'Rota 66': qual é a 'polícia que mata' citada em série sobre Caco Barcellos
Estreia hoje no Globoplay a série "Rota 66 - A Polícia Que Mata". Trata-se da adaptação do livro homônimo de Caco Barcellos lançado em 1992 e vencedor do Prêmio Jabuti. O livro é fruto da investigação do jornalista sobre o que ficou conhecido como "o caso da Rota 66".
No dia 23 de abril de 1975, três jovens entre 17 e 22 anos foram executados pela patrulha 66 da Rota. Eles roubavam o toca-fitas de um carro quando se depararam com uma viatura da Rota e tentaram fugir. Os policiais alegaram legitima defesa durante troca de tiros e foram absolvidos em julgamento, mas Caco apurou que a história tinha contradições e era diferente do que eles contavam.
Mas o que é, de fato, a Rota? É a sigla para Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a tropa de elite da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Integrante do 1° Batalhão de Choque, ela foi criada em 1970, durante a ditadura militar, para combater guerrilhas urbanas contrárias ao regime autoritário.
A tropa apresenta, desde o seu início, altos índices de letalidade, formação de esquadrões da morte atuantes nas periferias e práticas de violação dos direitos humanos, segundo o site Memorial da Resistência, ligado ao governo do Estado de São Paulo. A Rota também está associada ao massacre do Carandiru.
Foi a partir da apuração do caso Rota 66 que Caco Barcellos conseguiu identificar a alta letalidade das operações da tropa e uma ferida aberta: a morte de inocentes. Ele identificou 4.200 mortes ocorridas entre a década de 70 e a publicação do livro. Do total, 2.200 vítimas eram inocentes, o que representa mais de 50% das mortes catalogadas por ele.
Do livro ao audiovisual
Inspirada na obra jornalística de Caco Barcellos, a série mistura dramaturgia e fatos reais. Os dois primeiros episódios chegam hoje ao Globoplay e mostram o ponto de partida da investigação: o julgamento de policiais da Rota. Eles são absolvidos pela Justiça, mas Caco não se limita a noticiar apenas o resultado. Ele encontra contradições nas declarações e identifica a existência de um grupo de matadores que opera com o aparente aval da justiça militar.
A série narra o passo a passo da investigação do jornalista, que é interpretado pelo ator Humberto Carrão. Nos dois episódios iniciais, é possível identificar que a série intercala as descobertas na apuração e mosdtra detalhes da vida pessoal do jornalista naquele momento, mas não tira o foco do sofrimento dos familiares das vítimas. As histórias de injustiças se entrelaçam e se conectam entre um episódio e outro.
Apesar de ser um livro de 1992, a história da série segue atual, reacende o debate sobre a violência policial e aborda outras questões sociais.
"Os números de hoje são piores que os números que fizeram o Caco escrever essa história. Outra coisa da série que está na nossa vida é a violência contra os jornalistas na rua. Tem a questão de uma politização cada vez maior da polícia. Não é à toa que matadores cada vez mais se candidatam e se elegem. (Tem a questão) dos matadores terem ambições midiáticas com os seus jornais, rádios, e programas de TV. Está claro na série", disse Humberto Carrão durante coletiva de divulgação da série.
Para se preparar, o ator viveu uma vida de repórter por dois dias ao lado do comandante do "Profissão Repórter". O ator acompanhou o jornalista até o Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, durante reportagem sobre os dez anos da morte da juíza Patrícia Acioli, executada em Niterói após prender policiais.
"Quando conheci o Caco, o assunto que ele estava trabalhando era o mesmo da série, a violência policial. E no Complexo do Salgueiro, dez anos depois, os números do batalhão dos policiais que a juíza prendeu são muito piores... Tenho a esperança de que as coisas possam se transformar, mas também tenho a frustração e a tristeza de que trabalhos tão contundentes tenham sido feitos nesses anos e, mesmo assim, os números continuem muito altos", desabafou Humberto.
O elenco da série ainda conta com Lara Tremouroux, como Luli (namorada do jornalista), e Naruna Costa, como Anabela (a esposa de um trabalhador executado), além de Aílton Graça, Rafael Lozano, Wesley Guimarães e outros nomes. A cada semana, dois novos episódios serão disponibilizados na plataforma de streaming. No total, serão oito.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.