Emílio Orciollo Netto: 'O homem branco-hetero-cis tem que se ligar!'
No "Splash Entrevista" desta semana, o apresentador Zeca Camargo conversou com Emilio Orciollo Netto, que está em cartaz em São Paulo com o monólogo teatral "Muito Pelo Contrário". A peça, uma comédia dramática atualíssima, foi escrita por Antônio Prata exclusivamente para o ator poder cutucar os homens da plateia.
"É sempre bom dizer que esse homem branco-hetero-cis tem que se ligar", provoca Emilio, autodefinido como "machista em desconstrução". Em cena, o ator vive Rodrigo, casado com Gabi e pai de uma criança de 2 anos.
No contexto da pandemia, o personagem passa a questionar a paternidade, o dia-a-dia do casal , fidelidade, sexualidade. Mas não há a menor possibilidade de "passar pano" para os homens na peça. Muito pelo contrário.
"O espetáculo mostra o comportamento masculino enraizado no machismo e no preconceito", diz o ator. "Quem nasceu entre os anos 1970 e 1980 tem muitas dessas características, são os caras que da geração da culpa, do "homem não chora", do machão. O Rodrigo está nessa crise dentro de casa", explica.
A peça é um grande 'se liga aí, meu irmão!'. Não é um "ai, coitadinho de mim neste mundo". Tem alguns comportamentos que não podem mais continuar. Para os homens com senso de humor, é uma boa oportunidade de rir de si mesmos.
'O mais legal são os risos nervosos da plateia'
Por isso mesmo, Emilio Orciollo Netto sonha que todos os homens possam assistir à peça. "A gente não julga ninguém", avisa.
"Ela fala de três gerações: tem o tiozão mais velho, amarrado aos preconceitos do passado; tem o hispter desconstruído do amor livre, panssexual", conta. A terceira é justamente a geração de Rodrigo.
Ele é esse cara que pega essa liberdade toda que os pais da geração de 68 conquistaram e coloca a sexualidade numa redoma de puritanismo. Isso é o reflexo de uma geração.
O ator tem adorado as reações da plateia no Teatro Unimed, onde está em cartaz.
O texto causa algumas provocações, dá um tapinha aqui, um ali, e quando você vê se reconhece em determinados momentos, seja de qual geração você for. Mas o mais legal é ouvir os risos nervosos da plateia. Eles estão rindo de si mesmos.
Cena de incesto na Record: 'Mergulho profundo'
Emílio começou a pensar neste espetáculo em 2018, pouco tempo depois de se tornar pai, e também de assinar contrato com a Record, emissora com a qual tem contrato até abril do próximo ano.
"Saí da TV Globo em 2017. Meu filho tinha acabado de nascer, chega uma emissora e diz 'temos um projeto para você'. Se o projeto é bacana, você diz: 'vamos nessa!'.
Na Record, um dos maiores desafios aconteceu em 2021, quando interpretou o personagem Ló na novela "Gênesis" e precisou interpretar uma complicada cena de incesto.
Quando sou escalado para viver um personagem, não entro em questões com ele. Se tem contexto e direcionamento, eu interpreto. Sou um instrumento para contar a história.
A experiência também ajuda na hora de interpretar cenas difíceis, como a vivida em "Gênesis".
Foi um grande exercício, um mergulho muito profundo, e a gente vai. Mas eu não costumo trazer o personagem pra casa ou ficar sofrendo, entrando numas. Ainda mais depois de 33 anos de profissão.
'Julgar os personagens é caretice'
Zeca Camargo lembrou que Emílio, que iniciou como galã na Globo, enveredou pelo humor antes de interpretar personagens bíblicos na Record. Emílio acha ótimo não ser enquadrado em um tipo só.
Eu gosto de trabalhar. Sou um operário do meu ofício, um contador de histórias.
Na entrevista, o ator revelou que seus novos personagens continuam ecléticos como sempre. "Vou fazer o pai do Mauricio de Souza no novo longa do Pedro Vasconcellos. Mas já fiz Odebrecht em 'O Mecanismo', interpretei o economista Gustavo Franco [em 'Real - o plano por trás da história']..."
Se você for julgar os seus personagens, fica careta, é 'enlatado' pela indústria.
Emílio começa sua participação no longa de Pedro Vasconcellos ainda em setembro. Em novembro, estará em outra produção cercada de expectativas: um filme sobre a vida de ngela Diniz, socialite vítima de feminicídio em 1976, num dos crimes mais rumorosos do século 20 no Brasil. A direção será de Hugo Prata. "Mas ainda não posso falar do meu personagem", disse.
Splash Entrevista
Apresentado por Zeca Camargo, o programa recebe artistas e celebridades para um papo sincero sobre vida e carreira. Os episódios são disponibilizados toda quarta, a partir das 10h, no canal de Splash no YouTube e no UOL.
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