A Fazenda: 'Quem quer se matar, se mata'? Psiquiatra refuta fala de Deolane
A transmissão de "A Fazenda 2022" (RecordTV) saiu do ar nesta madrugada por cerca de uma hora após o participante Thomaz Costa ter supostamente tentado suicídio no reality show rural. O peão já citou crises de ansiedade, vontade de morrer e se jogar da escada anteriormente.
Apesar da cena do suposto suicídio não ter sido exibida para os assinantes, participantes comentaram que o peão teria tentado ingerir uma quantidade exagerada de remédios e foi impedido por Ruivinha de Marte.
Ao tomar conhecimento da notícia, Deolane Bezerra, adversária de Thomaz na casa, disse: "Quem quer se matar, se mata". Mais tarde, quando o peão retornou para a casa após receber atendimento médico, ela provocou: "Vaso ruim quebra? Quebra nada! Volta assim...". A advogada foi acusada por alguns espectadores de tortura psicológica.
Mas, afinal, quem quer se matar, se mata?
De acordo com Eduardo Perin, psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), isso não é verdade. "Um comentário como esse, na verdade, reforça a ideia que muita gente tem de que a pessoa faz isso apenas para 'chamar atenção'", afirma, em entrevista a Splash.
Ele explica: "As pessoas costumam dizer que, quem quer se matar, não fala nada para ninguém. Vai lá e tenta o suicídio. Mas isso é um mito. Porque a grande maioria que tenta ou comete suicídio já falou para várias pessoas que gostariam de se matar, que a vida não vale a pena. Às vezes, tenta se matar de uma forma não efetiva".
"Isso é visto pelos outros como uma tentativa de simplesmente 'chamar atenção', quando, na verdade, a gente sabe que as pessoas que realmente se matam, em geral, falam que querem morrer. E elas tentam suicídio várias vezes antes de conseguir realmente acabar com a própria vida", completa Perin.
Qualquer manifestação suicida deve ser levada a sério
O psiquiatra alega que falas como as de Deolane em "A Fazenda" são comuns, e diz que comportamentos como os de Thomaz não devem ser menosprezados. "A primeira reação é não levar isso como uma brincadeira ou uma tentativa de 'chamar atenção'. É preciso ouvir essa pessoa, dar apoio e propor que ela procure uma ajuda médica e psicológica, para que melhore do quadro", indica.
Tem que levar a sério, dar apoio, acolher. A gente tem que ser humano e não criticar o outro e debochar
Eduardo Perin, médico psiquiatra
E isso inclui tentativas suicidas que dificilmente levariam a óbito, como quando, por exemplo, alguém realiza um ato que é considerado insuficiente para cessar a vida.
Perin frisa: "Isso tem que ser visto como um alerta. Se alguém está dizendo que tomou, por exemplo, dois comprimidos de Rivotril [medicamento tarja preta utilizado para tratamento de ansiedade e insônia] porque queria morrer, isso precisa ser levado a sério. Apesar de que a gente sabe que os dois comprimidos de Rivotril não vão matá-lo. Agora, alguém também pode tomar esses mesmos dois comprimidos por outras razões. Está ansioso, tendo uma crise de pânico. Aí é diferente".
Gatilho emocional
Ainda de acordo com Eduardo Perin, as frases ditas por Deolane podem agir como um gatilho, inclusive entre os espectadores. "As pessoas que estão passando por situação semelhante, pensando em tentar suicídio, se sentem muito mal ao escutar uma coisa como essa".
"É como se as pessoas não enxergassem ou não quisessem ajudar em uma situação de emergência como essa, como se não estivessem se importando com o outro", finaliza o médico.
Peça ajuda
Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.
O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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