Viola Davis: quem é o dançarino brasileiro que chamou a atenção da atriz
A atriz vencedora do Oscar Viola Davis, sucesso em séries como "How to Get Away with Murder", compartilhou um vídeo nas redes sociais com imagens de um idoso dançando com headphone enquanto olhava para um rio. Com a mensagem "indo confiante para o final de semana como...", ela exaltou a alegria dele ao som de Running up That Hill, de Kate Bush, música que voltou às paradas na trilha sonora do seriado Stranger Things. O senhor em questão é um artista brasileiro cujos movimentos são bem conhecidos do público paraense.
Dançarino, Mário Lúcio Pereira Saldanha, mais conhecido como Senhor Mário, é natural do distrito de Mosqueiro e mora em Belém. Ele é visto há três anos fazendo suas performances, diariamente, nos galpões da Estação das Docas, ponto turístico às margens da baía do Guajará, no centro da capital paraense.
Artista de rua carismático, Seu Mário distribui alegria para turistas e moradores com suas coreografias, sem cobrar nada por isso. Muito querido no espaço, vive de doações de alimentos, roupas e algum dinheiro de funcionários e frequentadores do espaço.
"Eu nunca peço nada. As pessoas dão alguma coisa quando querem e eu aceito. Alguns dão dez reais, mas já ganhei até cinquenta reais. Guardo e uso tudo na alimentação", revelou à reportagem do UOL.
As coreografias são sempre embaladas por uma playlist personalizada, gravada no cartão de memória do headphone dele, também ganho por meio de uma doação. Entre as músicas, estão sucessos da Jovem Guarda e Elvis Presley.
Eu ouço muito Ney Matogrosso, Wanderléa, a Jovem Guarda e também Elvis Presley e danço conforme o ritmo que estou ouvindo. Nesse vídeo [compartilhado por Viola Davis] eu estava ouvindo Elvis.
Sucesso despercebido, mas esperado
De origem humilde, seu Mário não tem celular e ficou sabendo da postagem da atriz Viola Davis por uma amiga, que criou um perfil dele no Instagram para ajudá-lo a divulgar o trabalho. Mas quem pensa que a notícia pegou o artista paraense de surpresa está enganado.
Eu já tinha ouvido falar dela (Viola), mas pensei que fosse cantora. Depois que vi que já tinha assistido filmes dela. São lindos, ela é linda! Já esperava pela fama porque já faço isso há muito tempo e as pessoas já me conhecem. Estou gostando muito da experiência. É muito gratificante.
Depois da "fama repentina", Seu Mário diz que aumentou a procura de pessoas que pedem para fazer fotos e vídeos com ele e já está até dando autógrafo.
"Uma garotinha pediu para o avô dela para me conhecer e uma moça, no ônibus, perguntou se era eu e pediu para autografar a blusa dela para eternizar. A melhor coisa que existe é o reconhecimento", comemora.
Vida e arte
Aos 70 anos, lúcido e muito extrovertido, Mário dedica a vida a todo tipo de arte há 52 anos. Conta que já fez cursos de teatro, cinema, dublagem, atuou como tradutor de idiomas, mas a dança sempre foi sua paixão.
Pra mim a arte é uma terapia que faz bem para o coração e para a alma, principalmente a dança. É muito linda. Porque a vida da gente começa com uma dança. A pessoa já nasce dançando, até os movimentos involuntários, quando a pessoa nasce, quando ela faz um movimento rotativo, vai girando até nascer, já é uma dança.
Apesar do extenso currículo de cursos, a maior parte realizada em projetos sociais, Seu Mário diz que nunca quis participar de grupos de teatro e dança, pois prefere levar seu trabalho para as ruas.
"O palco pra mim é a minha vida, a luz que me ilumina, mas o espaço é muito limitado, tem pouca liberdade. Eu gosto desse contato de perto com as pessoas. Me sinto bem transmitindo alegria para elas".
Outra paixão dele é atuar como palhaço. Ao longo da carreira, lembra-se de várias apresentações beneficentes, entre as quais a de um hospital oncológico infantil na cidade.
"A situação lá é muito triste, mas o riso renova as pessoas por dentro, deixa elas com a aura leve e é isso que eu levo para a vida. Transmitir coisas boas para as pessoas é mágico", avalia.
Apesar de ter família na cidade, Seu Mário optou por morar sozinho. Ele conta que já morou com uma sobrinha e que teve uma companheira, mas se separou e não tiveram filhos. "Não me acostumei a morar com ninguém. Por um lado é bom, mas por outro, em caso de uma doença, é ruim porque não tem ninguém para ajudar', comenta.
Outro sobrinho paga o aluguel de um quarto para o artista, mas ele só vai lá para dormir, pois diz ter medo da violência do bairro. Também teme perder seus pertences e, por isso, carrega tudo que pode em sacolas ao longo do dia batendo pé pela cidade. "Tem muito roubo lá, assalto, gente que morre lá. Durmo sobressaltado", revela.
Hoje, seu Mário não tem renda fixa e conta com a ajuda de amigos e familiares. "Me chamam para tomar café, almoçar. Só não vou jantar porque fica longe. Mas aqui (na estação) às vezes alguém me dá um lanche, uma refeição e eu vou vivendo".
Seu maior sonho sempre foi viajar para o Rio de Janeiro para fazer oficinas de teatro, se apresentar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e fazer parte de um programa de humor na TV. Mas nunca conseguiu.
Mesmo com todas as dificuldades ele dá uma lição de bem viver.
Tristeza não existe comigo, ela envelhece a pessoa, mata lentamente. Acho lindo o humor, trabalhar como palhaço. É uma das coisas mais maravilhosas do mundo a pessoa ser alegre, extrovertida, não guardar rancor. Deus não se agrada disso.
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