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Atriz de 'Cara e Coragem' sobre aborto: 'Tiram o direito de viver o luto'

Bruna Spínola está no ar como a personagem Fernanda em "Cara e Coragem" - Reprodução/Instagram
Bruna Spínola está no ar como a personagem Fernanda em "Cara e Coragem" Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para Splash, no Rio de Janeiro

17/10/2022 13h33

Bruna Spínola, de 35 anos, no ar em "Cara e Coragem" (TV Globo) com a personagem Fernanda, desabafou sobre a perda de um bebê. A atriz, que sofreu um aborto espontâneo em outubro do ano passado, disse que a sociedade tira o direito de viver esse luto.

A atriz estava na 13ª semana da segunda gestação, que havia sido planejada, quando perdeu o bebê. "Queria muito dar um irmãozinho para a Malu [sua primeira filha]. Quando ela nasceu, já estávamos vivendo a pandemia por um mês e meio. Tive muito medo de tentar naquele momento, quis esperar a vacina. Fiz as contas e encontrei a janela perfeita para engravidar em outubro", disse ela, em entrevista à Marie Claire.

Segundo Bruna, tudo se encaminhava perfeitamente, já que ela havia programado para engravidar novamente após uma diferença de idade entre Malu e o bebê, além de levantar em conta o período de pausa em meio à rotina de gravações e estudos.

"Deu tudo certo, e aí eu perdi. Mais uma coisa para mostrar que a gente não tem controle, na verdade, sobre nada", lamentou.

Ela ainda desabafou e disse: "Foi muito difícil porque eu já tinha idealizado a situação perfeita. Precisei ir para o hospital fazer uma curetagem e, na mesma sala de parto, as pessoas saíam com o bebê no colo enquanto eu estava indo para tirar. É um processo doloroso porque você se apega, sonha, cria expectativas".

Enquanto lidava com a perda, a atriz sentiu que o seu luto foi desconsiderado mesmo por seus amigos e familiares.

"As pessoas não falam muito sobre isso. Eu sinto que a sociedade tira da gente o direito de viver esse luto. Todo mundo quer que a gente finja que está tudo bem. Diziam: 'Você é jovem e já já engravida de novo'. Poxa, tudo bem. Mas eu queria ter tido o que estava na minha barriga. Eu quero ter outro, sim, mas aquele era único. Acho que as pessoas normalizaram essa situação", contou.

Ela confessou que sentia necessidade de ficar sozinha, sem dar explicações sobre como estava naquele momento, mas existia uma pressão externa e as pessoas afirmavam que a atriz precisava seguir em frente.

"Você quer viver o seu luto, e as pessoas te cobram para que você jogue a bola para frente, para que volte a trabalhar, como se a gente não tivesse esse direito. Todo compromisso era inadiável. De modo geral, sinto que a gente não tem tempo de viver a nossa dor e os nossos sentimentos porque tem que fazer a roda girar. O mundo é muito capitalista, e o interesse está muito em gerar dinheiro. Nos preocupamos muito com isso e pouco com os sentimentos. O estar triste tem uma importância menor", refletiu.

Ainda por ter vivido esse momento de perda na pandemia da covid-19, a atriz disse que tudo foi potencializado pela preocupação com o vírus. "Quando estava no hospital, o meu medo principal era pegar covid, ficar doente e morrer. Tinha medo de não conseguir voltar para casa para cuidar da minha filha. Eu nunca tinha parado para pensar que poderia sair de casa e não voltar viva", disse.

Apesar de ter passado por esse momento difícil em sua vida, a atriz disse que a filha e o marido, o diretor de cinema e TV René Sampaio, sempre estiveram ao lado dela.

"Meu marido foi muito parceiro e continua sendo, me dando o meu tempo para pensar se vou tentar de novo ou não. O meu conforto também foi ver minha filha em casa todos os dias e saber que tenho ela comigo. Ela é a coisa mais preciosa da minha vida e sou completamente apaixonada por ela", contou.

Cara e Coragem

Na novela das 19h, a atriz interpreta a personagem irmã de Rebeca, vivida por Mariana Santos. "Está sendo uma delícia fazer parte da novela porque eu já trabalhei com muita gente aqui. Trabalhei com a própria Mariana em 'Pega Pega', em 2017, mas estávamos em núcleos diferentes. Ela é uma artista que admiro muito. É um grande reencontro", afirmou.
A personagem é uma vendedora de rua extrovertida e ousada. Ela buscou nas ruas do Rio de Janeiro referências para o seu trabalho.
"Ela é muito diferente [de mim] na maneira de falar, de se vestir. Pensei em dar a ela um corpo diferente do meu. Ela gesticula mais, fala mais alto, usa blusas curtinhas. É totalmente o avesso de mim", destacou.
Já o ponto comum entre ela e a personagem está na determinação. "No começo ela aparece levemente como interesseira, mas se mostra muito honesta. Ela é uma mulher que não abre mão do que acredita, assim como eu. É persistente, batalhadora e não tem medo de trabalhar. Eu, Bruna, sou assim também. Adoro passar tempo com a minha filha, mas preciso do trabalho. Isso me nutre e me faz feliz", finalizou.