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'Ato escatológico': o que sabemos sobre a condenação por estupro de Lehart

Leandro Lehart - Mariana Pekin/UOL
Leandro Lehart Imagem: Mariana Pekin/UOL

De Splash, no Rio

25/09/2022 04h00

Fundador do grupo Art Popular, o cantor Leandro Lehart, de 50 anos, foi condenado a quase 10 anos de prisão por estupro e manutenção de cárcere privado no início deste mês. O caso ganhou repercussão ao ser inicialmente veiculado pelo "Balanço Geral", da TV Record, no dia 16.

Splash confirmou com o Ministério Público de São Paulo que as principais provas contra o artista foram os depoimentos da vítima, Rita de Cássia Correia, e de sua psicóloga.

Em entrevista dada ao "Fantástico", da TV Globo, no último domingo, Rita afirmou que havia tido relações sexuais com o músico antes do estupro, e que ele nunca havia sido violento.

Em 2019, no entanto, Leandro mudou de postura, chegando a imobilizá-la, proferir ofensas racistas e submetê-la a situações degradantes. A reportagem descreveu um dos momentos relatados pela vítima como "um ato grotesco e escatológico de violência". "Quem tem que ter vergonha não sou eu, é ele", afirmou Rita.

Lehart recorre da condenação em liberdade e o caso será analisado pela segunda instância. Na sexta-feira (23), foi publicado o edital de intimação dos advogados no Diário Oficial de Justiça.

Detalhamento do caso

A relação dos dois começou em 2017. Na ocasião, Rita mandou uma mensagem elogiando o trabalho de Leandro e foi convidada à casa dele para tocar piano e conhecer o estúdio. O imóvel fica numa região nobre da zona norte de São Paulo.

Em cinco encontros, houve relações sexuais: "Sempre muito educado, muito gentil, muito cortês", descreveu Rita ao "Fantástico".

Em 2019, no entanto, os dois estavam no quarto do músico quando ele sugeriu que fossem ao banheiro. Lá, segundo Rita, Leandro adotou uma postura agressiva, a imobilizou e cometeu o ato:

Já comecei a me debater pedindo para ele parar e tentando tirá-lo de cima de mim, mas eu não conseguia. Ele ainda se masturbou até chegar ao orgasmo.

Em seguida, ele a deixou trancada no banheiro: "Gritava para ele me deixar sair de lá, e ele não deixava. 'Só vou te deixar sair daí quando você se acalmar para a gente poder conversar'".

"Ele disse que eu poderia fazer com ele da mesma forma porque eu estava exagerando, que eu ia ver que não é assim. Que só da primeira vez que eu iria ficar assim, assustada."

Rita disse que Leandro passou a questionar se ela esperava um relacionamento sério e proferiu ofensas racistas: "O que você acha que eu gostaria de uma negrinha como você?"

Ela conta que, após o episódio, desenvolveu sérios problemas emocionais, perdeu o emprego e tentou suicídio: "Me joguei de um lance de escadas muito grande ali no desespero, querendo fugir de tudo o que eu estava passando".

Cerca de seis meses depois do ocorrido, Leandro Lehart voltou a procurar Rita: "Por mensagens, ele começou a se redimir sem assumir a sua culpa numa confissão".

Em mensagem, o músico teria dito: "Se te humilhei sexualmente e você está nessa situação, eu assumo isso. Com muita vergonha, mas assumo. Porque fiz isso com uma mulher, em troca do meu prazer. Fui egoísta. Se você se sentir no direito de me denunciar, faça. Não ficarei chateado".

Ela afirma, ainda, que Leandro lhe deu dinheiro em três ocasiões, em valores entre R$ 200 e R$ 900. Em outubro de 2020, ele registrou um boletim de ocorrência dizendo que estava sendo chantageado ou extorquido.

O que diz o cantor?

Os advogados de Lehart se pronunciaram sobre o caso nas redes sociais do músico.

"A defesa técnica de Leandro Lehart, em atenção aos pedidos da imprensa por comentários, informa que o caso corre em segredo de Justiça e ainda pende de decisão final, o que impede maiores considerações quanto aos fatos. De toda sorte, Leandro e seus advogados seguem confiantes no Poder Judiciário e que a verdade prevalecerá, com sua consequente absolvição", disse a nota.

No Instagram, o músico afirmou que está sendo vítima de uma "grande injustiça". Ele disse acreditar que a Justiça prevalecerá no final das investigações.

"Meus amores, Estou sendo vítima de uma grande injustiça, mas a verdade vai prevalecer em breve. São 40 anos de carreira e 50 anos de vida acreditando na justiça, e mesmo que ela tarde, ela não falha. E a maldade não prevalecerá nunca. Obrigado por tudo", disse.

Quem é Leandro Lehart?

Leandro Lehart nasceu em 25 de janeiro de 1972, no Jardim São Bento, na zona de norte de São Paulo. Criado em família de artistas, ele iniciou os primeiros passos no mundo da música ainda garoto com apresentações em bailes de black music e festas de hip-hop.

Fundador do grupo Art Popular, ele é o compositor de sucessos dos hits "Pimpolho" e "Agamamou". Também participou da "Casa dos Artistas" (SBT), venceu um pré-câncer durante o período de isolamento social causado pela covid, entre outros fatos.

Aos 16 anos, Lehart, no entanto, começou a ter uma grande identificação com o samba e encantava os amigos ao conseguir unir o ritmo de fundo de quintal com as batidas da música pop.

Após mergulhar nos estudos de percussão musical e diversidade cultural brasileira, ele fundou o grupo Art Popular ao lado do irmão, Evandro Soares, e mais três amigos, em 1990, e começou a fazer sucesso pelo Brasil, com a venda de 20 mil discos.

Em 2005, Leandro Lehart deixou o Art Popular para investir em projetos solos, como a produção do documentário "Mestiço - Novo Ritmo do Brasil", mas retornou ao grupo para continuar a história que possui nove discos de ouro, sete discos de platina e um disco de diamante.

Segundo o seu site oficial, Leandro Lehart é ativista social de projetos sociais como Samba Cura o Câncer e Samba do Voluntário, além de ajudar a arrecadar dinheiro para instituições filantrópicas e regiões periféricas.

Em 2022, o cantor voltou ao centro dos holofotes ao ser convidado pelo grupo Disney para atuar na ação de especial de 80 anos do personagem Zé Carioca.

Ele produziu a canção "Os Zés do Brasil" e dirigiu a produção da gravação da música com o cantor Xande de Pilares. O videoclipe do trabalho foi lançado no início de setembro.