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Maurício Meirelles zoa pais e filhos em show: 'A polarização é geracional'

Maurício Meirelles apresenta "Meus Achismos" em São Paulo até o dia 29 de outubro - Divulgação
Maurício Meirelles apresenta "Meus Achismos" em São Paulo até o dia 29 de outubro Imagem: Divulgação

De Splash, no Rio

21/10/2022 04h00

Maurício Meirelles está em cartaz em São Paulo com a peça "Meus Achismos". Em entrevista a Splash, o humorista de 38 anos conta que ele expõe suas ignorâncias e debate conflitos geracionais por meio da comédia no quinto show de sua carreira.

Pode-se dizer que ele zoa diferentes gerações, dos papais aos filhos, para agradar a todos e permitir reflexões sobre a sociedade. Em seu quinto show solo, ele comemora atrair pessoas de diferentes idades ao teatro após o auge da pandemia.

A temporada fica em cartaz até 29 de outubro, no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, e os ingressos custam a partir de R$ 35 (via Sympla).

"Toda a treta que está rolando hoje no mundo e é só por coisa de geração. A polarização é geracional. As pessoas ficam nessa coisa de 'Ah, não, porque é o Bolsonaro, é o Lula, é o Ciro'. Eu falo: 'irmão, entenda a cabeça do teu pai, 70 anos, que nasceu em outro período da história. E pai, entenda a cabeça do teu neto que nasceu em outro período da história com outras questões'", diz.

"A internet juntou todas as gerações em uma mesa de bar. Qual a chance disso dar certo? Não à toa existe o Natal uma vez por ano. Mais que isso, seria porrada o dia inteiro", completa.

Maurício ainda brinca que a relação do cantor Leonardo e de seu filho João Guilherme, marcada por opiniões políticas antagônicas, é um exemplo do que compartilha no espetáculo.

O show é basicamente sobre Leonardo e João Guilherme. Esse é o show que eu estou fazendo. É bem isso.

Brincadeiras à parte, Maurício conta que todos os temas abordados no espetáculo são polêmicos, o que não é diferente do que ele faz no projeto "Achismos", em seu canal do YouTube, o qual considera ser seu projeto de vida.

"No 'Achismos', aprendi muito porque resolvi dialogar com pessoas que nunca imaginei conversar. Vai desde um padre, uma pessoa trans, um marinheiro, um pedreiro, uma faxineira... É para entender a psicologia da cabeça dessas pessoas. Você descobre que todo mundo é muito fod*. Você conversa com essa galera e entende sua ignorância em relação ao mundo", explica.

A partir da diferença geracional, a peça traz temas da atualidade, como relacionamentos modernos, o uso do gênero neutro, a pauta trans, questões tecnológicas, duvidas sobre religião e a proteção dos animais.

"Assumo minha ignorância em uma época de histeria política, onde todo mundo tem certezas. Assumo minha ignorância e questiono esses temas da modernidade. Não é burrice, é ignorância. É interessante que as pessoas me assistem e riem, mas também assumem suas ignorâncias... (Na peça) Eu passo a minha visão de mundo e falo: 'bicho, olha as merd*s que eu estou fazendo. Será que eu estou certo ou errado?' A plateia é quem decide", conta.

Ao final da peça, ele convida um influenciador da geração Z para falar sobre a vida: "Por eu bater tanto nessas questões que a geração Z está trazendo, eu pego um cara famoso dessa geração para entender o mundo dele e ele entender o meu".

"A gente faz um diálogo que é muito engraçado, porque ele não sabe o que é o Alexandre Pires do Só Pra Contrariar e eu não sei o que é um vape. A gente ri um do outro porque eu acho que é isso que une a gente. A gente é ignorante igual", completa.

Medo do cancelamento?

Com mais de quatro milhões de inscritos no canal do YouTube e 35 mil espectadores no show de comédia, Maurício diz que não foge de assuntos polêmicos. Ele diz não ter medo do cancelamento.

"Não tenho medo porque o cancelamento é uma mentira. Quem cancela você, geralmente, não te consome. É uma histeria, entendeu? Tenho medo de ser descontextualizado, tenho medo de criarem mentiras ao meu respeito. Tenho medo disso", pensa.

O cancelamento é muito mais sobre quem cancela do que sobre a pessoa que recebe esse cancelamento.

"É uma coisa recente e copiada dos Estados Unidos. O cancelamento é uma farsa, é uma mentira. Você vê a quantidade de gente que foi teoricamente cancelada e está com a carreira normal, ganhando mais dinheiro e se promovendo em cima disso. Então o cancelamento é uma burrice, é um autoritarismo, é uma ditadura", prossegue.

"O radical me odeia"

O humorista diz que recebe críticas por manter o que considera ser um posicionamento moderado, incluindo em relação às eleições de 2022, e por ter "um papo que parece humanista demais".

"O radical me odeia. Inclusive, tem de todos os lados: existe radical de direita, de esquerda, existe radical meteorologista, radical vascaíno, radical jornalista. Quando você faz uma piada sobre o crossfit e o cara quer te bater, ele é um radical do crossfit. Não tem muita diferença do radical bolsonarista ou radical lulista. O radicalismo é a coisa mais idiota que pode ter na nossa sociedade, é não admitir a sua ignorância. O show é sobre radicalismos também", afirma.

Ele, que não pretende declarar seu voto nas eleições por não apoiar nem Bolsonaro (PL), nem Lula (PT), ainda afirma que as pessoas estão se unindo pelo ódio.

"O radical se une pelo ódio. Isso vai dar merd*... Meu pai virou radical, meus amigos viraram radicais, tem gente da minha faculdade que virou radical. Eu sei qual é a essência dessa pessoa, só que elas estão cegas e alienadas... Eu entendo quem vota no Bolsonaro e quem vota no Lula de verdade, só não tenho a obrigatoriedade de agir como você age", finaliza.