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'Em Nome do Céu': a história de mãe e filha assassinadas 'em nome de Deus'

Andrew Garfield vive um detetive mórmon em "Em Nome do Céu" - Reprodução/ HULU
Andrew Garfield vive um detetive mórmon em 'Em Nome do Céu' Imagem: Reprodução/ HULU

De Splash, em São Paulo

17/08/2022 04h00

Um crime bárbaro cometido em 1984 nos Estados Unidos com requintes de crueldade e motivação religiosa entra para a lista de crimes reais escolhidos para serem retratados produções dos serviços de streaming.

Andrew Garfield ("Espetacular Homem-Aranha") interpreta um detetive que investiga a morte de Brenda Wright Lafferty, então com 24 anos, e sua filha de 15 meses em 1984.

A Splash, o ator afirma que a proposta de "Em Nome do Céu", minissérie disponível no Star+, é "levar o público a descobrir o submundo do mormonismo". Apesar de o caso ter ocorrido no seio da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Garfield pondera de cara que "há esse tipo de fundamentalismo escondido no ventre de diversas religiões".

A minissérie é um tipo particular de séries sobre crimes reais. A minissérie é baseada em um caso real, mas mistura o histórico do caso com elementos de ficção. Responsável por contar a história, o detetive Pyre, interpretado por Andrew Garfield, é um personagem fictício criado para a minissérie.

"Abordar a ideia de paraíso e inferno me pareceu muito atraente, assim como os outros temas do título, como toda a investigação."
Andrew Garfield

Crime 'em nome de Deus'

A morte de Brenda e sua filha de pouco mais de um ano chocou os Estados Unidos quase quatro décadas atrás pelos requintes de crueldade e pela justificativa para o crime. Mórmons, como são conhecidos os fieis da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os irmãos Ron e Dan Lafferty justificaram o crime como parte da sua fé.

Brenda era casada com Allen Lafferty, irmão dos assassinos. À época, Ron afirmou ter tido uma "revelação divina" de que deveria ser o novo líder da Igreja e, para isso, seria necessário eliminar as pessoas próximas que não seguissem o que julgava ser os dogmas corretos.

O assassino disse que nesta "revelação" foi orientado a começar essa matança pelas pessoas mais próximas e que por isso matou a cunhada.

Ron e Dan Lafferty questionavam a posição de Brenda contra a poligamia, algo então comum entre o segmento mais fundamentalista dessa religião naquele momento, segundo a série. Também achavam absurdo a cunhada ter crescido em uma família mais progressista dentro daquela comunidade e querer trabalhar como jornalista.

Brenda teve a garganta cortada depois de ser sufocada com o fio de um aspirador de pó, já a bebê foi morta a facadas. A base factual da série é o relato no livro de não ficção "Pela bandeira do Paraíso: Uma história de fé e violência", escrito por Jon Krakauer e lançado no Brasil pela editora Cia das Letras.

Religião e 'homenagem à vítima'

Os criadores da série afirmam ter se baseado em experiências pessoais com a religião e em uma relação próxima com a família da vítima para realizar um trabalho correto ao retratada o caso.

À frente da produção está Dustin Lance Black, ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original em 2009 por "Milk", que cresceu como mórmon.

"Eu mentiria se dissesse que não trouxe coisas da minha própria experiência como mórmon para as páginas do roteiro e para as cenas", conta Black a Splash. "Eu tentei não colocar a minha própria história, mas crescer como mórmon me ajudou bastante a entender o que aconteceu."

Daisy Edgar-Jones interpreta a vítima, Brenda - Divulgação - Divulgação
Daisy Edgar-Jones interpreta a vítima, Brenda
Imagem: Divulgação

O criador da série afirma que produção tem como objetivo também homenagear Brenda, interpretada por Daisy Edgar-Jones ("Normal People").

"Ela era alguém que fazia muitas perguntas difíceis e era muito desafiadora em uma cultura e uma época em que era muito arriscado fazê-lo. Ela teve a coragem de defender a verdade defender o coração e uma espécie de senso de bondade. Ela questionava a hierarquia de sua igreja de uma maneira que chamava bastante atenção, em um momento perigoso e com pessoas perigosas ao seu redor."

Queremos honrar essa coragem, isso é muito importante.
Dustin Lance Black

"É importante também fazer um estudo sobre como as pessoas justificam suas ações em nome de Deus. Precisamos entender um estudo psicológico e espiritual sobre como um homem pode chegar a esse lugar de cometer um crime."

Quando começou a desenvolver o título, Lance Black até mesmo visitou a família de Brenda para poder se manter o mais verdadeiro possível à história da vítima.

"Quando eu visitei a família de Brenda, em Utah, eu pude ficar mais próximo deles e aprender mais sobre. Eles confiaram em mim com seus diários e com suas cartas, por isso saíram diversas novas informações que estão na série e não são encontradas no livro."

Por fim, o criador acredita que há uma curiosidade sobre como pessoas chegam a circunstâncias extremas, como a morte de Brenda.

"Uma das coisas que acho importante nessa história é que esses não eram apenas criminosos comuns. Você sabe quem é criado em alguma família que já vive de crimes, por exemplo, e isso é o que eles sempre aprenderam. Não, estes eram meninos que eram de uma família altamente estimada. É muito útil entender onde, neste caso, entra a crença fundamentalista."