Gusttavo Lima, Deolane, Fátima: o preço que famosos pagam por declarar voto

Famosos como Ivete Sangalo, Xuxa e Cássia Kis "saíram do armário" político e declararam publicamente seus votos ao longo deste ano eleitoral. Se nas eleições de 2018 havia um certo pudor na divulgação de apoio a um determinado candidato, agora a situação parece ser outra.

A polarização que tomou conta de toda a campanha, dívida entre as figuras de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), também refletiu em diversos setores da classe artística brasileira.

As declarações de apoio, no entanto, também trouxeram consequências a essas personalidades. A reportagem de Splash analisou dados, conversou com especialista e desenhou um panorama sobre o preço que cada um pagou pelo voto.

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Nas últimas semanas, por exemplo, a atriz Cássia Kis, de 64 anos, vem sendo alvo de críticas, entre outras coisas, por conta da simpatia que demonstra por Bolsonaro —apesar de já ter dito que o presidente deveria "apanhar de cinto" por conta do comportamento durante a pandemia.

Esquerda e direita

Independentemente de qual seja o lado, o fato é que esses apoios provocaram movimentos significativos na vida profissional e nas redes sociais desses famosos. Alguns, como Deolane Bezerra, por exemplo, chegaram a declarar que perderam até mesmo contratos de trabalho.

Segundo dados analisados por meio da plataforma Social Blade, as oscilações foram registradas em perfis que apoiam os dois candidatos — considerando todo o período eleitoral.

Para Flavio Muniz, especialista em marketing político pela ECA/USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), quando o anúncio é feito do nada os impactos são ainda maiores diante da audiência.

"Logicamente que quando a celebridade faz o anúncio em favor de Lula ou Bolsonaro acaba frustrando 50% de sua audiência que apoia o outro candidato.

Essa instabilidade, porém, deve permanecer ao longo dos primeiros dias após o fim da disputa pela Presidência da República. "O que temos certeza é que após a eleição teremos uma semana de fortes manifestações da parte derrotada."

Lula

Deolane Bezerra, Bianca Andrade, Carlinhos Maia e Xuxa Meneghel sentiram essa perda em seus perfis nas redes sociais, seja pela debandada de seguidores, fim de contratos ou até mesmo por ataques de ódio.

Deolane anunciou o voto em abril, após encontro com o ex-presidente Lula. À época, a influenciadora publicou uma foto ao lado do petista, vestindo vermelho e dividiu opiniões entre os fãs. Confinada em "A Fazenda 14", ela revelou inclusive que perdeu contratos após se manifestar publicamente.

"Não é uma publi, são contratos. Tenho medo de alguma coisa? Porque se tem alguma coisa mais perigosa que expressar opinião política no Brasil, não conheço. Foi aí que eu comecei a andar de blindado. Não andava. Deolane Bezerra

A modelo Bianca Andrade, também conhecida como Boca Rosa, perdeu mais de 100 mil seguidores após revelar o voto. "Podem ir! Bom que eu faço uma festa de 18 milhões de novo, mas dessa vez com pessoas empáticas e de qualidade que defendem as mesmas causas que eu", disse a modelo por meio do Instagram.

Já Carlinhos Maia observou um movimento significativo de saída de seguidores após falar que votaria em Lula. "200 mil pessoas deixaram de me seguir. Fico triste, mas aliviado ao mesmo tempo. Que fique quem goste de mim além da minha opinião política", disse ele no Twitter.

Embora por muito tempo tenha optado por uma postura mais isenta, Xuxa não passou ilesa. A apresentadora perdeu mais de 100 mil seguidores e vem enfrentando críticas de internautas por conta da oposição ao candidato do governo.

Dos nomes analisados, Anitta foi a única que registrou crescimento considerável. Em julho, quando disse que votaria no Lula, ela ganhou mais de 300 mil perfis de seguidores, somando Twitter e Instagram.

Bolsonaro

Yudi Tamashiro, Gusttavo Lima, Leonardo, Carla Cecato e Neymar Jr. Também sentiram os efeitos do apoio a Jair Bolsonaro. No grupo analisado, no entanto, as consequências foram mais fragmentadas — de acordo com o perfil de cada um.

O apresentador Yudi, por exemplo, perdeu mais de 100 mil seguidores após revelar aos fãs em que votaria neste ano. "Não para de cair e eu sabia que isso iria acontecer. Eu sei dos meus valores", desabafou.

Já Gusttavo Lima viu quase 130 mil perfis deixaram as suas contas. A maior redução foi observada nos dias seguintes ao encontro de cantores sertanejos com o candidato à reeleição, que aconteceu no dia 17 de outubro, em Brasília.

Ao mesmo tempo em que alguns perderam seguidores, outros encontraram ecos em parte da sociedade e registraram crescimento no ambiente digital (ainda que tenham enfrentado outras consequências).

Carla Cecato, que há pouco tempo se apresentava como "jornalista independente" em seu perfil no Instagram, viu disparar os números na rede social após começar a se manifestar em apoio a Jair Bolsonaro.

A ex-Record, que acabou se transformando em apresentadora das peças audiovisuais da propaganda eleitoral do candidato do PL, ganhou mais de 930 mil seguidores só nos últimos 30 dias. A rede social, no entanto, chegou a colocar um aviso no perfil da jornalista por "repetir informações falsas."

Neymar, por sua vez, ganhou mais de 1,7 milhão de seguidores no mesmo período.

"Eu acredito no presidente, eu acredito que ele é o cara certo para conduzir no nosso Brasil. A gente está vendo melhoria em tudo que ele tá fazendo. Neymar em live.

O sertanejo Leonardo viu a página no Instagram crescer em mais de 110 mil novos perfis, ao mesmo tempo em que enfrentou uma crise familiar após o filho João Guilherme criticar publicamente a decisão do pai.

Perfis universais?

Enquanto alguns sentiram consequências claras por seus posicionamentos, no que diz respeito principalmente ao ambiente digital, nomes como Ivete Sangalo e Fátima Bernardes, por exemplo, parecem imunes a essas variações.

Fátima, que ao longo de décadas não revelou o voto por conta do período em que esteve na bancada do "Jornal Nacional (TV Globo), falou pela primeira vez sobre o assunto no primeiro turno da disputa.

A apresentadora gravou um vídeo em que declarava voto a Lula, após, segundo ela, o cenário político não apresentar uma terceira via com reais chances de vitória. Embora tenha enfrentado críticas nas redes, o perfil nem ganhou e nem perdeu audiência.

Seguindo a mesma tendência, Ivete Sangalo, que até então mantinha uma postura mais isenta, manifestou apoio ao candidato do PT durante um show em que fez o gesto de "L" com a mão.

O contexto e a localização são apontados por Flavio Muniz, especialista em marketing político, como os motivos para essa estabilidade nos números.

"Isso se deve a uma base de fãs totalmente conectada com as respectivas celebridades. Apesar do apoio Fátima Bernardes sempre se mostrou opositora a Bolsonaro e buscou o momento mais próximo do pleito para mover seus seguidores", disse.