Autora nega mudanças em 'Bom Dia, Verônica' por Klara Castanho: 'Fofoca'
Ilana Casoy, 62, é um dos nomes mais importantes no Brasil quando o assunto é criminologia. Autora de diversos livros sobre crimes reais, ela também é a escritora de "Bom Dia, Verônica", obra que se tornou uma série de sucesso da Netflix e que foi escrita ao lado de Raphael Montes.
A segunda temporada estreou recentemente e chama a atenção não apenas por abordar uma temática polêmica -- a de abusos --, mas também por ser lançada pouco tempo depois de Klara Castanho denunciar um estupro, após ter sua intimidade vazada por uma enfermeira e jornalistas. Kastanho sofreu a violência após a gravação da série, onde ela interpreta Angela, a filha de um pastor envolvido em escândalos sexuais.
Como pouco se sabia sobre a nova temporada, muito foi especulado sobre uma possível reedição dos episódios para que cenas gráficas de abuso fossem retiradas em consideração à atriz. A Splash, Ilana Casoy disse que nada foi modificado e que os boatos não passam de "fofocas".
"Os capítulos eram assim desde o começo. É um estilo que escolhemos", explica. "A vida das personagens dessa série já é muito pesada. São muitas mulheres que demoram para perceber o abuso. Eu também demoraria."
A fala vai de acordo com a resposta da produção para o que foi apontado como um dos principais defeitos da trama pelos críticos: o exagero na violência. Na primeira temporada, a protagonista interpretada por Tainá Muller tenta ajudar Janete (Camila Morgado) a escapar de seu cruel marido Brandão (Du Moscovis). À época, houve críticas à violência exposta. Para o segundo ano, Casoy explica que outras escolhas foram tomadas.
"O público é inteligente, pode completar a cena. Eu te indico algo e você completa para mim. Não preciso mostrar uma transa para você entender que ela vai acontecer, você pode imaginar isso na sua cabeça." Para a criminóloga, é preciso tomar cuidado ao retratar violências. "Não pode haver diversão neste assunto."
Casoy também acredita que a história de Angela também ajudou Castanho a lidar com o que ela sofreu.
"Talvez, a história da Angela tenha ajudado Klara a passar pelo que ela passou. A gente não imagina, mas é a história de tantas outras mulheres. Angela deu voz para a Klara, que deu voz para a Angela", diz a autora. "Para muitas mulheres, saber a história da Klara pode ter ajudado. Apesar da sua própria dor, ela conseguiu se reestruturar e usar em benefício da sociedade. Ela denuncia tudo o que aconteceu."
Nesse caso, felizmente, as duas saem em pé. Claro que o que aconteceu na vida pessoal de Klara foi uma tragédia, mas muitas vezes não é o que você vive, mas o que você faz com isso
Ilana Casoy
Outros casos
A criminóloga faz um paralelo da história de Castanho ao de Gloria Perez, autora que teve a filha, Daniella, morta em 1992. O crime é exposto no documentário "Pacto Brutal", o qual conta com a presença de Casoy e mostra como a dramaturga conseguiu até mesmo mudar a lei brasileira de crimes hediondos.
"O que a Gloria fez foi muito importante. Ela moveu o Brasil, conseguiu as assinaturas necessárias em uma época sem internet. Já a Klara fez com que o país passasse a discutir o que aconteceu com ela também."
As duas conseguiram aguentar uma tragédia na vida pessoal e usaram isso para o bem nacional.
O novo vilão
Se Brandão assustou o público da primeira temporada de "Bom Dia, Verônica", agora é a vez de Matias causar calafrios no espectador. Interpretado por Reynaldo Gianecchini, o personagem tem como objetivo discutir o poder de uma figura importante.
"Nosso interesse era discutir a autoridade religiosa. Como toda autoridade: na primeira temporada foi a autoridade policial. O Brandão tinha uma autoridade muito forte. E todas as autoridades acabam descontando nas mulheres, porque a corda arrebenta para o lado mais fraco e somos alvos."
"Eu falo: aquelas que dizem que nunca foram abusadas em nenhum grau certo, é porque não perceberam. Com a arte a cultura a gente tenta fazer uma reflexão mais profunda sobre isso".
Livros
A segunda temporada de "Bom Dia, Verônica" foi lançada antes do segundo livro ir às livrarias. No entanto, isso não é um problema para Ilana, que pretende se aprofundar em diversos assuntos abordados na série. "Quero contar a história do orfanato que aparece, por exemplo, e também contar mais sobre o passado do Júlio, o pai da Verônica."
Segundo conta, a ideia da obra literária é ser uma trilogia que pode contar com derivados. "Já está tudo idealizado", conta a autora.
Uma nova versão de "Bom Dia, Verônica" será lançada pela editora Companhia das Letras no dia 22 de agosto. Ainda não há previsão para a chegada de "Boa Tarde, Verônica" e "Boa Noite, Verônica", os livros que continuam da história. E, se depender de Ilana Casoy, não há pressa: "O Rapha e eu chegamos até mesmo a jogar fora 50 páginas que tínhamos escrito porque não gostamos."
Nada pressiona a gente. Se não gostamos, é tchau!
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