'O funk é o herói da favela', diz MC Dricka, que toca no Primavera Sound
Chamada de "Rainha dos Fluxos" por movimentar multidões nas ruas das quebradas de São Paulo, MC Dricka tem motivos para comemorar. A jovem de 24 anos soma milhões de visualizações nas plataformas digitais e leva o funk proibidão a palcos de festivais importantes como o Primavera Sound, que acontece no próximo final de semana em São Paulo.
Suas letras são conhecidas por falar da realidade da quebrada e por levantar a bandeira do empoderamento feminino. Ela defende que as mulheres podem trazer a mesma linguagem dos MC's homens e rebate a sexualização do corpo feminino na música.
Fernanda Andrielli Nascimento dos Santos nasceu e cresceu na Vila Prazo, na periferia de São Paulo, e se tornou uma aposta do funk em 2019 com o lançamento de "Empurra Empurra". Hoje, consolidada, roda o país com shows, fura o "bloqueio" entre quebrada e mainstream e é disputada também pelo mercado publicitário.
Por isso, ela afirma que o funk mudou sua vida e a de sua família.
"A gente tá bem melhor agora, né? Minha vó consegue morar com a minha mãe e meu tio juntos. Eu, particularmente, tenho minha casa. Hoje, sou casada com a Larissa e a gente vive em Arujá. Tenho uma empresa agora com os meus artistas, vou lançar meu DVD no final do ano", celebra.
Não só mudou minha vida, o funk se tornou o herói da favela e conseguiu quebrar bastante o preconceito que existia.
MC Dricka sobre o funk
O funk chegou à vida de Dricka quando ela tinha em torno de 12 anos, época em que sua família não apoiava o estilo musical, durante uma festa de Dia das Crianças na comunidade em que vivia. Até então, ela só ouvia e cantava rap.
"Na festa, colou um monte de MC de funk e eu achei o beat muito fod*, a galera era animada. Foi surreal. Na época, eu só conhecia o rap, porém o que estourava era um rap de passar a visão e de conscientizar. Mas eu era novinha, tinha vivido merd* nenhuma, então, não tinha muito o que eu falar para conscientizar... O funk, pelo contrário, era dançante, falava de ir ao baile, de beber e curtir. Acabei me identificando bastante por falar sobre festas e animação", conta.
Na sequência, ela foi influenciada por funkeiras cariocas pioneiras, como Tati Quebra-Barraco, MC Carol, MC Marcelly e Valesca Popozuda, por desafiarem o padrão estético que o funk impunha às mulheres há dez anos. Além disso, foi influenciada pelo feminismo ao conhecê-lo por meio de sua escola de música.
"Como uma mulher funkeira fora do padrão, me interessei pelo feminismo porque a gente merece espaço, sim, é preciso ensinar sobre liberdade feminina", reflete.
Ela conta que já sofreu críticas por cantar o funk proibidão e argumenta que artistas internacionais também abusam de letras ousadas, mas não são criticados.
"Aqui é Brasil. A galera paga pau para gringo, não para nós mesmos. Eles sempre cantam put*ria e não são criticados, é tudo normal, mas a turma de casa... Em casa, você nunca tem valor. Os primos de fora que são interessantes", afirma.
Show no Primavera Sound
A funkeira sobe ao palco Elo do Primavera Sound no próximo domingo. No papo com Splash, ela diz que é gratificante estar em um dos palcos principais do festival.
"Estou ganhando mais espaço. Só tenho que agradecer a Deus primeiramente e a todo mundo que me convida a grandes festivais", diz.
Ela ainda promete que vai trazer novidades ao palco da primeira edição do festival espanhol no Brasil. "Vai ser uma nova evolução se der certo a gente vai começar a praticar isso em todos os shows. Então, vai ser uma oportunidade de eu mostrar meu trabalho da melhor forma e também registrá-lo por um bom tempo", conta.
"Vai ter look especial, não só para mim, mas também para os dançarinos. Vamos mudar todo o visual do palco, deixando bem Rainha dos Fluxos, deixar algo bem 'mandela'", prossegue.
É a chance da artista levar a própria música e a cultura dos fluxos a quem não conhece. "Posso ser conhecida no Brasil todo, mas nem todo mundo me conhece. Essas pessoas vão poder conhecer de pertinho como é o fluxo e a Rainha dos Fluxos. Vão poder ter uma boa impressão e começar a ouvir não só os meus funks, como os dos demais também", deseja.
Próximos passos
Em 2021, ela estampou um telão na Times Square, em Nova York (EUA). Neste ano, já esteve no Rock in Rio e se prepara para subir no palco do Primavera Sound em São Paulo. Também criou recentemente a própria produtora.
Eu não esperava ser tão grande assim. Só tenho que agradecer a Deus. Nada a reclamar. Toda vez que a gente faz uma oração, a gente só agradece mesmo.
Agora, ela quer mostrar que não esqueceu da quebrada, nem a origem humilde. Ainda neste ano vai gravar o DVD "Mega da Rainha" na escola em que estudou na Vila Prado.
"'Mega da Rainha' vai ser gravada na minha quebrada. Eu nunca vou deixar de ser quebrada. Eu quero transparecer isso para a galera. Convidei artistas do Rio, Belo Horizonte e São Paulo, artistas como Borges, Dom Laike e Xamã. Eles vão estar cantando mandelão, vou levá-los para nossa periferia, de onde saí. Grandes artistas cantando no fluxo com a Rainha dos Fluxos. Vai ser um bagulho 'brisa'", comemora.
E quais são os planos futuros de Dricka? "Quero ser internacional. Essa é a meta, já até gravei uma música espanhol. Vêm novidades. É uma parceria com pessoas de fora", adianta.
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