Lázaro Ramos sobre paternidade: 'Machismo também é prisão para nós'
Pai de duas crianças com Taís Araújo, Lázaro Ramos revive nos cinemas os sentimentos complexos do nascimento do primeiro filho.
O ator estrela, ao lado de Paolla Oliveira, a comédia "Papai é Pop", inspirado no livro homônimo de Marcos Piangers. O trabalho surgiu como uma oportunidade para Lázaro refletir não só sobre os desafios da paternidade, mas também em como o machismo acaba por distanciar o homem de ser um pai mais sensível, atencioso e presente.
"Hoje, muito se afirma o poder do homem através da violência, do ódio, e isso tem sido normalizado a cada dia que passa. E o filme oferece outra alternativa de convivência, mostra uma libertação", analisa Lázaro, em entrevista a Splash.
"Falo isso como homem. O machismo também é uma prisão para nós, além de todos os males que provoca às mulheres. Sabemos dos índices de agressão e dos modelos agressivos de relacionamento que a criança vai reproduzindo. O filme traz outro lugar, falando dos desafios da formação e oferecendo como alternativas o afeto e a presença constantes. É saber que provar que é homem não está na violência que produzimos, e sim em outros lugares."
No filme, Lázaro interpreta Tom, um homem que descobre, através de algumas dores e com certa dificuldade, o real significado da paternidade responsável. Sua história traz para o centro da trama a paternidade com a desconstrução de estereótipos nocivos da masculinidade. Ao abrir a discussão da importância do afeto e da sensibilidade na criação dos filhos, o filme expande a narrativa do que constitui uma família, e cruza por assuntos como interracialidade, adoção e mães e pais solo.
"Como pai, eu tento estar presente o tempo todo, sendo ativo, mas tenho um lado do pai muito preocupado, que às vezes é de impedir os meus filhos de caminharem, alertando demais o tempo todo, tentando alertá-los de coisas que eu vivi e que não necessariamente eles vão viver", pontua o ator.
Seguindo a linha de Lázaro, o diretor Caíto Ortiz também falou sobre como o machismo influencia em uma experiência de vida mais violenta para adultos e crianças. "Parece que andamos uns 50 anos para trás", reflete, sobre os altos índices de violência e feminicídio. "De onde saíram essas pessoas e como elas tomaram essa voz e esse espaço? Estamos aqui na frente da guerrilha tentando empurrá-las de volta para onde elas vieram e colocar essa discussão no ar."
"É porque a construção [do machismo] é feita em oposição ao feminino", opina Marcos Piangers. "O feminino é tão alvo de agressividade que a masculinidade torna-se o oposto disso. Isso é violento para a mulher e também para as crianças. Quando criamos meninos dizendo coisas como 'você vai ser um sucesso, ganhar dinheiro, pegar geral, não pode chorar', demonstramos que a masculinidade é algo difícil de conquistar e fácil de perder. Isso é muito desgastante para o emocional masculino."
Família-modelo?
Se "Papai é Pop" mostra uma família lutando para compreender as mudanças que uma criança traz, Lázaro tem consciência que o seu casamento de 18 anos transformou ele e Taís Araújo em um dos casais mais queridos do Brasil, visto muitas vezes como um modelo, próximo ao ideal. Mesmo assim, ele busca não se responsabilizar quando o assunto é "perfeição", e faz um alerta.
"Eu tento ficar muito livre em relação a isso, mas eu sei que é importante. Hoje em dia, em meio a tanta celebração do ódio e da violência, mostrar afeto e outras alternativas de convivência é importante, ainda mais para um casal preto, a gente sabe. Mas também procuramos não estacionar nisso falando de uma perfeição, porque não existe. Todo dia aprendemos alguma coisa, e eu espero que as pessoas se identifiquem também nessa construção diária", reforça.
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