5 matérias marcantes e inusitadas da repórter Susana Naspolini na TV Globo
A jornalista Susana Naspolini morreu ontem, aos 49 anos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, após mais de uma semana de internação em virtude da batalha contra um câncer na bacia. O bom humor era uma marca registrada do trabalho da repórter na TV Globo do Rio de Janeiro.
Por intermédio de indicação do jornalista Maurício Torres, que veio a se tornar seu marido e morreu em 2014, ela foi contratada temporariamente como repórter da GloboNews em 2002 e ficou dois anos no canal.
Na sequência, a jornalista trabalhou no Canal Futura, pela produção da Editoria Rio, da TV Globo, e também teve uma passagem pela equipe de reportagem dos telejornais "Bom Dia Rio" e "RJTV".
Dentre as matérias especiais e quadros que atuou para os jornais do Rio de Janeiro, ela ganhou destaque do "Disque-Reportagem" (2005), "Direito do Cidadão" (2005), "RJ nas Escolas" (2007), "Túneis" (sobre o estado de túneis do Rio de Janeiro, 2006), "Ônibus do RJ" (2006) e "Ensino Público de Qualidade" (2007).
O sucesso de Susana Naspolini à frente das câmeras chegou em 2008. Após um rodízio de repórteres no quadro RJ Móvel, ela ganhou destaque ao percorrer bairros e municípios do Rio de Janeiro para denunciar problemas que tiravam o sono da população.
Ela caiu nas graças da população carioca por interagir de forma divertida enquanto cobrava as autoridades por soluções de problemas comunitários.
Confira as matérias que repercutiram de Susana Naspolini na TV Globo:
Quase levou um tombo
Em 2015, a repórter Susana Naspolini subiu em uma escada, se pendurou numa barra de ferro e realizou exercícios ao vivo durante o "RJTV". O ato de indignação da jornalista, no entanto, quase resultou em um tombo.
A cena inusitada de Naspolini ocorreu depois que moradores de Belford Roxo, município localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, reclamaram que a prefeitura inaugurou uma praça, mas com a falta de alguns equipamentos essenciais ou com tamanhos desproporcionais em relação aos usuários.
"A prefeitura disse que entregou a praça pronta, mas a população diz que não está, que faltam equipamentos para realizar os exercícios", contou a jornalista, que imediatamente pegou um escada e subiu em uma barra de ferro com dois metros de altura. Ao subir, a escada tremeu e a repórter por pouco não levou um tombo.
Dança da chuva
Em 2017, Susana surpreendeu os telespectadores ao protagonizar a "dança da chuva" enquanto realizava uma reportagem no "RJTV", telejornal local da Globo, no Rio de Janeiro.
A jornalista conversava com moradores de Nova Iguaçu, cidade localizada na Baixada Fluminense, que reclamavam da falta de água na região. Eles disseram à repórter que precisavam de São Pedro para estocar água em galões, abastecer as residências e cumprir as necessidades diárias.
Foi aí que surgiu a ideia inusitada de Susana e, acompanhada dos moradores, promoveu a "dança da chuva" coletiva, ironizando assim a CEDAE (Companhia Estadual de Águas e Esgotos).
Fantasia de jacaré
Na virada do ano de 2017 para 2018, a repórter chamou a atenção ao aparecer no "RJTV 1ª Edição" vestida de jacaré. A jornalista se fantasiou para cobrar a reforma da ponte do Canal das Tachas, também conhecida como Canal do Jacaré, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio.
Naspolini topou o desafio do público que acompanhava a reforma da ponte. Fantasiada de jacaré, ela cobrou a entrega da obra para a Secretário Municipal de Urbanismo.
"Tô chegando, gente! Desafio posto, desafio aceito, desafio cumprido! Cumpri a promessa?", disse a repórter para o público, se atrapalhando para tirar a cabeça de jacaré. "Totalmente!", responderam as pessoas que acompanhavam a transmissão.
No Instagram, ela ainda publicou uma foto fantasiada e brincou com a alta temperatura: "Adivinha que está embaixo da fantasia? Gente, que calorão!".
"Agora não"
Em 2018, um vendedor de picolé interrompeu a transmissão ao vivo para vender o sorvete à repórter, durante a primeira edição do "RJTV", telejornal local da Globo.
Em meio à multidão na praia de Ipanema, zona sul do Rio, Susana estava passando as últimas informações sobre a baleia encalhada no local, quando foi surpreendida pelo vendedor que queria lhe oferecer o picolé.
"Estou vendendo picólé", disse ele, sem constrangimentos. Susana olhou para o rapaz e respondeu. "Obrigada, querido. Não quero [picolé] agora, não. Obrigada, querido", reforçou a profissional.
Traje de gala
Susana Naspolini decidiu usar um vestido de gala vermelho no "RJTV" para celebrar a recuperação de uma praça em Bangu, na zona oeste do Rio.
A matéria fazia parte do "RJ Móvel", canal do telejornal em que moradores denunciam os problemas de seus bairros. O pedido da recuperação da praça, que não tinha brinquedos, havia sido exibido em 2015.
"E o Oscar vai para: Moradores", disse Susana ao brincar com a premiação de cinema. Como de costume, a repórter se divertiu, desceu no escorrega, jogou capoeira, andou de skate e jogou bola de vestido longo.
Morte da jornalista
A repórter da Globo Susana Naspolini morreu ontem de câncer, aos 49 anos. A informação foi confirmada pela filha dela, Julia, de 16 anos.
"Oi, amigos, Julia aqui. É com o coração doendo que venho contar pra vocês que a mamãe não está mais com a gente. Ela lutou muito, nossa guerreira! Agradeço muito pelas orações, muito mesmo, muito obrigada, mas infelizmente não deu", escreveu a jovem no perfil da mãe.
Susana estava internada há mais de uma semana em São Paulo. A jornalista foi diagnosticada com um câncer em fase de metástase no osso da bacia.
Semana passada, Julia postou um vídeo também no perfil da mãe explicando a situação, que era considerada gravíssima pelos médicos.
"Ela estava com metástase no osso da bacia, já tinha se espalhado pra medula óssea desde julho. Então, ela vinha com uma quimioterapia mais forte, que fez ela perder o cabelo. Mas a metástase se espalhou por vários outros órgãos, entre eles o fígado. O fígado tá muito comprometido. Ele [o médico] disse que não sabem mais o que fazer, não sabem se tem mais alguma coisa pra ser feita, e o estado dela é muito grave. Eu não sei o que fazer", disse a adolescente, na ocasião.
Início no jornalismo
Susana Naspolini nasceu no dia 20 de dezembro de 1972, em Criciúma, Santa Catarina. Em 1991, aos 18 anos, enfrentou o câncer pela primeira vez. Na época, cursava jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina e havia acabado de começar um curso de teatro no Tablado, no Rio de Janeiro, para seguir o sonho de trabalhar como atriz.
No entanto, precisou interromper os estudos após descobrir um linfoma. Fez 12 sessões de quimioterapia em São Paulo e perdeu os cabelos durante o tratamento.
Aos 19 anos, Susana foi contratada pelo SBT em Florianópolis e trabalhou na emissora até se formar. Depois, foi para a RBS, afiliada da Globo no Sul do país, onde atuou por dois anos como editora-chefe e apresentadora do telejornal local.
Teve também uma breve passagem pela TV Vanguarda, afiliada da TV Globo em São José dos Campos, interior de São Paulo.
Sucesso na Globo com o RJ Móvel
Em 2001, conheceu o marido, Maurício Torres. Ele, que trabalhava no Esporte da Globo no Rio, indicou Susana para uma vaga de repórter temporária na GloboNews em 2002.
Após dois anos na função de repórter, foi para o Canal Futura. Passou ainda pela produção da Editoria Rio da TV Globo e pela equipe de reportagem dos telejornais "Bom Dia Rio" e "RJTV". Em 2008, em sistema de rodízio com outros repórteres, começou a apresentar o "RJ Móvel", parte do "RJ1", o quadro que mudaria sua carreira. A partir de 2013, ela se tornou a principal apresentadora do quadro.
Na atração, moradores da capital fluminense denunciavam à emissora problemas como obras paradas, praças abandonadas ou ruas esburacadas. Era aí que Susana entrava em ação, convocando uma autoridade, do Executivo municipal ou estadual, para prestar esclarecimentos ao vivo e dar um prazo para a resolução da questão. A data era marcada pela repórter em um grande calendário. No dia designado, Susana voltava ao local para cobrar a solução prometida.
Tudo isso era feito com muito bom humor pela jornalista, que buscava sentir as mazelas da população na pele. Para tanto, escalava muros e árvores, entrava em buracos, andava de bicicleta em pistas acidentadas e brincava em brinquedos mal conservados.
Era comum vê-la usando fantasias e adereços para ilustrar o problema. Certa vez, se fantasiou de jacaré para cobrar a reforma de uma ponte no Recreio dos Bandeirantes. Em outra ocasião, fez uma "dança da chuva" para protestar contra falta de água em Nova Iguaçu. Para comemorar a recuperação de uma praça em Bangu, simulou uma cerimônia do Oscar, usou vestido longo, andou de skate e desceu no escorregador.
Os moradores me contam os dramas e criamos juntos as situações. É minha obrigação saber o que dá ou não para fazer ao vivo. Se não conseguem andar de bicicleta, eu preciso mostrar isso. Se o morador coloca saco plástico no pé para passar pelo esgoto, vou botar também. Susana Naspolini ao UOL, em 2019
"Não estou criando nem aumentando. O repórter é um ser humano como qualquer outro, que está ali cumprindo a obrigação de mostrar um problema. Essa é a minha luta", disse, em entrevista ao UOL em 2019.
A resposta da população era de carinho: Susana costumava fazer entradas ao vivo tomando café, comendo churrasco e às vezes até ganhando presentes dos personagens de suas matérias.
O jeito descontraído levou a jornalista para as arquibancadas da Sapucaí no carnaval, cobrindo a reação popular aos desfiles. Em 2017, passou a apresentar também o "Globo Comunidade", transmitido no domingo de manhã, que exibia matérias produzidas por editorias locais do Rio de Janeiro.
Lutas contra o câncer
Depois de enfrentar o câncer pela primeira vez em 1991, Susana voltou a lutar contra a doença dezenove anos depois, em 2010, aos 37. Ela descobriu um micronódulo no seio, um câncer de mama, e após a radioterapia, fez mastectomia total no seio direito. Durante o tratamento, descobriu também um tumor na tireoide.
Em 2016, voltou a enfrentar o câncer de mama e passou cerca de seis meses longe da televisão. No final do ano, voltou a comandar o "RJ Móvel" com direito a festa com flores e bolo nas ruas de Campo Grande, zona oeste do Rio, além de homenagens de colegas e telespectadores.
Em 2020, Susana foi diagnosticada com câncer na bacia. A jornalista buscava manter os seguidores atualizados sobre o tratamento, sempre com um sorriso largo, e afirmou que era confortada pela respostas das pessoas que a acompanhavam.
"Acho que a vida ganha mais sentido quando a gente compartilha das histórias felizes às mais difíceis. Quando descobri o diagnóstico e fui para o Instagram contar, recebi tanto carinho que me deu uma injeção de ânimo. Isso faz muita diferença no meu estado de espírito. As histórias vão te estimulando a melhorar", contou, em entrevista a Universa, em abril deste ano.
Em julho de 2022, a doença se espalhou para a medula óssea, exigindo uma quimioterapia mais forte, venosa. No mês seguinte, ela publicou um vídeo em que raspava os cabelos com a ajuda da filha.
Em setembro, Susana passou oito dias internada para tratar uma infecção e imunidade baixa. Ela comemorou a alta com uma publicação ao lado dos profissionais de saúde nas redes sociais.
Em outubro, Julia, filha da jornalista, informou que a metástase se espalhou por vários outros órgãos, comprometendo o fígado e deixando a jornalista em estado gravíssimo.
Globo lamenta morte da repórter
A Rede Globo soltou um comunicado lamentando a morte da profissional, percorrendo a trajetória dela no jornalismo e os feitos na emissora. Leia abaixo um trecho:
"Meu trabalho como repórter é onde eu sou feliz. Sou uma repórter otimista, sempre acho que vai dar jeito, que as coisas vão melhorar. Acredito nas boas intenções das pessoas. Sou incansável. Acredito que o bem sempre prevalece".
A declaração de Susana Naspolini em entrevista ao Memória Globo reflete a personalidade da jornalista que, apesar da sua longa luta contra o câncer, nunca perdeu o bom-humor, a fé e o otimismo para seguir em frente.
A repórter do povo que sempre escolheu ser feliz nos deixa hoje e leva sua alegria contagiante com ela.
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