De novo galã de Hollywood a canibal: como Armie Hammer perdeu tudo
A carreira de Armie Hammer começou no audiovisual em 2005, com alguns pequenos papéis em séries de TV. Com o passar dos anos, a fama foi crescendo, com personagens em grandes produções como "O Cavaleiro Solitário" (2013) e "O Agente da U.N.C.L.E." (2015).
Em 2017, Hammer ficou mundialmente conhecido ao interpretar Oliver no premiado drama "Me Chame Pelo Seu Nome" e, com o sucesso, não faltaram convites e oportunidades de protagonizar cada vez mais e mais títulos. Até que tudo mudou.
Em 2021, no auge da pandemia da covid-19, o ator de 36 anos viu a sua vida e a sua imagem pública se transformarem, apenas algumas semanas depois de ele prometer que aquele seria o seu ano e que o mundo "estaria a seus pés".
Tudo começou quando ele ainda estava isolado com a família.
Depois de passar uma parte de 2020 fazendo quarentena nas Ilhas Cayman com o pai, a madrasta, a esposa e os filhos, Armie marcou um voo de volta para os Estados Unidos. Este teria sido a gota d'água de um casamento que já estava no limite. Em julho daquele ano, sua então esposa Elizabeth Chambers pediu o divórcio.
Seis meses depois, em janeiro de 2021, Armie já circulava com outras mulheres em seus braços, namoradas e casos de curto prazo que não davam sossego aos fotógrafos.
Para ele, parecia ser um bom começo de ano. Solteiro cobiçado, ele estava escalado para grandes projetos, de uma série de "O Poderoso Chefão" a uma possível sequência de "Me Chame pelo Seu Nome" e um filme com Jennifer Lopez.
Tudo mudou algumas semanas depois, quando uma mulher anônima veio a público no Instagram, através do perfil @houseofeffie, alegando que viveu um relacionamento de quatro anos com Hammer, durante o qual ela supostamente teria sido submetida a situações perigosas, violentas e gráficas.
O escândalo tomou proporções maiores quando ela começou a compartilhar capturas de tela de supostas conversas com Hammer, em que ele descrevia fantasias sexuais envolvendo estupro, canibalismo e o desejo de beber seu sangue.
As mensagens não seriam apenas de conversas entre os dois, mas também dele com outras mulheres que, ao verem as denúncias, enviaram-lhe os seus próprios relatos de conversas com Armie. O perfil secundário do ator no Instagram (ou "finsta") foi revelado, e trocas de mensagens com conteúdos que envolvem a prática de BDSM e ideias violentas foram escancaradas para o público.
Em meio a incredulidades e descrenças, Hammer começou a abandonar projetos, mas afirmou que as alegações eram absurdas e que não responderia às mesmas. Tempos depois, ele foi demitido da agência de talentos da qual fazia parte, a WME.
"Ele fez coisas comigo com as quais eu não estava confortável", disse Courtney Vucekovich ao site Page Six, alegando que namorou Hammer de junho a outubro de 2020. "Deus sabe por que, ele me convenceu a fazer essas coisas e me colocou em situações perigosas, em que ele bebia muito e eu ficava assustada."
Enquanto as histórias continuaram a proliferar e outras mulheres se identificaram publicamente, afirmando terem relacionado-se com Hammer e confirmando as alegações de violência e abuso emocional, a própria ex-esposa de Armie veio a público demonstrar seu apoio às vítimas. Em seguida, o departamento policial de Los Angeles abriu uma investigação contra o astro — apesar de isso só ter se tornado público pouco mais de um mês depois.
Enquanto as evidências tornavam-se mais sérias, a imagem pública do galã desejado ía se desfazendo. Mas como pode um astro renomado estar envolvido em alegações tão escabrosas?
Para quem era familiarizado com a família Hammer, os bastidores absurdos escondidos sob uma fachada de vida pública inicialmente absurdas eram apenas mais um capítulo em uma série de histórias que vêm de outras gerações, e que envolvem drogas, sexo, disfunções e traições.
De onde vem a família Hammer
Antes de ascender como astro em Hollywood, Armie já era cercado de dinheiro, e sua família, cercada de polêmicas.
Afinal, ele descende de um ancestral russo, o Dr. Julius Hammer, imigrante que morou no bairro do Bronx, em Nova York, e que foi condenado e preso por homicídio em 1919, após fazer um aborto na esposa de um diplomata, que terminou na morte da mulher.
Os negócios da família começaram com o filho de Julius, Armand, que construiu uma fortuna ao investir dinheiro em uma companhia petrolífera. Armand era o bisavô de Armie.
Segundo uma extensa reportagem publicada pela revista Vanity Fair, a fortuna de Armand cresceu quando ele começou a se aproximar de figuras poderosas — do agora rei Charles 3º ao ditador da Líbia Muamar al-Kadhafi —, e seus negócios nem sempre eram completamente limpos.
Ele chegou a usar dinheiro de fundos artísticos para financiar espionagem soviética e praticou suborno para criar sua reputação nos negócios relacionados ao petróleo.
É uma das netas de Armand, Casey Hammer, quem conta a história das controvérsias da família. Em 2015, ela publicou a biografia "Surviving My Birthright: The Authorized Version" (Sobrevivendo ao meu nascimento: A versão autorizada, em tradução livre), e conta que foi abusada sexualmente pelo próprio pai quando era criança, e que o homem era abusivo com outros membros da família.
Casey conta que seu avô, Armand, era obcecado com a ideia de manter a imagem pública da família intacta, e que chegava a reunir arquivos sobre amigos e interesses amorosos que ela poderia ter para garantir que nada saísse de seu controle. Tudo isso, inclusive gravar e ouvir as conversas telefônicas dos familiares, era feito para garantir que todos estavam "comportando-se adequadamente".
As atividades questionáveis de Armand, segundo Casey, incluem todo tipo de ato. Até mesmo contribuições financeiras ilegais à campanha do presidente Richard Nixon, que depois foram usadas para encobrir o caso Watergate, teriam sido feitas por ele.
No campo sexual, Armand teria tido várias amantes, e forçado uma delas, Martha Kaufman, a mudar de nome e usar disfarces depois que a esposa dele, Frances, começou a suspeitar da traição.
O caso teria durado mais de uma década, e Armand teria prometido cuidar dela e dos filhos dela após a própria morte. De acordo com o biógrafo de Armand, ele teria obrigado Martha a usar um localizador no carro e teria colocado uma escuta no telefone dela para que sempre pudesse localizá-la.
Além disso, ela tinha "obrigações sexuais" com o homem, e era forçada a se sujeitar aos seus desejos dele na hora e no local que ele requisitasse, por mais humilhantes que fossem as situações.
Quando o magnata morreu, em 1990, deixou Martha de fora do testamento, e transferiu as responsabilidades dos negócios para o neto, Michael — irmão de Casey e pai de Armie. Para Casey, havia um recado claro aí. Armand acreditava que o seu filho, Julian (pai de Casey e de Michael) causava problemas demais, e que era uma afronta para as aparências mantidas pela família.
Julian também deixava um rastro de problemas. Ele foi acusado de abusar sexualmente de Casey, sua filha, e de matar um homem.
O caso teria acontecido em 1955, logo após o aniversário de 26 anos de Julian. O então rapaz teria cometido o assassinato em sua casa, em Los Angeles, por causa de uma dívida de apostas e supostos avanços contra sua esposa. Depois de os jornais manchetarem o assassinato cometido pelo filho de um milionário, Armand teria desembolsado US$ 50 mil para que as acusações fossem arquivadas e a imagem de seu filho e da sua família poupadas.
De acordo com a Vanity Fair, o histórico não parou por aí. Assim como o pai, Michael sofria com excessos, apresentando problemas com bebidas que já foram confirmados pelo próprio Armie Hammer antes de todo o tumulto. Drogas e álcool faziam parte do repertório antes de ele recorrer à religião, e redirecionar fundos da Fundação Hammer para grupos cristãos.
Além disso, uma das heranças recebidas por Michael pelo avô foi a galeria de arte Knoedler, em Nova York. Fundada em 1846 como uma das instituições artísticas mais veneradas da megalópole, a galeria foi fechada em 2011 após escândalos com quadros falsos vendidos como verdadeiros, adquiridos pela então presidente Ann Freedman. Uma investigação conduzida pelo FBI descobriu que a galeria vendia peças falsas de 1994 a 2009.
Por tudo isso, os escândalos envolvendo Armie Hammer tornaram-se mais um capítulo no sórdido histórico da família. Para Casey, nada daquilo realmente choca.
"Não me choco muito por causa das minhas experiências pessoais e a forma como cresci em minha família. Foram gerações de homens abusivos", disse, em entrevista a Universa. "Para mim, uma vez que se tornou público, tínhamos que responsabilizar os culpados e colocar um fim nisso. Chegamos ao limite. Estou dizendo isso há 61 anos, que vejo o comportamento em minha família. Chegou a hora de parar."
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