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Quem foi Eliane Lorett, atriz e professora morta em tentativa de assalto

Eliane Lorett de Campos, 58, foi morta a tiros durante uma tentativa de roubo em Marechal Hermes, no Rio - Reprodução de vídeo e Facebook
Eliane Lorett de Campos, 58, foi morta a tiros durante uma tentativa de roubo em Marechal Hermes, no Rio Imagem: Reprodução de vídeo e Facebook

Tatiana Campbell

Colaboração ao UOL, do Rio de Janeiro

07/10/2022 18h43

Formada em educação física pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Eliane Lorett, 58, trabalhou como professora e atuava há mais de 20 anos. A atriz fazia parte de uma plataforma que facilitava a interação entre artistas, produtores e agentes - dando mais visibilidade e oportunidades de trabalho. O palco era uma das suas maiores paixões.

Porém, a violência no Rio de Janeiro fez com que tudo acabasse. Eliane foi morta com um tiro na cabeça durante uma tentativa de assalto, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na noite da última quarta-feira (05).

Quem teve a oportunidade de conviver com Eliane, não consegue esquecer as lembranças construídas desde a infância.

"Eliane era vida. Infelizmente, tiraram isso dela, mas ela era vida. Que pessoa feliz! Sempre se destacou, desde pequena. Estudamos juntas e nunca mais nos separamos. Ela sempre foi muito animada, alegre. São tantas lembranças boas. Era uma menina muito educada, por isso sempre teve tantos amigos", lembra Nelma Valadão, durante o enterro da atriz, realizado hoje, na Zona Oeste da cidade.

Os anos se passaram, Eliane teve dois filhos e há alguns anos teve a alegria de ser avó. A família sempre foi prioridade na vida da atriz, que fazia questão de demonstrar esse amor nas redes sociais.

O irmão, Renato Lorett, 51, fala como era a Eliane no convívio dos parentes. "Ela foi fundamental na minha formação como pessoa, me ensinou quase tudo de valor, ela tinha esse dom. Todas as pessoas que passaram pela vida da minha irmã se tornaram pessoas melhores. Era uma amiga que agregava na vida das pessoas. Cuidou dos filhos, dos netos e até agora cuidava da nossa mãe de 93 anos".

Querida por colegas e familiares, Eliane tinha amigos desde a época da infância - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Querida por colegas e familiares, Eliane tinha amigos desde a época da infância
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Paixão pela arte

Renato Lorett também falou sobre a paixão da irmã pela arte, que segundo ele, sempre foi evidente. Ele conta que Eliane começou a se dedicar aos palcos perto da aposentadoria.

"Ela sempre disse para mim que deveríamos ter coragem. Teve uma jornada de professora, mas abraçou o dom natural dela de ser atriz. E ela conseguiu ser essa pessoa extraordinária, se superou muito. Mesmo que tenha tido perdas emocionais, ela se reinventou".

Nos palcos, muitos amigos também foram feitos. Para o público, Eliane era uma atriz que se doava para o personagem e transmitia vibrações positivas.

"Foi um extremo pesar para o nosso círculo. Ela era nossa amiga de vida e de cena. Ela é, não foi, ela é um ser de luz, de positividade, tinha aquela frequência positiva. Eliane amava tanto o teatro, a vida, estar no palco era onde ela se encontrava e sempre dizia isso. Ela transmitia energia e alegria, não tinha como não sorrir ao lado dela. Que atriz espetacular nós perdemos para essa violência desenfreada", lamenta Ronaldo Ramires, ator e amigo da vítima.

Eliane Lorett trabalhou como professora e atuava há mais de 20 anos - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Eliane Lorett trabalhou como professora e atuava há mais de 20 anos
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Legado no ensino

Durante o período em que foi professora de educação física, Eliane cativou o carinho e respeito de muitos alunos.

"Eu lembro de tantos momentos com ela. Sempre me incentivava quando eu ficava com vergonha de apresentar algum trabalho. Sempre ajudava a gente, dava aquele apoio, um ombro, ouvia quando precisávamos desabafar. Era aquela professora mãe, sabe? Que acolhia os alunos. Ela vai deixar muita saudade. Era uma pessoa que deixou um legado incrível", relata Gabriela Souza, aluna da Escola Municipal Ramiz Galvão, unidade da Zona Oeste do Rio.

Professores também se manifestaram a respeito da morte de Eliane. Um deles foi Iuri Furtado.

"No início tínhamos em comum apenas o fato de sermos professores de educação física. Com o tempo, fomos descobrindo outras afinidades como, por exemplo, o teatro e a vontade de transformar para melhor a vida dos nossos alunos. Encontrei com ela recentemente e ela estava tão feliz, me contando que havia se aposentado e estava finalmente fazendo o que tanto amava: atuar. Trabalhamos a vida toda para isso? Quando enfim ela pôde aproveitar o resto da vida, um qualquer interrompe os sonhos", desabafa.

Relembre o caso

Eliane Lorett ia deixar uma amiga em casa, após sair do teatro, quando foi abordada por dois assaltantes na rua Costa Filhos, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio. O crime aconteceu por volta das 21h50 de quarta-feira (05) e foi flagrado por câmeras de segurança. Toda a ação dura cerca de seis segundos.

A dupla caminhava pela calçada quando um deles - um adolescente de 15 anos - aponta a arma na direção do carro onde a vítima estava com a amiga. Ela então reduz a velocidade, mas o assaltante atira mesmo assim. Dois disparos são realizados com um revólver calibre 38, um deles atinge a cabeça da atriz.

Nas imagens, é possível ver que Eliane Lorett ainda dirige por alguns metros, mas logo em seguida bate com o carro em um poste.

Moradores da região acionam o Corpo de Bombeiros, porém, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, morre antes mesmo de dar entrada no Hospital Getúlio Vargas.

Suspeitos são detidos

Ontem à noite policiais civis da 24ª DP (Piedade) após denúncia anônima foram até uma praça de Marechal Hermes - próximo do local do crime - e apreenderam o adolescente de 15 anos suspeito de realizar o disparo que matou Eliane.

Horas depois, os agentes conseguiram prender o segundo assaltante que aparece nas imagens. Os dois foram levados para a Delegacia de Homicídios e serão ouvidos.

O UOL apurou que a arma usada no crime foi emprestada por traficantes de uma comunidade e que o lucro obtido com o roubo seria dividido entre os dois presos e por quem deu o revólver para o adolescente.