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Viola Davis: 'Valho tanto quanto as Julianne Moores e as Meryl Streeps'

Viola Davis visita o Brasil para divulgação do filme "A Mulher Rei" - Manuela Scarpa/Brazil News
Viola Davis visita o Brasil para divulgação do filme 'A Mulher Rei' Imagem: Manuela Scarpa/Brazil News

De Splash, em São Paulo

19/09/2022 13h00

Novo filme estrelado e produzido por Viola Davis, "A Mulher Rei" conta a história das Agojie, um exército formado por mulheres que existia no Reino de Daomé, onde hoje fica a República de Benim, na região ocidental da África.

Em passagem pelo Brasil para a divulgação do longa, ao lado marido e também produtor do filme Julius Tennon, Viola contou que busca hoje em sua carreira papéis que deem visibilidade para mulheres negras — e contou que "A Mulher Rei" simboliza justamente isso.

"Passei 10 anos estudando atuação, e sempre vivi personagens clássicas brancas do teatro, que provavelmente já foram interpretadas muitas outras vezes", explicou em entrevista coletiva, direto do Rio de Janeiro. "E de repente, eu estou no meu mundo, eu tenho uma personagem para a qual eu posso me usar como quadro em branco."

"A razão de eu topar fazer o filme é porque o roteiro de Dana Stevens fez eu me sentir humanizada. Ver eu e [Nawi, personagem de Thuso Mbedu] lado a lado sentindo a dor, e em seguida empunhar uma espada, isso mostrou a complexidade das mulheres negras. Eu nunca soube quem nós somos. Agora, estou aqui me entregando a vocês, e vocês enxergam a mim. Isso é muito emocionante."

Aos 57 anos, Viola é a protagonista do filme, e interpreta a guerreira Nanisca, comandante do exército das Agojie que passa por uma provação ao longo da trama, quando um segredo vem à tona em meio a uma batalha decisiva contra um reino inimigo.

Para ela, a ideia de ver um filme inteiramente protagonizado por mulheres negras tem uma importância que vai além da cinematográfica.

"[Com esse filme], garotinhas agora têm a chance de se enxergar, não apenas nos filmes, mas na vida. Muitas vezes, nosso poder, nossa beleza e nossa complexidade não são vistas", declarou.

"Existe uma ideia de que somos tão fortes que não podemos ser vulneráveis. Às vezes não somos vistas nem mesmo por nossas colegas brancas, existem questões que afetam mulheres pretas porque não somos vistas como valiosas. As Agojie são valiosas, e elas veem isso, porque tudo vem de um lugar de serem importantes", refletiu. "É importante as mulheres pretas veem que podem segurar um sucesso de bilheteria, sem precisar de mulheres brancas, sem precisar de homens. Acho que isso vai significar tudo para nós."

Com estreia marcada para o dia 22 de setembro, "A Mulher Rei" vem em um momento de transformação na carreira e na forma como a atriz vencedora do Oscar por "Um Limite Entre Nós" (2017) se enxerga em Hollywood.

"Uso o exemplo das maiores atrizes que conheci na minha carreira, as 'Meryl Streeps', 'Julianne Moores'... Sabemos que elas são boas, porque elas tiveram a oportunidade de mostrar", comparou.

Elas são escritas assim porque sentimos que elas são merecedoras disso. Minha narrativa como mulher negra é que não sou merecedora, e isso acontece em todos os lugares.
Viola Davis

"Usamos todo tipo de [desculpa], como 'você é mais a melhor amiga, e não a protagonista'. Eu lembro de uma pessoa ter me dito do nada, no meio de uma conversa sobre qualquer coisa: 'você sabe que não é bonita, né?' Eles conseguem te dizer o que você não é sem punição.

"É por isso que estamos levantando as narrativas de pessoas negras", enfatizou. "É importante ter personagens como as do filme porque a arte imita a vida, e precisamos saber que elas também são mulheres. As pessoas não nos verem não é mais aceitável.

Eu preciso fazer isso para eu sentir que também valho a pena. Eu valho tanto quanto as Julianne Moores e as Meryl Streeps.

"A Mulher Rei" tem no elenco também Lashana Lynch, John Boyega, Sheila Atim e Masali Badusa entre o elenco principal. A direção é de Gina Prince-Bythewood.

Para Viola, o filme abre portas para que mais histórias protagonizadas por mulheres negras ganhem as telas. A atriz espera que algo se transforme na indústria.

"Mulheres negras estão no fundo da lista, principalmente quando temos pele escura. Sempre somos vistas como advogadas, médicas que não têm nome, aquela personagem que chega no final com uma fala petulante, a mulher que está chorando a morte do filho", exemplifica.

"Não temos história, não temos nome. Eu me cansei disso. Na minha vida, eu sei quem são essas mulheres, e elas são vastas, complicadas, elas têm beleza. Eu quero que mulheres negras sejam humanizadas, como todos os outros. Se estamos lutando contra colorismo e racismo, esse é o primeiro passo, entender que somos, todos, parte da raça humana. Não somos um artifício de narrativa, não somos uma metáfora."