Rock in Rio também é política: Festival foi marcado por protestos
O Rock in Rio não foi só palco de música, mas também de política. Os dois finais de semana do festival contaram com várias manifestações — tanto do público como dos artistas.
O primeiro protesto aconteceu no show do Black Pantera, que abriu o Dia do Metal com protestos contra o racismo e o preconceito.
O show começou com uma citação do poema "Me gritaron negra", de Victoria Santa Cruz, que diz:
E vou rir daquelas pessoas que, por educação e por nos evitar, chamam os negros de 'gente de cor'. E que cor é essa? NEGRA! E que linda soa! NEGRA! E que ritmo tem, NEGRA, NEGRA, NEGRA!
A apresentação contou com protestos por parte do público. Na grade do palco foi visto uma faixa contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).
No mesmo dia, durante o show de Sepultura, e no domingo, no show de Emicida, foi possível ouvir o público pedindo "Fora Bolsonaro" em alto e bom som.
Teve gente que até invadiu uma transmissão ao vivo da TV Globo para pedir a saída do atual presidente.
Mensagem sobre a Amazônia
Ainda na primeira sexta-feira, a banda francesa de death metal Gojira aproveitou o show para trazer uma mensagem importante sobre a Amazônia.
Joe Duplantier, vocalista, é conhecido ativista de causas ambientais. Ele subiu ao palco com uma pintura facial feita com urucum, e durante a música "Amazonia", a qual fala sobre desmatamento da Floresta Amazônica, chamou chefes indígenas brasileiros.
Show dedicado a Marielle
No mesmo dia, a banda Living Colour abriu o show dedicando a vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, Marielle Franco, assassinada com o seu motorista Anderson Gomes, em 2018. "Este é dedicado a Marielle Franco", disse o vocalista Corey Glover.
Mais tarde, durante a canção "Wall", ele mostrou um cartaz escrito "Vote" de um lado e "Democracia" do outro, o que fez com que o público protestasse contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na sequência, Glover disse: "Eu não sei falar isso em português, 'fuck fascism'!" ("foda-se o fascismo", em tradução livre).
A Ratos de Porão se apresentou com a bandeira do Movimento Sem Terra, MST, pendurada em uma caixa de som. O baixista Juninho vestia uma camiseta do movimento. Enquanto o público entoava "ei, Bolsonaro, vai tomar no c*", o grupo acompanhou com os instrumentos.
Discurso contra armas
Abrindo o quarto dia de shows no Palco Mundo, a banda CPM 22 aproveitou um momento de protestos contra o governo Bolsonaro para fazer um discurso contra o armamento no Brasil.
O vocalista Badauí disse que a nação "é o país da diversidade" e "precisa de mais amor", além de relembrar o período pandêmico que o Brasil viveu com as restrições impostas pela covid-19.
"Galera, quero aproveitar esse momento, não só do festival, mas das nossas vidas. Depois de tudo que passamos a gente estar aqui, aglomerado. Muito obrigada por essa energia positiva. É tudo que esse país precisa, positividade, certo?", disse.
Sob os gritos de "fora Bolsonaro" e "ei, Bolsonaro vai tomar no c*", o cantor pediu por menos ódio nas redes sociais e deixou claro o seu posicionamento contra as armas no Brasil.
Não adianta a gente se amar aqui, tudo maravilhoso nesses 7 dias de festival, depois sair daqui e ficar lavando ódio na internet de graça, odiando as pessoas por nada. Porque o Brasil sempre foi o país querido, país da diversidade. Esse festival abrange todas as coisas, igualdade, diversidade, respeito, amor. Isso que precisamos nesse país, não ódio.
"Festival da cultura, que valoriza arte. País que tem cultura e valoriza a cultura não precisa de arma, porque arma mata as pessoas. Saúde!", finalizou.
Viva a democracia!
Na abertura do quinto dia do Palco Mundo, Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, também se manifestou politicamente.
"Viva a democracia brasileira! Não vai ter golpe!", exaltou Dinho, antes de cantar "Que País é esse".
"É preciso dizer que a ignorância e a violência não passarão", completou o vocalista.
Na sequência, ele falou sobre a canção antes de começar a cantá-la.
"Essa música é uma trilha sonora da distopia brasileira".
Assim como em outros momentos do festival, a plateia puxou gritos contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Sem citar o nome direto do presidente, Dinho se mostrou orgulhoso e fez um sinal de queria ouvir mais dos protestos.
Música alterada
Na homenagem feita ao ano de 1985 e a primeira edição do Rock in Rio, o cantor Ivan Lins alterou a letra da sua música "Começar de Novo" para criticar o fascismo.
"Sem teu fantasma. Sem tua moldura. Sem o teu domínio. Sem tuas escoras. Sem o teu fascismo. Sem tuas escórias", cantou.
Ao lado de Ivan no palco, Xamã fez um rap improvisado e pediu para que o público votasse consciente.
Coros por Lula
No penúltimo dia de festival, o nome do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) ganhou mais destaque.
A banda Gilsons, formada por familiares de Gilberto Gil, puxou um coro para o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante show no palco Sunset. O grupo é formado por José Gil, filho de Gilberto Gil, Francisco Gil e João Gil, netos do artista. A manifestação teve início quando o público começou a gritar palavras de ordem contra o atual presidente e candidato Jair Bolsonaro (PL): "Ei, Bolsonaro, vai tomar no c*".
Apesar de a câmera que exibia a apresentação no Rock in Rio passar a mostrar o palco de longe nesse momento, foi possível ver Francisco levando a mão à orelha incentivando a plateia a gritar mais alto.
Em seguida, o guitarrista fez um solo no ritmo de uma música entoada por frequência por eleitores de Lula, puxando um coro a favor do político petista:
"Olê, olê, olê, olá. Lula, Lula!", cantou parte do público.
Ivete se posiciona politicamente
No último dia, o festival voltou a receber protestos contra armas.
Durante sua apresentação no Palco Mundo, Ivete Sangalo abordou rapidamente o tema.
"A gente não precisa de armas. A gente só precisa de amor. Deus não acredita em violência, Deus acredita no amor", declarou a cantora, enquanto cantava a música "Muito Obrigado Axé".
Na letra da canção, que fala de orixás e candomblé, há um trecho que diz: "joga as armas para lá".
Ainda no seu show, Ivete fez um inflamado discurso sobre o Brasil, que foi acompanhado por gritos contra Jair Bolsonaro.
É um privilégio muito grande poder ter seus filhos e se orgulhar deles, vê-los crescer sem medo - pelos privilégios que são dados a gente. Quando coloco meus filhos aqui no palco, fortaleço a relação das mães com seus filhos. Toda mãe tem direito de deixar seus filhos crescerem com liberdade e com direitos, com amor, educação, sem ter medo de deixar os filhos irem à rua, correr sem camisa. Como mãe, coloco minha família e meu coração nesse lugar que é minha casa, minha família. Existem muitas famílias, e todas elas são muito poderosas. São todas essas famílias e pessoas de diferentes maneiras que fazem desse país um país libre e que merece continuar sendo livre e conhecido como o país da alegria, educação, da arte, do povo forte, rico e poderosos que somos. E vamos continuar sendo, porque nada vai nos impedir", disse a cantora após cantar com o filho Marcelo ao piano.
Na sequência, a cantora declarou "Dia 2, vamos mudar tudo".
A declaração de Ivete vai de encontro a postura "isenta" adotada pela cantora nos últimos anos quando o assunto é política.
Indireta?
Em seu show milionário, Ludmilla não citou o nome de nenhum candidato a eleição presidencial.
Mas, no final, vestiu uma camisa do Brasil na reta final do show para cantar seus sucessos mais antigos e pediu para que os fãs fizessem o "L".
Ludmilla não fez nenhuma menção se o "L" era uma referência ao seu nome, mas os fãs atenderam seu pedido e fizeram o "L" com as mãos.
Em outras ocasiões, Ludmilla já defendeu o ex-presidente e candidato Luís Inácio Lula da Silva e até posou ao seu lado.
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