Eles compraram uma casa e foram ameaçados: a história real de 'The Watcher'

Em 2014, um casal comprou uma casa em Westfield, no estado americano de Nova Jersey. Os dois, que moravam em Nova York, adquiriram o imóvel de seis quartos pouco após o homem completar 40 anos, e estavam felizes, prontos para iniciar uma nova fase da vida.

Mas o que parecia ser uma casa dos sonhos para eles e os três filhos logo se transformou em um pesadelo.

A descrição acima parece ser a de um filme ou série de casa mal-assombrada, mas é a história real que aconteceu com o casal Derek e Maria Broaddus, nos Estados Unidos. O caso virou a série "Bem-Vindos à Vizinhança", que estreou ontem na Netflix e é assinada por Ryan Murphy e Ian Brennan, de "Dahmer: Um Canibal Americano".

Mas qual é a história dos Broaddus?

O casal, com seus três filhos, comprou uma casa em Nova Jersey em 2014, e logo começou a fazer uma grande reforma.

Maria havia crescido na cidade, e Derek era do estado de Maine, e tornou-se vice-presidente de uma companhia de seguros em Manhattan — com um salário suficiente para comprar a casa, pelo valor de US$ 1,3 milhão (aproximadamente R$ 6,9 milhões), segundo o site The Cut.

Três dias após se mudar para a cidade e iniciar a reforma (enquanto isso, eles estavam ficando em outra casa próxima ao local), a família começou a receber uma série de cartas ameaçadoras, assinadas por uma pessoa que se intitulava apenas como "The Watcher".

Queridos novos vizinhos do 657 Boulevard, deixem-me dar as boas-vindas à vizinhança", começava a primeira carta. "657 Boulevard está com a minha família há décadas e, aproximando do seu 110º aniversário, eu fui encarregado de vigiá-la em sua segunda década. Meu avô a vigiou em 1920, meu pai vigiou nos anos 1960. Agora é a minha vez. Vocês conhecem a história da casa? Vocês sabem o que há nas paredes? Por que vocês estão aí? Eu vou descobrir.

Após receberem a primeira carta, os Broaddus contactaram os donos anteriores da casa, que disseram ter recebido uma carta semelhante dias antes de deixarem a residência.

No entanto, eles afirmaram que foi a primeira vez que receberam uma correspondência do tipo nos 23 anos em que moraram lá e, por isso, não deram muita atenção à mensagem.

Nas semanas seguintes, os novos donos continuaram recebendo cartas cada vez mais ameaçadoras. O remetente sabia os nomes de Derek e Maria e detalhes sobre seus filhos, incluindo datas de nascimento e apelidos, qual modelo de carro a família possuía e quem eram os empreiteiros responsáveis pela renovação do imóvel.

"Vocês precisam encher a casa com o sangue novo que eu pedi?", escreveu, referindo-se às três crianças. "Melhor para mim. A sua casa antiga era pequena demais para a família em crescimento? Ou era ambição trazer seus filhos até a mim? Assim que eu souber seus nomes, vou atraí-los até a mim."

Os novos donos da casa entraram em contato com a polícia, que os instruiu a não contar sobre as cartas para os vizinhos, já que todos eram suspeitos. Enquanto continuavam a reforma, eles visitavam o local para acompanhar as renovações, e o "Watcher" mostrava continuar de olho no que acontecia na casa — além de ameaçar a integridade física do casal e dos filhos.

"Os trabalhadores estão ocupados e eu os vejo descarregar carros cheios com seus objetos pessoais. A lixeira é um belo toque. Eles já encontraram o que está nas paredes? Com o tempo, eles irão."

O que eles fizeram?

Com a continuidade das cartas e das ameaças, o casal decidiu não se mudar para a 657 Boulevard assim que as reformas terminaram. Eles tentaram vender a casa e, quando não conseguiram, resolveram alugá-la. No entanto, os possíveis inquilinos também começaram a receber as cartas, e desistiram do contrato.

A repercussão tornou o caso famoso na região, e o mesmo começava ganhar atenção da mídia. Incomodados e temerosos, os Broaddus chegaram a abrir um processo contra os donos antigos, alegando que estes deveriam ter avisado sobre as cartas antes de efetuarem a venda. Derek e Maria perderam o processo.

No final de 2014, após muitas investigações da polícia, de detetives particulares e até de um ex agente do FBI, ninguém havia encontrado uma resposta sobre a identidade do stalker — ou o que de tão misterioso havia nas paredes além de estruturas antigas que precisavam de renovação.

O prefeito de Westfield descreveu o trabalho da polícia como "exaustivo", e mesmo assim um culpado jamais foi encontrado e identificado. O mais perto de uma resposta a que as autoridades chegaram foi com a coleta de amostras de DNA.

Em 2015, a polícia encontrou amostras de saliva no envelope de uma das cartas, e uma análise de DNA apontou que se tratava do material genético de uma mulher.

Alguns vizinhos concordaram em serem testados para comparar com a amostra encontrada na carta, mas não houve identificação. O The Cut revela que uma das vizinhas que negou fazer o teste estava entre as suspeitas, mas o caso não foi levado adiante.

E onde está a família?

Ao desistirem da casa, os Broaddus compraram outra residência, e mantiveram o endereço do novo local privado.

Mesmo assim, se livrar da casa nº 657 foi difícil. Cinco anos depois da aquisição do imóvel, eles conseguiram colocar a casa de volta no mercado, e venderam abaixo do preço que haviam pagado em 2014. Até hoje, nenhum culpado foi identificado.