Antes de nos aprofundarmos na trama e nas premissas de "Não Se Preocupe, Querida", é preciso pincelar as polêmicas que rondam os bastidores da produção do longa assinado por Olivia Wilde.
Os ruídos que envolvem o elenco e equipe parecem intermináveis e, por isso, nem todos serão citados aqui. Contudo, seria leviano negar que o lançamento deste filme, que aconteceu no Brasil na última quinta-feira, foi ofuscado por rumores de adultério, trocas de elenco com direito a contradições, e supostos comportamentos questionáveis de atores nos sets de filmagem.
As atitudes recentes da protagonista Florence Pugh foram um prato cheio para os amantes das fofocas hollywoodianas.
Muito se falou sobre a ausência dela em importantes eventos de divulgação do longa e as tímidas menções ao filme nas redes sociais da atriz. Um suposto atrito entre ela, Harry Styles, Olivia Wilde e até Shia LaBeouf, antes de o ator ser desligado do projeto, figuram como alguns dos principais assuntos do momento.
À Harper's Bazaar, Pugh falou de sua insatisfação com a mídia, que vem explorando à exaustão as cenas de intimidade entre ela e Styles na trama:
Quando se é reduzida às suas cenas de sexo, ou assistir ao homem mais famoso do mundo cair em cima de alguém, não é por esse motivo que fazemos isso. Não é por isso que estou nessa indústria. Obviamente, pela natureza de contratar o astro pop mais famoso do mundo, você terá conversas assim. Mas isso não é o que vou discutir porque [este filme é] maior e melhor do que isso. E as pessoas que o fizeram são maiores e melhores do que isso.
Florence Pugh
A primeira exibição de "Não Se Preocupe, Querida" aconteceu no Festival Internacional de Cinema de Veneza, no começo do mês. Em meio a críticas mistas na ocasião, o filme foi aplaudido de pé pelos presentes por cinco minutos.
Pugh ganhou destaque e teve a sua atuação bastante elogiada pelo público do festival. Ainda assim, as polêmicas abafaram estreia mundial da produção: muitos sites preferiram reportar um suposto cuspe dado por Styles em Chris Pine — que também estrela o longa — do que a recepção do filme no evento.
O que foi um prato cheio para os tabloides, certamente foi um desastre para o longa e todo o seu potencial — e, quando um filme é dirigido, escrito, protagonizado por mulheres e questiona as estruturas de uma sociedade machista, a balança parece ser ainda mais cruel.
Acusada de infidelidade no casamento com o queridinho da crítica Jason Sudeikis, e de ter mentido para Shia LaBeouf, Wilde parece ser vítima do sistema que ela busca criticar.
Afinal, as polêmicas devem ser motivo de preocupação?
O roteiro de Katie Silberman ("Fora de Série" e "Megarrromântico") nos apresenta à dona de casa Alice (Pugh), vivendo em um típico subúrbio norte-americano dos anos 1950. Com figurinos e cenários que nos transportam para a década em questão, ela e Jack (Styles) dividem uma vida aparentemente perfeita e heteronormativa, com estética e performance bem semelhantes às vistas nas sitcoms da época.
"Performance" é a palavra mais adequada para descrever o dia a dia desses casais, pois nada ali soa orgânico ou natural. Os homens deixam suas casas diária e pontualmente, e as mulheres são proibidas de perguntar com o quê e onde eles trabalham.
Num roteiro que bebe da fonte de suspenses contemporâneos, como "A Vila" (2004), "Corra!" (2017), "O Show de Truman" (1998) e "Matrix" (1999) — alguns desses, inclusive, foram referências declaradas da diretora —, "Não Se Preocupe, Querida" propõe uma reflexão sobre o feminino e o lugar imposto socialmente ao gênero.
Além de entregar uma de suas melhores performances, Florence brilha à medida em que Alice luta para entender o que seu marido e vizinhos escondem, e o que aconteceu com Margaret (KiKi Layne), sua amiga que parece tanto assombrada, quanto esclarecida.
Construindo de forma escalonada a tensão de Alice e das outras habitantes da vila do Projeto Vitória, uma espécie de sociedade beta na qual vivem os casais, vemos personagens femininas afogando-se no patriarcado, e optando por seguir marés conformadas ou combativas — assim como fazemos na vida real, dia após dia.
O longa pode não ter um roteiro tão criativo ou disruptivo quanto o de "Corra!", eleito recentemente o melhor script deste século pelo Sindicato de Roteiristas dos EUA.
Contudo, a coragem de Wilde, principalmente levando-se em consideração a pouca experiência da famosa atriz de "House" como diretora, tem seu valor. Dar luz à questões de gênero num thriller de ficção científica é mérito dela, de Silberman e do elenco feminino visceral — e de raras outras destemidas de Hollywood.
A miscelânea exagerada de referências talvez nos faça cair no "eu já vi isso antes". Mas, convenhamos, essa não é a primeira vez que isso acontece, não será a última, tampouco tira o brilho único da narrativa. A pergunta que fica é a seguinte: a temática te toca ou faz refletir? Se não funciona, por que será?
Às vezes é difícil criar a empatia necessária para envolver-se numa história quando, nem com muito esforço, a dinâmica das personagens gera identificação no público. E talvez, querida, quando um drama sobre mulheres não emociona a maioria, este seja o verdadeiro motivo para a nossa preocupação.
(trailer)
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