu uma ligação anônima dizendo que ela precisava ir até um posto de gasolina próximo à produtora onde a novela era gravada para saber o que realmente tinha acontecido com sua filha. No entanto, ninguém quis falar com ela.
Foram meses tentando encontrar quem eram os frentistas que tinham presenciado a emboscada que Guilherme tinha feito para Daniella. Ao achá-los, a autora enfrentou outro problema: convencê-los a falar com a polícia. Para levá-los a depor, Gloria Perez usou diversos recursos, envolveu políticos e religiosos, fez plantão na frente de residências e chegou até a mostrar as fotos da filha morta a fim de sensibilizar.
Veja quem são os envolvidos no caso Daniella Perez
Alexandre Frota
Guilherme de Pádua conheceu Daniella Perez durante as gravações de "De Corpo e Alma", novela em que ela interpretava Yasmin e ele, Bira. No entanto, o personagem foi inicialmente escrito para ser vivido por Alexandre Frota.
Em "Pacto Brutal", é explicado que o ator estava atuando em "Perigosas Peruas" e o autor Carlos Lombardi não o liberou. Com a negativa, Guilherme de Pádua foi escalado.
Passado
O documentário detalha o passado de Guilherme de Pádua e mostra que antes de aparecer na TV, ele estrelou a peça "Pasolini", onde interpretou o garoto de programa responsável pela morte do célebre diretor italiano.
Ele também participava do show de strip-tease de Eloína dos Leopardos, que acontecia na Galeria Alaska. Guilherme era um dos "leopardos" da artista e costumava aparecer nu nas apresentações que aconteciam para um público composto por mulheres e gays.
Paula
Ainda presa, Paula Thomaz prestou vestibular para direito e passou. Depois de pouco tempo, pediu transferência para outra faculdade. Nesta nova instituição de ensino, a condenada por assassinato teve aula com o desembargador José Muiños Piñeiro, que foi promotor e atuou como acusação no caso de Daniella Perez.
Piñeiro conta que ficou chocado ao reconhecer o nome de Paula em sua lista de presença e, ao final do curso, recebeu um recado da aluna dizendo que tinha adorado as aulas.
Túmulo
Com muito pesar, Gloria Perez conta que o túmulo de Daniella sofreu com vandalismos meses após o crime. "A cada duas semanas, a gente era chamado porque alguém tinha tentado abrir", conta.
Para não ter mais ataques, o corpo da atriz foi transferido para outro lugar. Mesmo com a mudança, novas tentativas de abrir o túmulo aconteceram. "Deixaram um bilhete dando a data, o horário e dizendo que iriam tirar ela dali", relata a autora.
Os restos mortais de Daniella Perez ficaram em um cofre na Santa Casa do Rio de Janeiro por um tempo, até serem transferidos para onde estão hoje, em um local não revelado pela série.
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