Bolsonaro volta ao JN quatro anos após causar com Bonner e Renata
Na noite de hoje, o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PL) voltará à bancada do "Jornal Nacional" (TV Globo) para conceder uma entrevista a William Bonner e Renata Vasconcellos na campanha para as eleições deste ano. Em 2018, o então deputado federal e candidato à Presidência da República participou do programa dando uma entrevista no mesmo formato.
Na ocasião, Bolsonaro mencionou o divórcio entre Bonner e Fátima Bernardes, fez especulações sobre o salário de Renata, desrespeitou as regras do noticiário e citou o apoio de Roberto Marinho ao golpe militar de 1964, fato que a publicação repudiou em editorial divulgado em 2013.
Referência ao divórcio de Bonner e Fátima
Durante a entrevista, William Bonner questionou Bolsonaro sobre seu "casamento" com o economista Paulo Guedes. O âncora perguntou o que o então candidato diria a um eleitor preocupado com a possibilidade de ele se tornar "refém" de um subordinado, já que antes mesmo de ser eleito, Bolsonaro já havia declarado não entender de economia e delegado essa questão a Guedes.
"Primeiro, o Lula, que não entendia de economia, teve um ministro médico. Dilma Rousseff, que entendia de economia, levou o Brasil ao caos. [...] Eu às vezes me pergunto o que o senhor Paulo Guedes viu em mim. Ele já me respondeu: 'Vi sinceridade e vi confiança'. Eu tenho que confiar nele, como tenho que confiar no meu ministro da Justiça, o da Defesa, o da Agronomia, entre outros", respondeu Bolsonaro.
Bonner, então, indagou Bolsonaro sobre sua promessa de que Guedes ficaria no cargo até o fim do mandato e, diante da resposta do candidato, levantou a possibilidade de os dois se "descasarem". Foi quando o político do PL mencionou a separação do jornalista e de Fátima Bernardes. Eles foram casados por 26 anos e se divorciaram em 2016.
Bonner, quando nós nos casamos, eu com a minha esposa, você com a sua, nós juramos fidelidade eterna. E aconteceu um problema no meio do caminho, que não cabe a ninguém discutir esse assunto. Duvido, pelo que conheço de Paulo Guedes, e passei a conhecê-lo muito mais depois que comecei a conversar com ele, esse descasamento venha, esse divórcio venha a acontecer. Jair Bolsonaro
Bate-boca sobre disparidade salarial com Renata Vasconcellos
Pouco depois, Renata Vasconcellos resgatou a ocasião em que Bolsonaro disse, no "Superpop" (RedeTV!), que não empregaria mulheres com o mesmo salário dos homens. A jornalista inferiu que o candidato "se solidariza com empregadores que compartilham da desigualdade salarial" e perguntou como ele explicaria isso às mulheres. Bolsonaro, então, começou a questionar onde Renata havia visto esse comentário.
"Renata, você leu isso, ouviu ou viu essa afirmação tua a meu respeito?", perguntou. "Acho que eu ouvi e li. Ouvi na televisão", respondeu a âncora. "Não. Você não... Não, me desculpe a senhora não ouviu. Eu nunca...", interrompeu ele. "Candidato, nós ouvimos. Se o senhor quiser...", interferiu Bonner.
"Foi no programa da Luciana Gimenez?", perguntou Bolsonaro. "Já existia esse fato em jogo. ela perguntou para mim, eu falei: 'É competência'. Daí ela falou: 'Ó, as mulheres todas são competentes'. Então, a questão de salário é questão de competência... Na CLT já se garante isso", continuou.
Os apresentadores do Jornal Nacional seguiram interrogando o candidato sobre quais medidas ele tomaria para reduzir a desigualdade salarial, caso interferisse na questão. Bolsonaro reagiu afirmando que o salário de Bonner era "muito maior" que o de Renata.
Eu estou vendo aqui uma senhora e um senhor, eu não sei ao certo, mas com toda certeza há uma diferença salarial aqui, parece que é muito maior para ele do que para a senhora. São cargos semelhantes, semelhantes, são iguais? Jair Bolsonaro
A âncora rebateu dizendo que seu salário "não dizia respeito a ninguém" e rejeitou a ideia de que aceitaria receber salário menor do que um homem que cumpre as mesmas funções do que ela:
"Eu poderia até como cidadã, e como qualquer cidadão brasileiro, fazer questionamentos sobre os seus proventos, porque o senhor é um funcionário público, deputado há 27 anos, e eu, como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário. O meu salário não diz respeito a ninguém", começou.
"E eu posso garantir ao senhor, como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu. Mas agora eu vou devolver a palavra ao senhor, para o senhor continuar o seu raciocínio", finalizou a jornalista.
"Pode ter certeza, né? Vocês vivem em grande parte aqui de recursos da União. São bilhões que recebem o sistema Globo, de recursos da propaganda oficial do governo", reagiu Bolsonaro, enquanto Bonner e Renata tentaram retornar à questão da desigualdade salarial. O candidato voltou a dizer que o tema já é tratado pela CLT e é competência da Justiça e do Ministério Público do Trabalho.
Menção do "kit gay" e desrespeito à regra do noticiário
Em outro momento polêmico, Bolsonaro fez a alegação falsa de que os supostos "kit gay" estavam sendo distribuídos nas escolas do país e desrespeitou uma das regras da entrevista. A situação começou quando Renata Vasconcellos questionou o candidato sobre falas homofóbicas.
"A cada 19 horas, um gay, lésbica ou trans é assassinado ou se suicida por causa de homofobia no Brasil. O senhor já disse que não é homofóbico. Mas o senhor também já declarou que vizinho gay desvaloriza imóvel. O senhor já disse que prefere que um filho morra a ser gay. O senhor já, inclusive, relacionou pedofilia com homossexualismo", recordou, usando a palavra "homossexualismo", que caiu em desuso, ao citar literalmente a fala do político. "Candidato, essas declarações não são homofóbicas?", perguntou a âncora.
Bolsonaro citou um seminário sobre a temática LGBTQIA+ na Câmara dos Deputados para se defender.
"Estavam discutindo ali, comemorando o lançamento de um material para combater a homofobia, que passou a ser conhecido como 'kit gay'. Entre esse material, estava esse livro lá, Bonner. Então, o pai que tenha filho na sala agora, retira o filho da sala, para ele não ver isso aqui. Se bem que na biblioteca das escolas públicas tem", disse, mostrando o livro "Aparelho Sexual e Cia." (Editora Seguinte), violando uma das regras na entrevista de não exibir itens como publicações ou documentos.
Bonner e Renata insistiram para que Bolsonaro guardasse o livro: "Não é respeitoso. Você pode deixar o livro comigo", disse o jornalista. "Não, pode deixar, não vou mostrar mais não, fique tranquila", respondeu o candidato para Renata.
Questionado novamente sobre suas declarações, ele respondeu que a "temperatura" das discussões com ativistas LGBTQIA+ havia subido, pediu desculpas e afirmou que sua intenção era "defender as crianças".
Menção ao apoio do Jornal O Globo ao golpe de 64
Ao final da entrevista, Bonner questionou Bolsonaro por uma declaração de seu vice, Hamilton Mourão, que aludia a um possível golpe militar. Bolsonaro falou que os militares agiram em 1964 "na forma da lei", o que levou o âncora a afirmar que "historiadores sérios" consideram que o que houve em 64 foi um "golpe militar".
Bolsonaro rebateu a fala mencionando um editorial de 1984 em que Roberto Marinho defendia o regime militar.
"No meu entender, foi uma alerta que ele [Mourão] deu e, no mais, deixa os historiadores para lá. Eu fico com Roberto Marinho, o que ele declarou no dia 7 de outubro de 1984, vou repetir aqui", alfinetou o político.
Bonner encerrou a entrevista em razão do tempo e citou o editorial divulgado pelo jornal em 2013, em que a publicação afirma que o apoio ao golpe foi "um erro". Ao final do noticiário, o jornalista leu uma nota emitida pelo Grupo Globo que responde a fala de Bolsonaro e reforça o publicado no editorial de 2013.
Candidato, nós aqui, trouxemos para a mesa o candidato à Presidência da República, já houve editorial sobre isso, o senhor certamente está informado. William Bonner
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