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Fim de Simone e Simaria é prova do enfraquecimento das duplas sertanejas

Simone e Simaria anunciaram fim da dupla no início da última semana - Reprodução/Instagram
Simone e Simaria anunciaram fim da dupla no início da última semana Imagem: Reprodução/Instagram

Claudia Assef

Colaboração para Splash

21/08/2022 04h00

Parece que as Coleguinhas, forma como as irmãs Simone & Simaria ficaram conhecidas, já sabiam que iam se separar em 2020, quando lançaram a música Pá Pum. Anunciado nesta quinta (18), o fim da parceria de dez anos reconfigurou os fãs da dupla em dois times, os fãs de Simone e os devotos de Simaria.

Nascidas numa cidade pequena no Norte da Bahia, de família humilde, Simone & Simaria se tornaram uma das duplas de maior sucesso do país ao longo de uma década de carreira. Comunicaram o fim da carreira no auge, ambas muito jovens (Simone aos 38 anos e Simaria aos 40) e com uma agenda lotada de apresentações pelo Brasil.

Por que terminar?

"Com certeza, a música do Nordeste perde muito com a saída da dupla do mercado. Ao mesmo tempo que a presença delas teve um efeito, a ausência delas também vai repercutir. Mesmo que elas sigam carreiras separadas, tudo vai ter que ser repensado como se duas carreiras novas estivessem sendo lançadas. Além disso, houve uma ruptura no fã-clube, o que pra elas não é bom. E quem perde é a música do Nordeste, com a saída de mais um dos seus grandes expoentes", avalia Bruna Campos, especialista em direitos autorais.

Se você perdeu o fio da meada desse bafafá, aqui vai um resumão: quem as conhece mais de perto relata que as duas têm personalidades antagônicas, Simone é mais reservada e família, enquanto Simaria é mais explosiva e direta. Desentendimentos já vinham acontecendo publicamente há um bom tempo, porém o fósforo no querosene foi riscado durante uma entrevista das duas no programa do Ratinho em maio último. Bastidores contam que a gravação precisou ser interrompida enquanto participavam do programa, logo após o pedido de Ratinho para que elas cantassem a música Amiga. A discussão entre as duas foi tirada da edição que foi ao ar, mas o áudio, claro, vazou, e a internet veio abaixo.

A escalada até o término oficial da dupla ainda teria outras desavenças públicas, provocadas por atrasos de Simaria a alguns shows. Com problemas na voz (em 2018, Simaria foi diagnosticada com tuberculose ganglionar), separação do marido e ataques de haters na internet, em junho ela decidiu se afastar dos palcos alegando que iria cuidar da saúde.

O fim chegou oficialmente veio em um comunicado publicado pelas artistas em suas redes sociais.

Formato Ultrapassado?

A música sertaneja segue sendo o gênero musical mais tocado no Brasil, especialmente nas rádios. A própria dupla Simone & Simaria está no topo das paradas, tanto em rádios quanto em plataformas de streaming, com a música Vontade de Morder, lançada este ano. Mas será que estamos começando a assistir a um cansaço do clássico formato de dupla sertaneja? Se olharmos para o crescente sucesso de artistas solo dentro do gênero, presume-se que sim. Nomes em ascensão como Ana Castela, Luan Pereira, Chris no Beat, Dai Bertollo, Rodolfo Alessi, Kaê Moreno, Caroline Garcia, Yasmin Santos e Mari Fernandez, além dos já consagrados Gusttavo Lima e de todo o legado deixado por Marília Mendonça, mostram a força e o impacto dos artistas solo no mercado musical em 2022.

"Acredito que estejamos vivendo o reflexo de uma mudança pautada pela forma de consumo da música. Não vejo mais duplas como sendo sensação, acho que esse modelo é muito old school, é o jeito que a gente consumia música no passado. O formato dupla me remete ao sertanejo quando ele explodiu. Tem uma tendência desses novos expoentes solo, de nomes como Ana Castela, por exemplo, de criar uma identidade própria. As mulheres que estão aparecendo agora vêm com uma identidade única. Mesmo entre os homens, tem uma tendência de eles estarem sozinhos também. No funk, não se vê dupla, os MCs têm os DJs que os acompanham, mas a identidade de um MC é única. Acho que é um modelo que dialoga mais com a nova geração que consome música pelo Tik Tok", analisa Cris Falcão, diretora geral da Ingrooves Music Group.

Flávia César, da editora musical Warner Chappell Brasil, reconhece que o formato dupla pode estar dando sinais de cansaço. "Até porque a convivência é muito intensa, 24 horas trabalhando, vivendo, ensaiando. Os artistas solo estão muito fortalecidos", ela diz. Além disso, ritmos derivados do forró, como pisadinha e piseiro, vêm ganhando muita força e comendo espaço das tradicionais duplas sertanejas, especialmente alavancados por ferramentas como o Tik Tok.

"Como tudo no Brasil é cíclico, talvez o feminejo esteja perdendo sua força, após a morte da Marília Mendonça. Ela capitaneava o seguimento e tinha uma força que poucos têm. Não que o sertanejo esteja desgastado, porque ele tem uma força enorme Brasil afora, coisa que talvez a gente, do eixo Rio-SP, não tenha muita noção. Mas existe o crescimento de outros gêneros, como os derivados do forró: piseiro, pisadinha e arrocha. Exemplo disso foi o recente show de João Gomes em Recife para mais de 200 mil pessoas", diz. "Aqui no Sudeste a gente percebe o crescimento de outros gêneros, como o trap, mas por exemplo na Bahia só toca o arrocha e pisadinha. Antes o sertanejo era soberano", conclui Flavia, diretora estratégico, comercial, filme, sincronização e licensing da editora.

O dia 18 de agosto de 2022 vai marcar a história da dupla para sempre como o final de um importante ciclo. Cabou Cabou, como diz uma música delas lançada este ano. Simone & Simaria deixam quatro álbuns de estúdio, seis discos ao vivo e milhões de fãs ansiosos pelos próximos lançamentos das cantoras. Mas será que não estamos assistindo também ao final de uma configuração artística que não cabe mais nos dias de hoje? Veremos.