Do início com Frank Aguiar ao rompimento: a carreira de Simone e Simaria
É o fim das "coleguinhas". Encerrando pouco mais de dois meses de especulações, Simone e Simaria confirmaram na quinta-feira (18) o que os fãs já temiam e todos já esperavam: elas estão encerrando a carreira como dupla após 26 anos cantando juntas. A partir de agora, seguirão carreira solo.
O término da parceria acontece após divergências públicas entre as cantoras e uma pausa de Simaria para cuidar da saúde. A última vez que elas se apresentaram juntas foi em junho, quando Simone iniciou um show no São João de Caruaru (PE) e a irmã chegou apenas 1h20 depois. Ali, externaram ao público a desavença que, descobriu-se depois, vinha crescendo há bem mais tempo e não se resumia a um atraso pontual.
Os tons dramáticos da reta final da parceria contrastam com todo o sucesso alcançado pelas irmãs. Em mais de duas décadas de dupla, Simone e Simaria lançaram 10 álbuns, tendo estourado para o Brasil a partir de "As Coleguinhas", lançado em 2012.
Desde então, acumularam shows lotados e hits nas plataformas digitais. No Spotify, são mais de 5,2 milhões de ouvintes mensais. No YouTube, o clipe mais visto, da música "Amiga", reúne nada menos do que 46 milhões de visualizações.
Os números impressionam, mas Simone e Simaria chegaram onde chegaram pela conexão que tiveram com o público, com a história tortuosa no caminho ao sucesso e os fãs que ficaram e acompanharam elas durante muitas idas e vindas. Nasceram em uma família extremamente humilde, no interior da Bahia, perderam o pai ainda novas e só tiveram a vida transformada a partir da oportunidade com a música.
Nesse caminho, contaram com ajudas inesperadas, como a descoberta por Frank Aguiar e o apoio de milhões de fãs. Milhões, mesmo. Simone tem mais de 35 milhões de seguidores no Instagram, Simaria, 28 milhões, além da conta da dupla, com outros 22 milhões,
Mesmo com tantos fãs, a relação das artistas com os mais engajados era próxima, como contou a Splash Thais Mirly, líder de dois fã clubes das artistas. Eles se sentiram abandonados nas últimas semanas, pela falta de notícia das irmãs, que pararam de comentar nos grupos de aplicativos de mensagem em que participavam com os admiradores.
Infância difícil
De origem humilde, Simaria e Simone Mendes nasceram em Uibaí, no interior da Bahia. Simaria nasceu em 1982 e tem 40 anos. Simone é dois anos mais nova, nasceu em 1984 e tem 38 anos. O pai, Antonio Filgueira Rocha, era garimpeiro e a mãe, Mara Mendes, trabalhava como lavadeira.
Ainda na infância, quando moravam no Mato Grosso, as duas perderam o pai, que foi enterrado como indigente devido à frágil condição financeira da família. Elas então passaram a viver com a avó na Bahia enquanto a mãe se mudou para São Paulo em busca de emprego para sustentar os filhos.
Muito antes do luxo e da fama, os sonhos das irmãs eram os anseios de milhões de brasileiros que vivem em situação de extrema pobreza. "[Nosso] banheiro era de palha de coqueiro. Fazia o cercadinho para tomar banho de cuia. E a gente tinha o sonho de ter o chuveirinho", disse Simone, em entrevista ao canal da atriz Giovanna Ewbank no YouTube em 2017.
Nossa vida não foi nada fácil, acho que nossa história encoraja as pessoas a buscarem o novo, a partir para a luta. Simaria, no "Conversa com Bial" (TV Globo).
Irmãs unidas
Nas últimas semanas, Frank Aguiar estava na maré contrária das especulações. O ídolo do forró, que descobriu Simone e Simaria ainda na adolescência, descrevia as irmãs como duas mulheres muito unidas, que brigavam sim, mas que saíam sempre em defesa uma da outra e se reconciliavam.
"Não acho que elas possam se separar. Elas se completam, costumo dizer que são como tampa e penico. Simone não vive sem a Simaria. São irmãs que sempre brigaram, mas que se defendem também. Não aguentam ouvir ninguém falando algo uma da outra. Brigam e logo fazem as pazes, sempre foi assim", disse Aguiar ao colunista de Splash Lucas Pasin.
Simaria tinha 14 anos e Simone, 12, quando elas foram encontradas por Aguiar cantando em um bar. Encantado, o músico recrutou as duas para serem suas backing vocals.
"Fui tocar em um barzinho e lá estavam as duas pirralhas, dançando, lindas e com vozes maravilhosas. Nunca tinha pensado em ter backing vocal até então, mas nessa hora aconteceu", contou o "cãozinho dos teclados" em entrevista ao "Sensacional", programa de Daniela Albuquerque na RedeTV!.
Em 2007, elas deixaram Aguiar para entrarem no grupo de forró eletrônico "Forró do Muído", que estourou no Nordeste do país com sucessos como "Tá Com Medo de Amar, É?" e "Mente Tão Bem". Passaram cinco anos na banda até que, em 2012, decidiram seguir a carreira em dupla.
Simone, a voz. Simaria, a porta-voz
O sucesso iniciado a partir de "As Coleguinhas Vol. 1", de 2012, ganhou escala nacional em 2015, com o lançamento do DVD "Bar das Coleguinhas" e hits como "Quando o Mel É Bom" e "Meu Violão E O Nosso Cachorro".
No ano seguinte, vieram os sucessos "126 Cabides" e "Regime Fechado" para cimentar a presença das coleguinhas nas paradas nacionais.
O apelido, aliás, tem origem nos shows estourados: "Minha mãe chamava todo mundo de 'coleguinha' e nos nossos shows começamos a falar a frase 'vai, coleguinha' para fazer as pessoas mexerem", contou Simaria ao extinto site EGO, em 2012.
Fora dos palcos, Simone e Simaria sempre tiveram formas diferentes de trabalhar. Simaria era a administradora, cuidada da produção e de toda a parte burocrática que envolve a marca. Se apresentava frequentemente como a empresária, que respondia por ela e pela irmã.
Na parte artística, o papel de Simaria estava nas composições. Já a Simone cabia uma tarefa que não é um mero detalhe. "Fico só com a parte de cantar um pouco mais", brincou, em entrevista ao UOL em 2016.
Posso dizer que a Simaria cuida de tudo, tudo tem que ter o dedo dela, eu fico só com a parte de cantar um pouco mais, pegar o dinheiro e dividir igualzinho.
Simone Mendes
'Sou recriminada pela Simone'
Em abril de 2018, a dupla enfrentou um momento difícil. Simaria passou 18 dias internada, foi diagnosticada com tuberculose ganglionar e precisou se afastar dos palcos. Ela já havia tido a doença outras três vezes antes.
"Meu peso era 50 quilos e cheguei a pesar 42. Não podia pegar meu filho no colo porque eu não tinha forças", contou, na época, ao "Fantástico" (TV Globo).
No período do tratamento, Simone assumiu a agenda da dupla sozinha. Após um breve retorno para os palcos em setembro do mesmo ano, Simaria precisou fazer uma nova pausa ao enfrentar novos problemas de saúde.
Elas voltaram oficialmente para os palcos na gravação do DVD "Aperta o Play" em novembro de 2018, mas naquele momento reduziram a frenética agenda de shows.
"Queria agradecer a Deus, ele tem feito grandes coisas, precisamos ser gratas. Obrigada, Deus, por me devolver essa pérola que é a minha irmã", comemorou Simone na apresentação. Irmã mais nova, ela sempre falou de Simaria em tom maternal.
Os problemas de saúde da irmã mais velha foram citados em uma das principais peças conhecidas da briga mais recente. Um áudio vazado, dos bastidores do "Programa do Ratinho" (SBT), mostra as irmãs discutindo sobre como fariam a apresentação na atração.
Simaria diz que não estava conseguindo cantar, culpa a sobrecarga de trabalho e discute com Simone. "Eu estou rouca, trabalhando muito. Cuido da parte administrativa inteira da banda", se queixou. "Para desafinar, é melhor não fazer, porque você tá rouca. Eu estou poupando a sua voz, é um cuidado", rebateu a irmã mais nova.
A conversa tensa vazada no áudio dá indícios o que cada uma das "coleguinhas" pensa a respeito da relação com a irmã, o que se confirmou com as declarações em público e os relatos privados que ambas fazem.
Para Simaria, a irmã a recrimina, a controla e a censura. Para Simone, Simaria tem temperamento forte, provoca tensões e não agradece o cuidado.
Em entrevista ao jornalista Leo Dias, do Metrópoles, Simaria disse que a sua fala nos bastidores do Ratinho foi um "pedido de socorro". "Tem noção do que é passar 20 e tantos anos da sua vida sendo mandada calar a boca e não ser você mesma?", questionou Simaria.
"Talvez, não sei, eu tenha exagerado no cuidado", disse Simone no palco do primeiro show que fez após o mais recente afastamento da irmã, em junho. Apuração do colunista Lucas Pasin aponta que, tanto para Simone quanto para pessoas próximas a ela, a culpa do afastamento é do "temperamento difícil" de Simaria.
O futuro solo de Simone e Simaria
Simaria Mendes questionava a distribuição de tarefas entre ela e Simone, mas a divergência não estava apenas em quê deveria fazer o que, mas sim no que deveria ser feito. Para a irmã mais velha, a dupla deveria tentar carreira internacional, algo que ela já disse ao UOL em 2020 ser um dos seus grandes sonhos.
E não só: Simaria queria a dupla explorando outros gêneros musicais, além do sertanejo que as consagrou. Simone, não, queria manter a dupla no rumo que estava e não queria empreitadas que a impedissem de ficar mais tempo com a família.
Outro aspecto importante é o da religião. Evangélica, Simone Mendes é criticada no meio musical cristão por cantar "músicas do mundo", como são tratadas em alguns círculos os gêneros musicais que não tratam de fé e religião.
Ela também canta um dos maiores sucessos da música gospel brasileira na última década: "Deus de Promessas", parceria com Davi Sacer que acumula mais de 300 milhões de visualizações no YouTube. Caso opte pelo rumo gospel após a separação de Simaria, Simone tem um público certo. A cantora já tem inclusive louvores gravados, a serem lançados no futuro.
Já Simaria, em sua carreira solo, deve poder aplicar aquilo que queria fazer na dupla com a irmã. Para a empreitada, a cantora já fez uma mudança na equipe. Deixa de dividir a mesma assessoria com Simone e vai migrar para a mesma agência que atende Roberto Carlos.
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