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Por que Guilherme de Pádua não foi ouvido em série sobre assassinato?

Colaboração para Splash

07/11/2022 08h31

O ex-ator e pastor batista Guilherme de Pádua, que morreu ontem aos 53 anos, vítima de um infarto, não foi ouvido na série documental "Pacto Brutal - O Assassinato de Daniella Perez".

A produção da HBO Max, que foi lançada em julho deste ano e detalha a trágica morte da atriz de 22 anos em 1992, traz depoimentos de diferentes pessoas relacionadas ao caso, exceto do assassino e de sua cúmplice, Paula Peixoto (à época, Paula Thomaz). Em entrevista a Splash, os diretores da série explicaram que o projeto não quis dar espaço para ouvir os dois.

"Ao longo dos anos, eles tiveram muito espaço na imprensa. Eles ofereceram diferentes versões que foram mudando. Houve até situações em que prometeram 'contar o que nunca foi contado', mas nada acontecia. Somos um documentário, é diferente de jornalismo", afirmou Guto Barra.

Já Tatiana Issa disse que se tratava de uma "família (Perez) que não consegue ter paz" e dar espaço para os dois condenados pelo crime seria deixar que "versões mentirosas fossem perpetuadas".

Além da decisão dos documentaristas, não ouvir os assassinos foi um pedido da mãe de Daniella, a autora Gloria Perez. O que está presente na série é a reprodução do que a defesa dos assassinos falaram ao longo do processo e no julgamento.

"Eu realmente não queria que fizessem a entrevista dos assassinos agora, mas isso também não veio na proposta deles. Tanto a Tatiana quanto o Guto, quando eles fizeram essa proposta, eles já fizeram não incluindo os depoimentos dos assassinos. E por quê? (...) Tudo o que eles disseram durante o processo está lá na série. É o que interessa. A defesa deles está lá. Hoje em dia, se você quiser saber como eles vão, é só abrir as redes sociais. Eles estão lá exibindo a sua impunidade. Não precisa agora perder tempo dando microfone. Seria dar palco a psicopata", disse Gloria também em entrevista a Splash.

Julgamento e liberdade

O julgamento de Guilherme e Paula aconteceu cinco anos depois do crime. Ele foi condenado por homicídio qualificado por motivo torpe, com impossibilidade da defesa da vítima. O ex-ator teve pena de 19 anos de prisão. No entanto, permaneceu na cadeia por apenas sete.

Segundo divulgou o jornal Correio Braziliense em novembro de 2021, ele se tornou pastor de uma igreja evangélica de Belo Horizonte (MG).

A cúmplice de Guilherme de Pádua foi condenada a 18 anos e seis meses de prisão. Depois de seis anos no presídio, Paula Thomaz passou a cumprir a pena em regime semiaberto e se formou em direito, segundo o colunista Paulo Sampaio, de UOL TAB. Hoje, responde como Paula Nogueira Peixoto, sem o Thomaz, sobrenome de Pádua que tinha em razão do casamento.

Em janeiro deste ano, a Justiça do Rio de Janeiro determinou que Paula Thomaz e Guilherme de Pádua pagassem uma indenização de R$ 480 mil para a autora Gloria Perez, mãe de Daniella.

Os dois lados

O questionamento sobre a ausência da participação dos condenados pelo crime e de suas defesas virou assunto desde o lançamento da série, sendo abordado em diferentes publicações.

O jornalista Bernardo Braga Pasqualette, que está escrevendo um livro sobre o caso, afirmou em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, que "não ouvir Guilherme de Pádua sobre Daniella Perez é um perigo", pois o "documentário não deu espaço para a defesa, fortalecendo a narrativa de que houve parcialidade na cobertura do caso".