'Tudo é política': Rock in Rio deve ter crítica ao governo em ano eleitoral
Pela primeira vez, o Rock in Rio vai acontecer em um ano eleitoral. A organização do festival, que abre os portões amanhã para uma série de sete dias de música, emitiu uma nota para alertar que, em cumprimento à lei eleitoral, é proibido a subida de candidatos aos palcos.
Mas os artistas não estão proibidos de se manifestar, nem o público. É esperado que manifestações ocorram ao longo do festival. No evento-teste, realizado na última terça-feira, parte do público que acompanhava a apresentação do cantor Criolo gritou palavras de ordens contra o presidente, Jair Bolsonaro (PL).
Em março, no Lollapalooza Brasil, Pabllo Vittar levantou uma toalha com o rosto do ex-presidente Lula da Silva, candidato do PT à Presidência. Como reação, o partido do presidente, Jair Bolsonaro, (PL), foi ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pedir a proibição de manifestações políticas no festival.
Recentemente, Splash ouviu especialistas que afirmaram que artistas podem, sim, emitir opiniões no palco desde que não seja em showmícios, nem haja participação de partidos na organização.
A situação do Lollapalooza se repetiu além-mar, em Lisboa, durante a versão lusitana do Rock in Rio. No palco, a banda Francisco, El Hombre criticou Bolsonaro e o chamou de miliciano, além de cantar a música "Arranca a Cabeça do Rei". Johnny Hooker também criticou o atual presidente ao citar o combate à pandemia da covid-19.
"A gente tem um governo genocida no Brasil que atrasou a chegada das vacinas. Meu amigo André (Soares), que era meu baixista, morreu de covid. Por todos que morreram na pandemia com esse governo assassino, nós vamos fazer justiça. Não vamos esquecer vocês (vítimas da covid)", disse Hooker durante apresentação.
Rebecca não citou o nome do presidente em cima do palco, mas os fãs gritaram, em diferentes momentos, palavras de ordem contra Bolsonaro. Anitta também não o citou sobre o palco, mas criticou sua postura em entrevista coletiva nos bastidores. Em tom crítico, a artista culpou o mandatário pelo clima de "briga" constante no país.
A um mês para as eleições, Splash voltou a conversar com artistas sobre as manifestações políticas em festivais e eles dizem acreditar ser uma tendência natural em um ano eleitoral.
Em entrevista recente, Fernando Badauí, vocalista da banda CPM 22, disse que os protestos políticos contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), a partir do palco e do público, são esperáveis, uma vez que a ideologia do atual governo "fere artistas", nas palavras dele.
"Está claro o que acontece atualmente no país, né? A extrema-direita radical do poder tem ideologias que ferem muito os artistas. Então, quem gosta de música, é natural se manifestar... Do mesmo jeito que, em uma democracia, eu tenho de ouvir os argumentos do outro lado, dos apoiadores do atual governo, acho legítimo as pessoas se expressarem como elas querem", opinou Badauí, que sobe ao Palco Mundo do Rock in Rio no dia 8.
É o que reitera o cantor Sebastianismos, que integra a Francisco, El Hombre. A banda, que lançou recentemente "Arranca a Cabeça do Rei", vai repetir as críticas ao governo Bolsonaro em show do Rock in Rio Brasil no dia 8. Para ele, é fundamental usar "o privilégio do microfone".
A gente está em um momento no qual as opiniões devem ser manifestadas. A gente tem que usar o privilégio do microfone para falar do que acredita. No momento eleitoral, as opiniões devem ser ouvidas porque precisamos tomar uma decisão. E não é possível fazer isso sem discutir, pensar e expor ideias. É ineficaz acreditar que artistas não podem se manifestar em festivais, uma vez que a gente precisa debater ideias para tomar decisões", pensa Sebastianismos, que retorna ao festival no dia 9 com seu projeto solo.
Ele ainda pondera sobre cantar para diferentes públicos no Rock in Rio. "O festival tem diversos públicos, a sociedade é assim, ela tem diversos pensamentos. A nossa missão não é só cantar para quem concorda com a gente. A nossa missão é justamente abraçar quem tem pensamentos diferentes e encaminhar na direção que a gente acredita", completa.
Bernardo Pasquali, vocalista da banda Jovem Dionísio, vai se apresentar no Palco Supernova do Rock in Rio no dia 10 e também reflete sobre a importância de "falar as coisas que acredita".
"Tudo é movimentação política. Quando a gente vai em um show e não tem uma movimentação do publico, isso já é uma movimentação politica. O silêncio é uma movimentação política, assim como o grito. No ano eleitoral, o mais importante é estar falando as coisas que acreditamos e que são importantes. De tempos em tempos, tem grupos que esquecem do que é importante e a gente precisa estar lembrando", diz.
Rock in Rio orienta artistas a não se posicionarem?
Roberta Medina, em entrevista durante o Rock in Rio Lisboa, em junho, disse que não há qualquer orientação em relação a restringir opiniões políticas nos palcos, mas reforçou que acredita que "não se faz política em cima do palco"
"O Rock in Rio surgiu num contexto de busca de liberdade de expressão numa época em que se dizia que juntar jovens dava errado e era perigoso. Acho que política se faz com conversa. Não se faz política em cima do palco. Isso se faz torcida, e torcida é no futebol... O convite do Rock in Rio é para a celebração da vida. Mas, historicamente, tente pegar uma edição do Rock in Rio em que, seja qual for o presidente, não o mandaram tomar no c*", disse.
"É reflexo da manifestação coletiva. As pessoas se divertem. Tem uma coisa de multidão. A gente já teve Rock in Rio em 2013, após os black blocs, já fizemos com o país rachado, e nunca vimos o menor problema. Óbvio que quem quiser se manifestar se manifesta. Mas não é isso o que se vê. A gente vê os artistas indo para explorar aquela potencialidade, dar a cara para a multidão e reverberar para o país inteiro.
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