Beth Goulart: 'Perder minha mãe foi um choque. Você volta para o zero'
No "Splash Entrevista" desta semana, Zeca Camargo ouviu um depoimento repleto de ternura da atriz Beth Goulart. Ela participou do programa para falar de seu livro "Viver é uma arte: transformando a dor em palavras", escrito em homenagem à mãe, Nicette Bruno, ícone do teatro e TV brasileiras, morta em 2020.
Nicette foi uma das quase 700 mil vítimas da Covid-19 no Brasil. Em 2014, Beth havia perdido o pai, Paulo Goulart, outra figura inesquecível da dramaturgia nacional.
A perda do papai virou uma peça. A da mamãe acabou sendo um livro.
Ela lembrou da peça "Perdas e Danos", que encenou com Nicette após a morte de Paulo. Como naquela época, o livro foi o seu processo de cura. "Minha mãe estava bem, estávamos preparando um livro juntas. Em 21 dias ela foi embora", contou.
Foi um choque. Você fica meio fora do ar, volta pro zero. Parece um mergulho que você dá dentro de você mesmo. Volta à tona aos poucos, mas volta diferente.
'O livro me abriu uma porta nova'
O processo de escrita de "Viver é Uma Arte" ajudou Beth Goulart a se (re)descobrir. "Todo fim é um novo começo. Esse livro pra mim funciona como uma grande peça", disse.
E também como um novo ofício:
Abriu para mim uma porta nova, que é a linguagem da literatura, que eu pretendo explorar.
Beth descobriu que as possibilidades artísticas da literatura oferece são diferentes das que ela estava acostumada, na TV e no teatro:
No teatro e na TV aprendemos a nos comunicar com as pessoas de maneira coletiva. Com o livro, eu me comunico com cada um individualmente. De coração para coração.
O propósito é justamente esse: criar conexões. "Se o livro levar alguém a refletir, a pensar sobre si mesmo, eu fico feliz, porque ele estará sendo útil. Ele fala da minha dor e da de várias pessoas que passam por situações semelhantes."
'Nelson Rodrigues se apaixonou pela minha avó'
Na entrevista (e no livro), Beth Goulart falou da importância da avó, a atriz Eleonor Bruno, para a consolidação de sua família no meio artístico. "Ela era muito moderna, tinha a cabeça aberta, separou-se de meu avô para estudar medicina", disse, orgulhosa.
Beth contou que Eleonor se tornou atriz por causa de Nicette - e de Nelson Rodrigues. "Minha mãe fez a peça 'Anjo Negro', de Nelson Rodrigues, quando tinha 15 anos. Minha avó ia todas as noites acompanhar minha mãe. E o Nelson ia todas as noites conferir o borderô."
E aconteceu: Nelson Rodrigues se apaixonou pela minha avó. E os dois viveram uma história de amor.
Da época em que estiveram juntos, Nelson escreveu a peça de teatro "Doroteia", dedicada a Eleonor. Beth descobriu a história por acaso, mexendo nos papéis da família:
Descobri o original da peça com uma dedicatória maravilhosa do Nelson e uma foto dele com vovó. Numa das cartas, ele dizia assim: "um dia a filha de Nicette vai provar para você que nosso amor é imortal".
'Você tem que se permitir mudar: de casa, de cara, de cabelo'
Com familiares como esses, Beth nunca teve muitas dúvidas de que seguiria uma carreira artística. "Não tinha como eu ser outra coisa", reconheceu. "É com o humano e para o humano que trabalhamos. Compreender isso é a grande beleza da nossa profissão."
O poder da transformação é outra lição que o universo artístico ensinou a ela. "Quando você muda por fora, externaliza uma mudança interna", disse.
Quando vamos fazer um novo trabalho, a primeira coisa que pensamos é em mudar o visual. Isso, para os atores, é um exercício maravilhoso de desapego. Você tem que aprender a ser um camaleão.
"É uma maneira divertida de dizer que a gente tem que aceitar as transformações da nossa vida, que são constantes e positivas", acrescentou.
Você tem que se permitir mudar, de casa, de cara, de cabelo. Isso te apresenta oportunidades novas, universos novos.
Splash Entrevista
Apresentado por Zeca Camargo, o programa recebe artistas e celebridades para um papo sincero sobre vida e carreira. Os episódios são disponibilizados toda quarta, a partir das 10h, no canal de Splash no YouTube e no UOL.
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