Topo

Após críticas, Globo traz atores nordestinos para retratar sertão em novela

Isadora Cruz interpreta Candoca em "Mar do Sertão" - João Cotta/Globo
Isadora Cruz interpreta Candoca em 'Mar do Sertão' Imagem: João Cotta/Globo

De Splash, no Rio

22/08/2022 04h00

Estreia hoje a nova novela das 18h da TV Globo, "Mar do Sertão". A trama, que se passa na fictícia Canta Pedra, teve cenas gravadas nos estados de Pernambuco e Alagoas e traz cerca de 20 atores nordestinos, como a paraibana Isadora Cruz e o pernambucano Renato Góes, que dividem o protagonismo da trama com o paulista Sergio Guizé. Juntos, eles dão vida a um triângulo amoroso cheio de reviravoltas.

A representatividade de "Mar do Sertão" chega às telas após críticas de telespectadores e atores à escolha de elenco em outros projetos da emissora. Recentemente, Ana Hikari acusou a emissora de fazer "abordagem racista" e cometer "yellow face", termo que se refere à prática de escolher atores brancos para interpretar personagens asiáticos, usando-se de estereótipos raciais", na novela "Cara e Coragem".

Na cena que iria ao ar, Paolla Oliveira, Marcelo Serrado, Ana Clara e Bruno de Luca usariam roupas e acessórios que fazem alusão a culturas orientais. Após as críticas, as cenas que estão previstas não foram exibidas.

Em 2018, a escalação de "Segundo Sol" também gerou críticas. A novela das 21h era ambientada na Bahia, estado com a maior população negra do Brasil, mas o elenco era majoritariamente branco.

Agora, "Mar do Sertão" chega ao ar sem repetir o erro e traz representatividade nordestina. O diretor artístico, Allan Fiterman, durante coletiva de imprensa de lançamento da obra, comentou que escolher atores da região agrega à narrativa escrita pelo autor, Mario Teixeira.

Hoje em dia, não cabe mais a gente falar de uma novela que se chama 'Mar do Sertão', composta por uma maioria de sudestinos ou de atores do eixo Rio-São Paulo. Cada vez mais, a gente tem que trazer diversidade e buscar atores novos.
Allan Pontes, diretor artístico de "Mar do Sertão

"No nosso elenco, graças a Deus, a gente tem muita gente talentosa e que ainda não fazia televisão antes e que está fazendo TV agora. Cabe a nós trazer essa diversidade para televisão eh representando o Brasil do jeito que ele tem que ser representado, mostrando talentos novos. Assim, a gente se renova a cada trabalho e as pessoas acabam conhecem esses talentos. É uma busca incessante para que a gente não caia na mesmice. Cada vez mais, a nossa preocupação é, sim, trazer diversidade para a televisão de uma forma geral, continuou.

Além dos protagonistas, estão no folhetim os paraibanos Nanego Lira, Suzy Lopes, Thardelly Lima, Everaldo Pontes e Quitéria Kelly, que nasceu em João Pessoa, mas foi criada em Natal (RN), os potiguares Cesar Ferrario, Titina Medeiros e Matteus Cardoso, a pernambucana Clarissa Pinheiro, além dos baianos Cyria Coentro e Felipe Velozo.

Zé Paulino (Sérgio Guizé) e Candoca (Isadora Cruz) vivem romance em 'Mar do Sertão' - Globo/Ronald Santos Cruz - Globo/Ronald Santos Cruz
Zé Paulino (Sérgio Guizé) e Candoca (Isadora Cruz) vivem romance em 'Mar do Sertão'
Imagem: Globo/Ronald Santos Cruz

Romance e regionalismo

Completamente apaixonados um pelo outro, Candoca (Isadora Cruz) e Zé Paulino (Sergio Guizé) serão separados quando Zé Paulino sofrer um acidente e ser dado como morto. Depois de dez anos, quando ele retorna a Canta Pedra, Candoca está casada com seu grande rival, Tertulinho (Renato Góes), filho do coronel Tertúlio (José de Abreu) e Deodora (Deborah Bloch) detentores do único açude da cidade e, consequentemente, da água que abastece a região.

Assim como "Pantanal", "Mar do Sertão" vai apostar no regionalismo. O autor, Mario Teixeira, disse que a cidade fictícia de Canta Pedra, onde diz a lenda que já teve mar antes de virar sertão, é um microcosmo do Brasil. Apesar de ser um espaço inventado, é a partir dele que se pode falar das mazelas da sociedade, como a falta de água, mas ele avisa: tudo com muito humor.

"Sempre tive vontade de contar essa história porque é regional, mas também é universal, né? Canta Pedra é uma cidade fictícia, tem uma geografia totalmente inventada que mistura cânion e caatinga, é uma geografia que não existe. São paisagens que nós inventamos e que o Alan traduziu superbem a partir do meu texto. O regionalismo, na verdade, é universal. Falar de uma pequena aldeia é falar do mundo. É uma história regional, de fato, ambientada no interior, num Brasil profundo, mas, ao mesmo tempo, que está dentro de todos nós", explicou.

Tertulinho (Renato Góes), Coronel Tertúlio (José de Abreu) e Deodora (Deborah Bloch) formam uma rica e poderosa família - Globo/Paulo Belote - Globo/Paulo Belote
Tertulinho (Renato Góes), Coronel Tertúlio (José de Abreu) e Deodora (Deborah Bloch) formam uma rica e poderosa família
Imagem: Globo/Paulo Belote

Durante duas semanas, a produção e parte do elenco percorreu locais como o Vale do Catimbau, que fica entre o agreste e o sertão de Pernambuco, e Piranhas, cidade de Pernambuco, para gravar algumas cenas. Depois disso, a cenografia da trama reproduziu partes desses locais na cidade cenográfica nos estúdios da Globo.

"Foi muito importante a gente começar pela viagem porque a gente pôde se entrosar e se conhecer melhor. Não só eu, Sérgio e Renato, mas todo o elenco. A gente pode passar pelos perrengues juntos, comemorar as vitórias, né? Havia locação que a gente tinha de fazer uma trilha para chegar lá e gravar. Então, quando terminava o dia, a gente comemorava junto, saía pra jantar", contou Isadora.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, a cidade de Piranhas, onde ocorreu parte das gravações da novela, fica no estado de Alagoas, não em Pernambuco. O texto foi atualizado.