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Djavan: 'Saber que minha música é popular após o que sofri é uma vitória'

Djavan lança "D", primeiro álbum de inéditas desde Vesúvio, de 2018 - Divulgação
Djavan lança 'D', primeiro álbum de inéditas desde Vesúvio, de 2018 Imagem: Divulgação

De Splash, em São Paulo

11/08/2022 04h00Atualizada em 11/08/2022 12h15

Lançando hoje seu 25º álbum da carreira, "D", Djavan lamenta a sensação de às vezes ainda sentir-se incompreendido. Dono de versos que fazem parte da formação musical de toda uma geração, o cantor lembra da estranheza que seu som e suas letras causaram lá no início.

"É óbvio que minha música, como é muito conhecida hoje, ela já não é tão inusitada como era quando eu surgi", conta Djavan em entrevista a Splash. E um dos fatos que mais o alegra atualmente é ver crianças e adolescentes replicando suas músicas na internet.

"Eu tenho a sorte de desde o início de ter atraído pessoas muito jovenzinhas. Oito, dez anos... Tem um canal que as pessoas ficam cantando minhas músicas. Meninas de 12, 13, 14 anos. Garotos de 8, 10 anos. Às vezes até bebês de 3, 4 anos que os pais botam cantando."

Os números não mentem. Em fevereiro, Djavan bateu 1 bilhão de reproduções em áudio e vídeo nas plataformas digitais. "Eu fico felizão de ter uma música que se de um lado dizem que é complexa de outro as crianças estão cada vez mais envolvidas com ela. Isso é um presente."

Com "D", seu novo disco de capa e nome minimalistas que estará disponível a partir das 21h nas plataformas digitais, Djavan quer continuar atraindo todo tipo de ouvintes, uma popularidade que ele celebra.

Para mim, saber que a minha música é popular depois de tudo o que eu sofri —ouvir que a minha música era incompreensível, complexa — é uma vitória muito grande. Hoje vejo que ela está ficando cada vez mais acessível a todo mundo. Djavan

capa - Divulgação - Divulgação
Capa de 'D' foi idealizada por Giovanni Bianco
Imagem: Divulgação

Em "D", uma das faixas que o cantor mais aposta que vá cair no gosto popular é "Iluminado". Gravada com seus cinco filhos e dois netos, a música fecha o disco, que tem 12 canções, 11 delas inéditas.

"Tem uma mensagem bem direta: 'vem cantar para tudo aqui ficar iluminado'. O povo aprende fácil até pela necessidade de uma mensagem de otimismo, de positividade", acredita.

"D" começou a ser produzido em junho de 2021, período que Djavan classifica como de "um obscurantismo terrível". "A gente ainda estava em voltas com as vacinas, problemas de corrupção em torno desse processo e morrendo muita gente. O bicho estava pegando."

Por isso, a ideia de tentar sair do obscurantismo com música. "Queria um disco para trazer otimismo, um foco na esperança. Queria trazer um campo de luz para todas as pessoas. Que se pensasse no futuro e se compreendesse que só o futuro salvaria", reflete.

Um otimismo que o transformou em vítima em 2018, após a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), quando uma declaração sua de que estaria "otimista com o futuro do Brasil" repercutiu mal. O cantor precisou ir às redes sociais se explicar e traduzir o que havia sido dito.

"A interpretação de texto é uma coisa muito problemática na internet. As pessoas não têm muita preocupação de compreender bem o que estão lendo e já saem replicando, multiplicando aquele entendimento equivocado. Tudo isso atrapalha muito. Culturalmente, socialmente, politicamente. Em todos os âmbitos", avalia hoje, quatro anos depois.

"Já me posicionei antes fazendo um post dizendo que não tinha votado no Bolsonaro, tampouco apoiado o seu governo. Acho que isso foi o suficiente para a gente chegar em uma conclusão correta das coisas", diz Djavan, que já declarou em outras entrevistas que em 2022 vota em Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na análise do cantor e compositor, essas incompreensões são fruto do imediatismo que a internet provoca nas pessoas.

"As pessoas não só no Brasil, mas no mundo, foram jogadas num imediatismo ruim. Tudo é muito imediato, efêmero, passageiro. A internet é a responsável por isso. A demanda de conteúdo é cada vez maior e isso faz com que as coisas sejam menos elaboradas, pensadas, avaliadas."

Algo que ele não deixa atingir suas canções. Outra realização do novo disco de Djavan foi gravar com Milton Nascimento, um sonho antigo e só realizado agora.

"A gente se conhece há muito tempo, mas temos uma timidez forte e nunca tivemos a iniciativa de se aproximar um do outro. Tanto que nunca tínhamos feito nada", conta.

O resultado é a canção "Beleza Destruída", lançada como single antes mesmo da chegada do novo disco. "Fiz uma música com um tema que os dois têm familiaridade, eu sempre me preocupei com a natureza, e ele também, e mandei para ele a música. Ele adorou, achou linda. Veio aqui para o estúdio e a gente gravou."

O encontro de duas das maiores vozes brasileiras era aguardado por fãs há tempos, e teve seus bastidores divulgados no canal de Djavan no YouTube.

"Foi uma tarde de muita alegria, felicidade e amor. Pude dizer para ele o que eu nunca tinha dito antes, ele também. O Milton é muito amoroso. E essa atmosfera de amizade e admiração ficou explícita na gravação."

Djavan não pensa em parar

Diferentemente de Milton Nascimento, que está rodando o Brasil com a turnê "A Última Sessão de Música", marcando sua despedida dos palcos no ano em que completa 80 anos, Djavan, de 73 anos, ainda não pensa em parar. Com o disco novo, sai em turnê em 2023. Em setembro, volta ao Palco Mundo do Rock in Rio após 31 anos em um show que deve priorizar seus hits.

"Enquanto eu tiver disposição vou fazer [turnê]. Uma turnê demanda muito trabalho. Ainda mais a gente que roda o mundo inteiro. Eu viajo para Europa, Estados Unidos, Ásia, América Latina. Mas o prazer que isso traz também não é pequeno. Uma coisa compensa a outra. O importante é sentir-se feliz com o que está fazendo. Enquanto eu me sentir bem, vou fazer."