Série com Klara e Gianecchini traz duro relato de abuso sem ser explícita

A segunda temporada de "Bom Dia, Verônica" está disponível na Netflix, continuando a história de Verônica Torres (Tainá Müller) depois dos catastróficos eventos ao final do primeiro ano. No entanto, nestes novos episódios, quem ganha a atenção do público é Klara Castanho, que brilha como Angela Carneiro, a filha do controverso missionário Matias Carneiro (Reynaldo Gianecchini).

Os holofotes estão virados para Castanho não apenas por causa da série, mas também em decorrência da denúncia feita pela atriz de ter sofrido um estupro ao final de 2021. Por uma infeliz coincidência do destino, a personagem interpretada pela atriz também é uma vítima de violência sexual.

Ao estrear em 2020, "Bom Dia, Verônica" chamou a atenção pela violência explícita e crueldade presente na série. Para os novos episódios, a produção adotou um tom um pouco mais sutil, deixando as barbaridades nas entrelinhas.

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Por muitas vezes, não é preciso ver um ato para saber que ele aconteceu, e não é porque não vemos que ele é menos impactante. A narrativa insinua tantas violências contra mulheres e casos de abuso de poder que, caso eles aparecessem em cena, talvez causassem até mesmo uma reação negativa do público.

Não é o caso: a nova temporada acerta ao chocar pelo fato em si, sem apelar para a violência gráfica.

Família, religião e abusos se misturam em uma trama construída aos poucos, com as revelações sendo feitas ao longo dos seis episódios. Isso não quer dizer que o ritmo caia, ao contrário: é mérito do roteiro manter a atenção do espectador a todo tempo.

O segundo ano se inicia com Verônica procurando a verdade sobre o esquema de corrupção que envolvia o PM Brandão (Du Moscovis), morto ao final da primeira temporada. Em suas investigações, a ex-escrivã chega até Matias Carneiro, um missionário que oferece cura espiritual a quem o procura. As aparências não são o que parecem e descobre-se que o homem é responsável por diversos crimes.

Se durante o primeiro ano Brandão e a esposa Janete (Camilla Morgado) eram o principal motivo para deixar os espectadores grudado na trama, agora é a dupla Gianecchini e Castanho quem brilha. As cenas entre pai e filhas mostram momentos que deveriam parecer de carinho, mas escondem tensão e medo de Angela.

Desde o primeiro momento em que somos apresentados aos dois, sentimos que há alguma coisa de errado, mas a resposta é dada aos poucos, por meio de detalhes do roteiro e da atuação.

A atuação de Reynaldo Gianecchini como vilão é convincente e assustadora. O ator encontrou o tom exato para transitar entre o religioso bondoso e o psicopata sem escrúpulos. Não dá para negar que, ao assisti-lo em cena, quando coloca a sua "cura" em prática, a imagem que surge à mente é a de João de Deus — famoso "curandeiro" condenado por uma série de crimes sexuais.

Mesmo com uma protagonista forte como Verônica e um antagonista medonho como Matias, é Klara Castanho quem brilha. A atriz de 22 anos interpreta uma adolescente de 16 de uma maneira verdadeira e orgânica — é possível que o espectador até mesmo esqueça que se trata de uma mulher maior de idade. Ela mistura momentos de doçura com desespero com bastante facilidade e faz com que o espectador torça por ela o tempo todo, mesmo quando ela não faz as escolhas certas.

Roteirizado por Raphael Montes e Ilana Casoy, os também responsáveis pelo livro homônimo e pelo primeiro ano da série, o retorno de "Bom Dia, Verônica" conta com diversas reviravoltas e encaminha a história para algo ainda maior que deve chegar em uma possível terceira temporada.