Sem proteção, polícia tenta encaixar obra de arte recuperada em porta-malas
Nesta manhã uma mulher foi presa no Rio de Janeiro suspeita de dar um golpe na própria mãe, uma idosa de 82 anos, e subtrair, por meio de um esquema, cerca de R$ 720 milhões em bens que incluem 16 obras de arte de artistas renomados como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Cícero Dias.
O momento em que a Polícia Civil recupera uma das obras chama atenção. Os agentes tentam colocar um quadro, aparentemente uma aquarela verde que mostra uma figura, dentro de um porta-malas empurrando-o e sem proteção para manuseio.
Em trecho de vídeo compartilhado nas redes sociais, é possível ver que a obra mal cabe no porta-malas, que já tinha outros objetos dentro.
"A Polícia Civil coloca uma obra de arte no porta-malas do carro igualzinho eu faço com minhas compras de supermercado", escreveu Diego Sangermano, diretor de Jornalismo do SBT Rio.
"Imagina a [...] dona dos quadros vendo isso. 'Deixa com os bandidos [...], pelo menos eles não destruíram nada'", brincou o perfil do mestre e doutorando Gustavo Dainezi.
Splash fez contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro para saber o nome e o autor da obra, além do valor em que ela é avaliada, e também a falta de uso de proteção ao manusear a obra. O órgão informou que se recusa a responder quanto ao uso ou não de proteção no manuseio, e que ainda vai divulgar balanço com nome e autoria das obras detalhadas.
Os obras
Entre os itens subtraídos, estão obras da época antropofágica de Tarsila, a mais prestigiada da artista e que chegam a custar mais de R$ 300 milhões. Há também obras de artistas franceses, romenos e russos.
Confira a seguir imagens e a lista das obras.
"O Sono", de Tarsila do Amaral (1928)
A obra de óleo sobre tela é avaliada em R$ 300 milhões, a mais valiosa da coleção. Faz parte da fase antropofágica da artista brasileira, o de maior prestígio de sua carreira. As obras desse período têm cores fortes e trazem temas do imaginário de Tarsila, como sonhos e lembranças da infância.
"Ela tentou descrever o início do sono, o começo da passagem para o estágio de latência", disse Tarsilinha, sobrinha-neta da artista, à revista Veja.
"Sol Poente", de Tarsila do Amaral (1929)
A obra de óleo sobre tela é avaliada em R$ 250 milhões e também faz parte da fase antropofágica de Tarsila. De acordo com Tarsilinha, o quadro foi pintado com base em uma paisagem observada da fazenda de café onde a artista morava, em Itupeva.
O quadro foi encontrada no estrado de uma cama em uma das casas visitadas pela operação policial, onde outras obras também estavam escondidas.
Pont Neuf, de Tarsila do Amaral (1923)
A obra de óleo sobre tela é avaliada em R$ 150 milhões. Foi pintada nos primeiros anos de Tarsila do Amaral como artista, durante sua ida a Paris em 1920 para frequentar a Académie Julien, uma escola privada de pintura e escultura na capital francesa.
A Pont Neuf (ou Ponte Nova, em português) é a mais antiga das pontes que cruzam o Rio Sena. Sua construção começou em 1578 e foi concluída em 1607.
Rue des Rosiers, de Emeric Marcier
A obra de óleo sobre tela do pintor e muralista romeno naturalizado brasileiro é avaliada em R$ 150 mil. Representa o endereço no 4º arrondissement de Paris, França.
"Eglise Saint Paul", de Emeric Marcier
Outra obra do romeno que representa um endereço em Paris, a igreja Saint-Paul Saint-Louis. O quadro também é em óleo sobre tela e avaliado em R$ 150 mil.
"Mulher na Igreja", de Ilya Glazunov (1992)
A obra em óleo sobre tela é avaliada em R$ 500 mil. Ilya Glazunov foi um pintor e filósofo russo contemporâneo, condecorado com diversos prêmios em sua terra natal, como a Ordem por Mérito à Pátria.
"Elevador Social", de Rubens Gerchman (1966)
A obra de acrílica sobre madeira é avaliada em R$ 1,5 milhão. É parte de um conjunto de obras críticas da situação brasileira, que inclui também os quadros "Caixas de Morar" e "Ditadura das Coisas", apresentados na exposição coletiva Opinião 66, no MAM-Rio, em 1966.
"Retrato", de Michel Macreau
Óleo sobre tela, avaliada em R$ 150 mil. O pintor francês, que nasceu em 1935 e morreu em 1995, é um dos precursores do movimento artístico figuração livre.
Entre outras obras roubadas, estão:
- "Ela", aquarela de Cicero Dias, avaliada em R$ 1 milhão;
- "Aquarela sem título", de Cicero Dias, avaliada em R$ 1 milhão;
- "Desenho representando uma paisagem", de Alberto Guignard, avaliada em R$ 150 mil;
- "Porto de pesca em Hong Kong", de Kao Chien-Fu, avaliada em R$ 1 milhão;
- "Coruja ao luar", de Kao Chi-Feng, avaliada em R$ 1 milhão;
- "Mascaradas", de Di Cavalcanti, avaliada em R$ 1,5 milhão;
- "O Menino", de Alberto Guignard, avaliada em R$ 2 milhões;
- "Maquete para meu espelho", de Antônio Dias, avaliada em R$ 1,5 milhão.
Três obras foram recuperadas em uma galeria de arte de São Paulo. Outras duas foram vendidas pelo proprietário da galeria para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires e ainda não foram recuperadas.
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