'Cenas cansativas e forçadas': ex-atrizes pornôs reclamam do mundo 18+
A modelo e ex-atriz pornô Lana Rhoades, de 26 anos, se tornou um dos assuntos da última semana ao entrar para o time das famosas que fazem coro para o fim da indústria pornográfica. Na visão dela, como a de outras artistas do conteúdo adulto, a mulher sofre com o ambiente "tóxico" e de "desvalorização".
Em entrevista ao podcast "The Skinny Confidential Him & Her", Lana afirmou que ainda estava assustada com a experiência. "Eu só acho que não é bom para ninguém. Eles deveriam tornar isso ilegal", declarou.
Ela tinha apenas 19 anos quando apareceu em sua primeira cena em filme pornô, e confessou ser ingênua por ter pensado que sabia onde estava se metendo.
"Por alguma razão, eu não havia compreendido que para fazer pornografia você realmente tem que fazer sexo com as pessoas", desabafou.
Após algumas filmagens, ela faturou dinheiro, mas, ao mesmo tempo, sentiu o peso de trabalhar na indústria pornográfica e descobriu que não se sentia bem. "É como um número de circo. Enquanto estava filmando, eu tinha que pensar: 'Qual feição eu adoto? Qual barulho eu faço? O que faço agora para fazer desse o melhor filme?'". Ela acrescentou se tratar de uma indústria "infestada pelo abuso de drogas e álcool".
Além dela, ex-atrizes pornôs como Mia Khalifa, Chloe Cherry e Crystal DiGregorio, entre outras, criticaram publicamente a indústria pornográfica.
Indústria pornô é 'tóxica'
Mia Khalifa ficou famosa ao protagonizar 11 filmes de entretenimento adulto — ela fez sua estreia nesse ramo em 2014 e permaneceu nele por apenas um ano. Desde então, a famosa faz uma série de críticas à indústria pornô, classificando-a como um ambiente "tóxico".
De origem libanesa, a modelo polemizou quando estrelou uma produção adulta usando um hijab (véu usado por algumas mulheres muçulmanas) e chegou a ser ameaçada pelo grupo terrorista Estado Islâmico.
Em junho de 2020, em entrevista à BBC, ela contou que fez filmes pornôs porque acreditava que "ninguém descobriria". Entretanto, pouco tempo depois, acabou se arrependendo mesmo tendo tido bons lucros.
"Tem milhões de garotas que se filmam fazendo sexo e coisas assim, e ninguém sabe o nome delas. Ninguém sabe quem são. Eu achei que pudesse fazer do pornô o meu segredinho sacana, mas o tiro saiu pela culatra", declarou.
Mia ainda confidenciou que, devido à "adrenalina alta", não se recorda com precisão de como era a rotina no estúdio de gravações. A ex-atriz disse que os traumas dessa época ainda são presentes em sua vida, principalmente quando está na rua.
Acho que acontece principalmente quando saio na rua, porque sinto como se as pessoas pudessem ver através da minha roupa e me sinto profundamente envergonhada. Tenho a sensação de que perdi direito a toda a minha privacidade. E perdi, porque estou a um clique de distância no Google", desabafou, ao destacar que essa indústria pode ser "tóxica" tanto para as mulheres quanto para os homens, independente da idade.
Mia Khalifa
"Pior que a indústria da moda"
A atriz Chloe Cherry, de 25 anos, integra o time das ex-atrizes de entretenimento adulto que não gostam de relembrar o passado na indústria de filmes pornográficos.
Em entrevista ao podcast "Going Mental", ela, que também já foi modelo, comparou a vivência no audiovisual adulto com o mundo das passarelas.
A indústria pornô é muito mais tóxica quando se trata de imagem corporal do que a indústria da moda. Eu estive em ambas.
Chloe Cherry
"Na indústria da moda, as pessoas apenas permitem que os corpos sejam como são. Eu vejo garotas de vários tipos físicos diferentes e adoro isso. Já no pornô existe literalmente um único tipo de corpo que você pode ter. Era muito rigoroso", lamentou Chloe.
Sem papas na língua, a atriz, que viveu o papel de Faye em "Euphoria" (HBO), não ficou em cima do muro ao falar que os filmes eróticos são feitos por um "bando de velhos".
"Não sei por que, na moda, entendemos que as pessoas gostam de muitos tipos diferentes de corpos, enquanto no pornô ainda é de um único jeito. Acho que ficou parado nisso, porque acho que todas as pessoas que administram são apenas velhas? [O pornô] é como qualquer outra indústria: dirigida por um bando de velhos brancos estúpidos", detonou.
"Me desumanizei"
Conhecida como "Octomon", a ex-atriz pornô Nadya Suleman não tem boas lembranças dos tempos em que atuava no mundo erótico para ter dinheiro para o sustento de seus 14 filhos.
Em entrevista à revista Touch, ela contou que fez filmes eróticos e striptease após a sua rotina como mãe de oito gêmeos parar de render dinheiro com espaço dado aos realities da TV norte-americana.
Tudo que fiz no passado foi por dinheiro, para colocar comida na mesa.
Nadya Suleman
A artista desabafou que "estava desesperada" quando iniciou a expôr o seu corpo — em vídeos eróticos solos — em troca de dinheiro.
"Eu me desumanizei completamente com o pornô e o striptease. Eu estava tão desesperada, pois vi que estávamos à beira de nos tornarmos sem tetos. Então, ao invés de colocar meus filhos diante das câmeras, preferi fazer isso apenas comigo", lamentou.
Choro por duas horas
Crystal DiGregorio, de 39 anos, ficou conhecida em 2019 após abandonar a carreira de atriz pornô para virar pastora. Ela disse ter chorado por duas horas no chuveiro após gravar sua primeira cena em um filme pornográfico.
"Então, eu estava fazendo sexo com alguém que eu não conhecia e, naquela cena, o cara 'chegou lá' duas vezes, e eu fiquei tipo, 'isso não está certo, não pode estar acontecendo'. Fiquei muito aborrecida com o fato de que ele continuava e continuava, e me senti suja quando terminei", contou ela, em entrevista ao podcast Holly Randall Unfiltered.
A artista começou na indústria pornográfica aos 19 anos e adotou o nome de Nadia Hilton. Ao todo, ela fez cerca de 100 filmes eróticos durante dez anos como estrela de conteúdo adulto.
O trabalho em produções pornô rendeu grandes conquistas materiais, como uma mansão em Malibu, uma Ferrari e apartamento em Nova York (Estados Unidos), graças ao faturamento próximo a US$ 30 mil mensais (cerca de R$ 158 mil).
Em contrapartida, ela afirmou que nem todo o dinheiro do mundo a faz esquecer os traumas vividos nas filmagens.
Foi uma experiência terrível, terrível. O cara era legal, os diretores eram legais, todos eram ótimos e tudo mais. Eu só mentalmente não estava pronta para isso. Antes de entrar no pornô, eu não era esse tipo de garota de dormir por aí, eu tive um namorado durante todo o ensino médio.
Crystal DiGregorio
Após abandonar os filmes pornôs para virar pastora, Crystal afirmou que desistiu de trabalhos na igreja por causa dos julgamentos. Depois, ela decidiu abrir uma conta no OnlyFans, plataforma de publicação de conteúdo adulto por assinatura.
"Cenas cansativas e forçadas"
Cansada da rotina cansativa e humilhante como atriz pornô, Vanessa Danieli deixou a indústria dos filmes adultos para investir na carreira como analista de marketing de influência e youtuber do segmento geek.
Seis anos após a mudança de vida, ela se diz arrependida da decisão que visava lhe dar uma independência financeira e até escreveu um livro autobiográfico para relatar sua história de vida.
Até hoje sou crucificada por ter sido atriz pornô. Até hoje lido com haters, comentários maldosos e preconceito. Mas tudo isso não me abala, sigo firme nos meus propósitos, investindo na minha carreira e vivendo uma fase bem diferente.
Vanessa Danieli
Aos 22 anos, ela começou a carreira na indústria de filmes adultos em razão da necessidade de dinheiro pela falta de apoio de seus familiares. Com a medida, ela precisou abandonar o sonho de se formar na faculdade para se tornar atriz pornô.
"Entrei por necessidade e me arrependo muito. Tudo ali no set não era montado como prometido, era caseiro, sem uma cópia do contrato, cenas cansativas e muito forçadas, tudo era sofrimento, foi uma fase bem difícil. Tenho traumas até hoje. A ideia do livro surgiu justamente para alertar outras mulheres", afirmou.
Apesar de ter conseguido ganhar dinheiro, Vanessa passou a se incomodar com a rotina cansativa de gravações e humilhações vividas dentro dos sets de filmagens eram pesadas. Assim, em 2016, ela decidiu mudar de carreira e abriu um canal no Youtube, o "Barbaridade Nerd", para tentar ganhar a vida falando de hobbys e geeks.
"Mesmo assim sou criticada. Primeiro eu era alvo porque tinha entrado no pornô, depois porque sai e não tinha direito a uma vida digna, a uma vida 'normal', como por exemplo casar, ter uma família e um outro trabalho. As pessoas são cruéis e hipócritas. Hoje, eu faço tratamento psiquiátrico para não pirar, essa coisa de fazer parte do pornô é pesado e gera muitas frustrações, pois as pessoas glamorizam a pornografia e não pensam em trafico e exploração sexual. Pensei em suicídio muitas vezes por não aguentar a pressão", desabafou.
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