Quem é o produtor de Hollywood que passou 20 anos abusando de mulheres
Cinco vezes indicado ao Emmy e preso com 20 acusações de abuso sexual. Depois de duas décadas acumuladas de supostos abusos e assédio sexual contra mulheres, o produtor e roteirista americano Eric Weinberg, de séries como "Californication", "Scrubs" e "Anger Management", foi preso em julho em Los Angeles.
Agora, os relatos de dezenas de mulheres que teriam se encontrado com ele vêm à tona.
O coprodutor executivo de "Scrubs" foi preso sob acusações que datam entre 2012 e 2019, mas os relatos vêm de muito antes.
Segundo conta o site The Hollywood Reporter, diversas mulheres haviam feito denúncias contra ele ao longo dos anos, e muitas destas não foram investigadas por falta de evidências. Neste período, as denunciantes não se conheciam, nem sabiam do histórico de Weinberg.
Mesmo com um grande histórico de supostos abusos, a história de Weinberg jamais ganhou uma grande repercussão. Os relatos de mulheres que teriam sido abusadas por ele datavam desde o início dos anos 2000, mas o roteirista passou décadas imune às investigações.
O relatório da prisão alega que Weinberg costumava abordar mulheres geralmente em espaços abertos e ao ar livre. Ele listava suas credenciais em Hollywood e se apresentava como fotógrafo amador, para convidá-las a posarem para ele. O fato de ser um produtor de séries que fizeram sucesso e repercutiram entre o início e meados dos anos 2000 acabava corroborando para sua narrativa.
Segundo as mulheres, Weinberg justificava que não exibia as fotos que fazia, que costumavam ser íntimas e sensuais, para que as mulheres não corressem o risco de se tornarem "alvos" de produtores de Hollywood. Por isso, de acordo com Weinberg, ele não era conhecido como fotógrafo no meio artístico. Tratava-se, portanto, apenas de um hobby.
Uma das sobreviventes, a ilustradora Avian Anderson, contou que topou o ensaio embora não tivesse muita intimidade com a câmera. Para ela, tudo havia começado em um clima amigável, e ela até mesmo levou uma máscara da cabeça de um pássaro para o ensaio, na intenção de fazer graça para se sentir mais confortável com toda a situação.
No entanto, ela começou a se sentir desconfortável com a nudez à medida que as fotos ficaram mais reveladoras e Weinberg passou a se irritar com as eventuais piadas que ela fazia. No fim, ele a levou até o seu quarto, e a mulher não teve tempo para reagir quando sentiu o homem tocar seu corpo de forma indevida e abusar dela, com a justificativa de criar um efeito mais realista nas fotografias.
Depois do encontro, Anderson ficou três dias sem tomar banho enquanto reunia coragem para procurar a polícia e fazer os exames que coletariam evidências do que aconteceu. Quando ela conseguiu ir até as autoridades, sentiu-se frustrada, pois os meses se passaram e ela não ouviu resposta a respeito de seu caso. Algum tempo depois, ela acabou encontrando o relato de outra sobrevivente. Foi aí que tudo se transformou.
Na ocasião, uma artista chamada Claire Wilson havia feito uma publicação em um grupo secreto do Facebook, para mulheres da região de Los Angeles, sobre o encontro que teve com o mesmo Eric Weinberg. No post, ela questionava se alguém mais havia se encontrado com ele e passou por experiências semelhantes.
Wilson contou que eles se conheceram em um aplicativo de relacionamento, e que a noite se iniciou de forma consensual. No entanto, ele teria violado o consentimento e a forçado a fazer coisas que não queria.
Aos poucos, outras mulheres começaram a reconhecer o nome de Eric, e adicionaram seus relatos à situação. De encontros e propostas de sessões de fotografia a perseguições na rua, elas descobriram que tratava-se do mesmo homem. Além disso, descobriram que todas as tentativas de levá-lo à Justiça foram em vão, geralmente por falta de evidências de que as relações não foram consensuais.
Depois que elas se uniram para denunciá-lo, Eric Weinberg foi preso em julho. Antes disso, ele havia sido investigado pelo menos duas vezes sob suspeitas de abuso sexual.
O histórico de Weinberg começou a se tornar público em 2020, quando Hilary Bidwell, sua então esposa, descobriu as publicações no grupo do Facebook e quis ir em busca da verdade.
Em setembro daquele ano, Bidwell fez uma ligação para Claire Wilson, que já havia mudado-se de Los Angeles na intenção de se afastar das repercussões de sua denúncia. A então esposa, que conhecia Eric desde 1991, pediu para que ela contasse tudo o que sabia a respeito de Eric.
Embora o casamento já durasse duas décadas e os dois tivessem três filhos, Bidwell contou ao The Hollywood Reporter que ele já dava indícios de ser uma pessoa diferente do que ela idealizava, e que alguns comportamentos violentos e impulsivos a faziam se sentir insegura.
Hilary pediu divórcio de Eric três vezes durante o casamento. Na terceira vez, ela abriu o pedido após descobrir uma longa lista de nomes de mulheres que ele escondia junto às fotos que descobriu com a ajuda das denúncias feitas no Facebook. A lista, escrita a mão, detalhava as rotinas das mulheres, endereços e descrições físicas das mesmas.
Durante a audiência de separação e pela guarda dos filhos, em outubro daquele mesmo ano, três mulheres disseram em testemunho que haviam sido abusadas sexualmente por ele durante sessões de fotos. As acusações levantadas pela defesa de Bidwell incluíam até mesmo tentativas de abuso contra uma adolescente que era colega de classe do filho do produtor.
Se durante décadas Eric trabalhou normalmente em Hollywood sem que qualquer indício de acusação afetasse sua carreira ou sua reputação — ele foi produtor, roteirista ou consultor de 8 séries de TV entre 2005 e 2016, a maioria delas com longa duração, incluindo "Men at Work" e "Death Valley" além das citadas anteriormente —, o currículo parou de crescer nos últimos anos.
Seu último trabalho listado no portal IMDb é a série "Graves", que durou uma temporada no obscuro canal Epix, em 2016. Sua defesa afirma que as acusações são falsas e infundadas, enquanto as vítimas rebatem.
"As pessoas inventam motivos para acreditar que as vítimas estão inventando isso porque sistema não pode ser tão ruim assim e as pessoas não podem ser tão más", afirmou Claire Wilson ao THR. "Mas tudo isso é verdade."
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