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ANÁLISE

Filmes e séries de Sherlock Holmes são uma crônica da evolução da sociedade

Adaptações recentes da obra de Sherlock Holmes; respectivamente "Sherlock", "Sherlock Holmes" e "Enola Holmes" - Montagem sobre reprodução
Adaptações recentes da obra de Sherlock Holmes; respectivamente 'Sherlock', 'Sherlock Holmes' e 'Enola Holmes' Imagem: Montagem sobre reprodução

Renan Martins Frade

Colaboração para o UOL

03/11/2022 13h01

Esta é a versão online da edição desta quinta-feira (4) da newsletter Na Sua Tela. Nesta semana, destaques para "Enola Holmes 2", "Esperando Bojangles" e outros filmes que chegam aos cinemas e aos streamings, além de uma curadoria do que vale assistir. Quer receber a edição da semana que vem no seu e-mail? Inscreva-se. Os assinantes UOL ainda têm mais de 10 newsletters exclusivas.

São poucos os personagens que possuem o mesmo status de Sherlock Holmes - James Bond e Batman, talvez. Afinal, o detetive criado por sir Arthur Conan Doyle é praticamente um signo, ou um arquétipo: uma ideia, um conceito, que pode ser encaixado e reinterpretado em diversos contextos.

O exemplo mais recente disso chega amanhã, 4, na Netflix: "Enola Holmes 2". Continuação do filme de 2020, a produção é estrelada por uma jovem que enfrenta a sociedade conservadora da Era Vitoriana em uma aventura gostosa de assistir, mas cheia de subtexto de empoderamento. Por mais que o "verdadeiro" Sherlock esteja no longa-metragem, é Enola (interpretada por Millie Bobby Brown, de "Stranger Things") que se apodera e ressignifica a figura do famoso detetive.

Isso já foi feito muitas vezes antes, claro. São mais de 120 anos de filmes e séries que usam o personagem (hoje quase que totalmente em domínio público) para contar mistérios modernizados, que dialogam com temas da sociedade de sua época - seja mantendo o cenário vitoriano, como em "Enola Holmes", ou atualizando-o, como em "Sherlock", da BBC.

Por isso, o Na Sua Tela desta semana faz uma curadoria de alguns desses filmes e séries, todos disponíveis para assistir no streaming (alguns de graça, inclusive). Por meio deles, é interessante ver a nossa própria evolução enquanto sociedade - seja por conta dos crimes que precisam ser investigados, seja pelo contexto sócio-político de suas histórias.

Quer algo além de mistério? Não se preocupe: nos cinemas chega a dramédia francesa "Esperando Bonjangles", na medida para os amantes do cinema na terra do croissant. Já o Apple TV+ traz o drama de "Passagem", com Jennifer Lawrence. Os dois títulos estão a seguir.

Parafraseando o clássico Holmes de Basil Rathbone: o elementar agora é escolher o que assistir, caro leitor.

O que tem de novo?

ENOLA HOLMES 2

Enola Holmes 2 - imagem - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
'Enola Holmes 2' traz Millie Bobby Brown interpretando a protagonista, que é a irmã mais nova de Sherlock (Henry Cavill)
Imagem: Divulgação/Netflix

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  • Onde: Amanhã (4) na Netflix
  • O que tem de bom: Entre os filmes originais da Netflix, o primeiro "Enola Holmes" foi um sopro de frescor, equilibrando a inspiração nos livros do personagem com um um subtexto com apelo atual. Millie Bobby Brown (de "Stranger Things") retorna nesta continuação que consegue manter todos as boas qualidades do primeiro longa, com Enola (a irmã mais nova de Sherlock) resolvendo um grande caso de desaparecimento na Londres da Era Vitoriana, em uma aventura que a coloca novamente em meio aos jogos de poder da política. Um mistério gostoso de assistir, divertido, que empodera principalmente as jovens (de todas as idades). O elenco traz também Henry Cavill como Sherlock, além de Helena Bonham Carter. Mas é Millie quem domina a cena, se mostrando cada vez mais um dos grandes nomes de sua geração.
  • O que te faz sentir: independência, liberdade


ESPERANDO BOJANGLES

Esperando Bojangles - imagem - Divulgação/Califórnia Filmes - Divulgação/Califórnia Filmes
'Esperando Bojangles' começa no humor e termina no drama
Imagem: Divulgação/Califórnia Filmes

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  • Onde: Nos cinemas - clique para comprar ingressos
  • O que tem de bom: Esta produção franco-belga - dirigida por Régis Roinsard ("A Datilógrafa") e estrelada por Virginie Efira ("Benedetta") e Romain Duris ("De Tanto Bater Meu Coração Parou") - apresenta um casal apaixonado que adora dançar ao som da música "Mr. Bojangles", divertindo o seu filho em uma vida de festas, aparentemente feliz. Só que a realidade não é tão simples: uma doença marca a família, fazendo-os ter que encarar a realidade e a sua tristeza. Um romance que vai da comédia leve ao drama psicológico, que, apesar de ser problemático na forma como encara a saúde mental, tem o mérito de envolver o espectador com uma história profunda e charmosa.
  • O que te faz sentir: fragilidade, incerteza


PASSAGEM

Passagem - imagem - Divulgação/Apple - Divulgação/Apple
Jennifer Lawrence é o grande destaque de 'Passagem'
Imagem: Divulgação/Apple

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  • Onde: Amanhã (4) na Apple TV+
  • O que tem de bom: Nos últimos anos, Jennifer Lawrence ("O Lado Bom da Vida") diminuiu o ritmo, fazendo menos filmes. "Passagem" é o seu único longa previsto para este ano, em um olhar mais simples e intimista sobre uma engenheira do exército (Lawrence) que, após sofrer um atentado terrorista no Afeganistão, precisa reaprender a andar com as próprias pernas - tanto figurativamente quanto literalmente. Dessa forma, ela se vê obrigada a voltar para casa da mãe, em sua cidade natal, onde faz uma inesperada amizade com um mecânico (Brian Tyree Henry, de "Eternos") que também tem o seu próprio passado conturbado. Curta (são apenas 92 minutos), esta produção da A24 tem uma direção sensível de Lila Neugebauer, que traz para a tela um pouco das características que desenvolveu como diretora teatral. No final, temos um tocante retrato sobre trauma, dor e o nosso caminho para superar tudo isso.
  • O que te faz sentir: inadequação, desajuste

As muitas vidas de Sherlock Holmes

Sherlock Holmes é um personagem tão marcante que muitos acreditam que ele existiu de verdade. No entanto, ele foi a criação de um homem: sir Arthur Conan Doyle, que publicou diversos livros e contos entre 1887 e 1927

O audiovisual sempre se viu atraído pela figura de Holmes, algo que se acentuou ainda mais com o fato de boa parte das obras de Conan Doyle ter caído em domínio público. Isso permitiu que grandes nomes do cinema e da televisão dessem a sua contribuição para o mito, agregando elementos e reinterpretando outros, atualizando esses relatos para que acompanhassem a evolução da sociedade.

A seguir você encontra algumas dessas histórias, que vão do miséria gótico a aventura steampunk. Uma coisa todas elas possuem em comum: um protagonista fascinante, mistérios intrigantes e um jeito bem particular para desvendá-los. Como disse o nosso herói no conto "O Homem Torto": "Eu conheço os meus métodos, Watson".

O CÃO DOS BASKERVILLE

O Cão dos Baskerville - Imagem - Divulgação/20th Century Studios - Divulgação/20th Century Studios
'O Cão dos Baskerville' é estrelado Basil Rathbone e Nigel Bruce: a dupla se tornou icônica como Holmes e Watson
Imagem: Divulgação/20th Century Studios

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  • Onde: Grátis na Pluto TV
  • O que tem de bom: Esta não é a primeira adaptação dos livros de Arthur Conan Doyle, mas é certamente a primeira a conquistar um enorme sucesso - sendo considerada até hoje uma das mais fiéis interpretações da obra do escritor. Baseado no livro de mesmo nome, "O Cão dos Baskerville" (1939) traz Sherlock Holmes (Basil Rathbone) e o dr. John Watson (Nigel Bruce) investigando uma tentativa de assassinato relacionada a um cão diabólico e sobrenatural, de uma maldição que atormenta a família Bakersville. O filme é um mistério gótico, com um ar bem soturno, e o seu sucesso rendeu uma série com nada menos que 14 filmes lançados até 1946. Vale dizer, inclusive, que a maioria também está disponível de graça na Pluto TV. Curiosidade: foi esta cinessérie que fez a frase "elementar, meu caro Watson" (nunca mencionada nos livros) entrar para o repertório da cultura popular.
  • O que te faz sentir: temor, incerteza


A VIDA ÍNTIMA DE SHERLOCK HOLMES

A Vida Íntima de Sherlock Holmes - imagem - Divulgação/MGM - Divulgação/MGM
'A Vida Íntima de Sherlock Holmes' é dirigido por Billy Wilder, de 'Quanto Mais Quente, Melhor'
Imagem: Divulgação/MGM

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  • Onde: Para aluguel ou compra em Apple TV e Loja Prime Video
  • O que tem de bom: Billy Wilder é um dos grandes nomes do cinema, e ele também apresentou a sua visão para o famoso detetive. "A Vida Íntima de Sherlock Holmes" (1970) traz duas histórias separadas, ambas se passando na Era Vitoriana. Alternando entre um ar de paródia e a melancolia, o longa traz uma distinção entre o Sherlock Holmes (Robert Stephens) real e a sua persona, a do famoso detetive - daí o título. De certa forma, a produção tem um subtexto LGBTQIA+ - como Wilder explicaria depois, a intenção do cineasta era retratar Holmes como um homossexual reprimido, que não admitia a sua orientação sexual para os outros, talvez nem para si. Vale, por isso, ficar atento aos detalhes, com pistas sobre esse entrelinhas aqui e ali. Um filme às vezes esquecido pelo grande público, mas que vale conferir
  • O que te faz sentir: curiosidade, interesse


O XANGÔ DE BAKER STREET

O Xangô de Baker Street - imagem - Divulgação/Columbia Pictures - Divulgação/Columbia Pictures
'O Xangô de Baker Street' traz Joaquim de Almeida como Sherlock Holmes
Imagem: Divulgação/Columbia Pictures

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  • Onde: HBO Max
  • O que tem de bom: Jô Soares era um escritor talentoso, que sabia equilibrar o humor refinado, o toque popular e a crítica político-social como ninguém. A adaptação cinematográfica "O Xangô de Baker Street" (2001) faz tudo isso ao trazer Sherlock Holmes (Joaquim de Almeida) e dr. Watson (Anthony O'Donnell) para o Rio de Janeiro na época de Dom Pedro II (Cláudio Marzo), contracenando com figuras históricas como Chiquinha Gonzaga (Malu Galli) e tendo que solucionar o sumiço de um violino Stradivarius, culminando em um misterioso assassinato. A partir do olhar do "gringo" e observador Sherlock, a produção apresenta a cultura nacional e a relação de forças da sociedade imperial para nós, brasileiros. O elenco ainda conta com nomes como Marco Nanini, Thalma de Freitas, Maria Ribeiro, Letícia Sabatella, Caco Ciocler e o próprio Jô Soares.
  • O que te faz sentir: malandragem, curiosidade


SHERLOCK HOLMES

Sherlock Holmes - imagem - Divulgação/Warner Bros. - Divulgação/Warner Bros.
Robert Downey Jr e Jude Law fazem uma interessante dupla em 'Sherlock Holmes'
Imagem: Divulgação/Warner Bros.

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  • Onde: HBO Max
  • O que tem de bom: Robert Downey Jr. é mais do que o Homem de Ferro: talentoso, o ator sabe também embarcar em papéis dramáticos (como se esquecer de "Chaplin"?) e em gostosas aventuras, como este "Sherlock Holmes" (2009). No longa, o diretor Guy Ritchie sabe usar muito bem todos os seus clichês e ferramentas para construir um detetive mais ativo e físico, com um ar steampunk. A dinâmica com o Watson de Jude Law é um ponto alto. Na história, os dois investigam o caso de um grupo que quer alcançar o poder do Reino Unido por meios místicos. Sucesso de bilheteria, a produção rendeu uma continuação ("Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras", também disponível na HBO Max) e há um terceiro longa-metragem atualmente em pré-produção.
  • O que te faz sentir: animação, coragem


SR. SHERLOCK HOLMES

Sr. Sherlock Holmes - imagem - Divulgação/Sony Pictures - Divulgação/Sony Pictures
'Sr. Sherlock Holmes' traz uma versão mais nostálgica e agridoce do personagem
Imagem: Divulgação/Sony Pictures

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  • Onde: Netflix
  • O que tem de bom: Como mencionado, o detetive é um arquétipo que pode ser encaixado nos mais diversos conceitos. "Sr. Sherlock Holmes" (2015), por exemplo, abraça uma versão mais velha do personagem, interpretada por Ian McKellen (da trilogia "O Senhor dos Anéis"). Descontente com a forma como foi retratado pelas obras de Watson e pelas subsequentes adaptações no cinema, o próprio Holmes resolve contar o seu último caso, que aconteceu logo após a Primeira Guerra Mundial. Assim como "A Vida Íntima de Sherlock Holmes", é uma produção que tenta desvendar o homem a partir do mito, além de ser um belo relato sobre o crepúsculo da vida, das memórias que carregamos e do nosso legado. McKellen está magnífico em cena.
  • O que te faz sentir: nostalgia, saudosismo

ENOLA HOLMES

Enola Holmes - imagem - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
'Enola Holmes' adapta os conceitos do detetive de forma diferente
Imagem: Divulgação/Netflix

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  • Onde: Netflix
  • O que tem de bom: Este já mencionado filme, de 2020, traz Millie Bobby Brown como a irmã mais nova de Sherlock (Henry Cavill) e Mycroft (Sam Claffin) - e resolvendo o seu primeiro grande caso. Com um tom de aventura, como os longas de Guy Ritchie, é um daqueles filmes gostosos de assistir, pautando assuntos como feminismo, o voto das mulheres e a necessidade da política refletir os anseios de toda a sociedade. É, também, um ótimo exemplo de quebra da quarta parede: Enola sempre se dirige à câmera nos momentos certos, dialogando com o público e nos colocando no meio da história, tudo isso sem ficar cansativo. O elenco também conta com Helena Bonham Carter ("Clube da Luta") como a mãe dos três irmãos.
  • O que te faz sentir: valorização, empolgação


SHERLOCK

Sherlock - imagem - Divulgação/BBC - Divulgação/BBC
'Sherlock' é uma bem-sucedida atualização das obras de Arthur Conan Doyle
Imagem: Divulgação/BBC

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  • Onde: Prime Video, HBO Max
  • O que tem de bom: Levar Sherlock Holmes ao tempo presente não é uma novidade - a série com Rathbone e Bruce já tinha feito isso, para reduzir custos de produção e abordar o clima da Segunda Guerra Mundial. Porém, foi esta série da BBC que conseguiu atualizar de forma mais ampla o tom do personagem, adaptando-o de forma efetiva ao mundo pós-moderno dos celulares e da internet. Em quatro temporadas e um especial (o que dá um total de 14 episódios), "Sherlock" (2010-2017) traz o personagem-título (Benedict Cumberbatch, incrível na tela) e o dr. Watson (Martin Freeman) desvendando casos inspirados na obra de Conan Doyle, mas sempre com um twist que surpreende o espectador. Uma série perfeita para maratonar.
  • O que te faz sentir: entusiasmo, energia


ELEMENTARY

Elementary - imagem - Divulgação/CBS - Divulgação/CBS
Lucy Liu e Jonny Lee Miller são os protagonistas de 'Elementary'
Imagem: Divulgação/CBS

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  • Onde: UOL Play, Globoplay, Paramount+
  • O que tem de bom: Contemporânea de "Sherlock", "Elementary" (2012-2019) é uma outra série de TV que coloca Sherlock Holmes em tempos atuais - no caso, como um detetive consultor com um passado problemático com as drogas (interpretado por Johnny Lee Miller) que se muda para os EUA e colabora com os casos mais difíceis enfrentados pela polícia de Nova York. Ao seu lado está a dra. Joan Watson (Lucy Liu), que o ajuda não só nos casos, mas também na reabilitação. Com o ar de procedural (como o de séries como "CSI" e "Law & Order"), "Elementary" faz um interessante mix da mitologia dos livros com o contexto urbano atual.
  • O que te faz sentir: curiosidade, assombro

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