Fake news sobre Arlindo Cruz causam dor à família: 'Já mataram 7 vezes'
A caminho da loja da família em Madureira, bairro emblemático do subúrbio do Rio e da carreira de Arlindo, Flora Cruz conversou com Splash por videochamada para falar da relação com o pai.
O sambista sofreu um AVC hemorrágico em 2017 e vive atualmente sob cuidados médicos em casa, mas segue lúcido e acompanha o empreendimento montado em sua homenagem.
Desde então, diversas notícias falsas a respeito da saúde do sambista já se espalharam nas redes sociais. Flora conta que a família já teve de negar a morte do sambista algumas vezes. As fake news já causaram apreensão aos familiares.
"Uma vez, meu irmão estava em Manaus, era um voo demorado para o Rio. Ele estava sem telefone e chegou aqui achando que meu pai já tinha falecido. Nesse dia, ele perdeu bagagem, telefone, banjo, que é o instrumento de trabalho dele, foi para o hospital e meu pai estava ótimo. Ele chegou muito nervoso e caiu duro no chão, desmaiou de nervoso", lembra.
Já mataram o meu pai umas sete vezes. Antes de a minha avó falecer, meu pai já estava doente e ela assistiu na TV uma notícia falsa da morte dele. Era uma notícia falsa sobre o filho dela, sabe? Os fãs também sofrem porque meu pai é muito amado.
Arlindo ficou por quase dois anos no hospital e demandou atenção integral de Flora e da mãe, Babi. Atualmente, ele não consegue falar, nem andar, mas está estável e apresenta momentos de lucidez. A família não tem esperança de que ele volte a fazer música.
"Somente 17% da população que tem um AVC hemorrágico chega ao hospital com vida. Ele é um milagre. Quero o meu pai do jeitinho que der até quando for possível. A gente não tem pressa, a gente está aqui para cuidar e amar, como tem sido nesses cinco anos. Costumo dizer que não quero que ele levante e saia correndo, porque ele já não corria, nem espero que volte aos palcos. Ele já cumpriu a missão dele e deixou um legado lindo", diz.
"A gente está cuidando do espírito, está amando e curtindo ele. Todo o carinho que ele recebe de fã, a gente dá um jeito de levar para casa, de mostrar, são presentes de diferentes religiões... Ele entende que é muito amado. Meu pai sempre foi ídolo, sempre muito amado, mas depois que ficou dodói, isso multiplicou", completa.
Boatos de que a família passava necessidade após o cantor interromper os shows também já circularam na internet, mas Flora conta que eles vivem confortavelmente. Ela, que cursa o terceiro semestre de Moda em uma faculdade particular, cria o filho com o dinheiro das redes sociais e da loja inaugurada recentemente.
"Hoje, a gente vive uma vida muito confortável. Eu sempre trabalhei com as redes sociais, é onde mantenho o meu filho. Hoje, eu não estou com a frequência de antes por conta da loja, mas para isso houve um planejamento financeiro", explica.
Loja O Meu Lugar
Com o quadro clínico estável, Flora e o irmão, Arlindinho, estão "seguindo a vida porque o tempo não espera". Cada um tem seus projetos individuais. Arlindinho herdou o talento musical e faz shows pelo país, enquanto Flora gerencia a loja "O Meu Lugar", que vende objetos em homenagem ao pai, como camisetas, canecas e bonés
Inaugurada há um mês, a loja fica instalada no Mercadão de Madureira, um dos principais centros comerciais do Rio. Flora conta que a loja serve para manter o legado do artista vivo. Além de cuidar do administrativo, a filha de Arlindo também é responsável pelo setor de criação.
"O Arlindão não é só cantor e compositor. Ele é ídolo de muita gente. E, no atual estado de saúde dele, as pessoas estão com muita saudade. A loja é uma forma de aproximar essas pessoas dele. A loja tem uma foto dele em tamanho real, onde as pessoas rezam, beijam, choram, abraçam... Eu choro junto. Toda vez que estou na loja, alguém me conta uma história que teve com meu pai.
A loja vem para eternizar ainda mais a carinha do Arlindão, para que ele possa ser imortal, sabe? Além do lado financeiro, porque todo dinheiro é bem-vindo, ninguém vive sem grana.
Apesar de não se locomover até a loja, Arlindo Cruz sabe de tudo o que acontece no local, que em breve deve abrigar também uma fundação focada em projetos sociais e culturais.
"Tudo que eu faço da loja assim eu conto para ele... A primeira vez que fui a um polo têxtil, eu me emocionei. Cheguei em casa, corri para mostrar o tecido para ele, coloquei a mãozinha dele. Ele ri, chora, se mexe, levanta a mão, dá beijinho", conta.
"Eu sou a contramão"
Estudante de Moda, Flora Cruz compartilha o dia a dia nas redes sociais. No Instagram, ela dá dicas de looks e beleza, mas também fala de assuntos sérios, como gordofobia e maternidade solo.
"Costumo dizer que eu sou a contramão de tudo acham ser certo. Sou preta, gorda, macumbeira, fui mãe na adolescência e solo. Porr*, eu sou toda errada? Impor isso choca as pessoas. Entendo que essa quebra de tabus sobre padrão é uma causa histórica", pensa.
Sua presença nas redes sociais nem sempre agrada todo mundo. Recentemente, ela recebeu ataques preconceituosos por posar de lingerie.
As pessoas acham que gordo não transa. Se a mulher gorda não tem direito de botar uma lingerie.
"Recentemente, li um comentário de um coroa falando que se meu pai tivesse 'bom', eu jamais seria essa piranha que eu estava sendo na internet porque o meu pai não permitiria. Extremo machismo. Se ele quer viver na ditadura, problema dele. Mas é bizarro. Hoje, eu me considero, sim, uma quebradora de tabus", opina.
"Há um tempo, eu quebrei um tabu comigo que era usar biquíni de lacinho. Nunca tinha usado. E aquilo revolucionou na internet. Muitas mulheres falaram que depois que usei, elas também usaram. Recebo relatos bacanas da galera falando que eu consigo ajudar de alguma forma, que eu interferi na vida da filha. Só não desisti da internet por causa disso", continua.
Maternidade solo
No papo com Splash, Flora ainda falou sobre a relação com o filho, Ridan, de 3 anos. Ela foi mãe aos 17 e pode viver uma maternidade plena por ter um aparato familiar, mas sabe que não é a realidade da maioria das meninas.
"Ele é tudo para mim e veio na hora certa. Deus sabe das coisas. O Ridan não atrasou minha vida, só me deu impulso e me dá força para viver todos os dias. Sou mãe babona, coruja, chata para cacete. Ele é muito carinhoso, sabe quando não estou bem, me dá beijinhos. É meu amigão", diz, animada.
"Mas não estou aqui para romantizar a gravidez na adolescência. É difícil. Eu tive estrutura da minha mãe e família. Se não fosse essa estrutura, seria muito mais difícil. Aconselho a se cuidar, usar camisinha e tomar o anticoncepcional certinho. Geralmente, a mulher abandona os estudos e os sonhos, não faz uma faculdade, não se torna uma mulher com opinião formada", finaliza.
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