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Ex-Jovem Pan, Henckel já brigou com ex-atletas e foi acusada de transfobia

Ana Paula Henkel decidiu se afastar da Jovem Pan após saída de Augusto Nunes - Reprodução/YouTube
Ana Paula Henkel decidiu se afastar da Jovem Pan após saída de Augusto Nunes Imagem: Reprodução/YouTube

De Splash, em São Paulo

08/11/2022 04h00

A comentarista Ana Paula Henkel, de 50 anos, anunciou ontem o seu desligamento do programa "Pingo nos Is" (Jovem Pan) em virtude da ausência do demitido Augusto Nunes. Assim, ela não volta mais a atração mesmo estando entre os escolhidos no canal para seguir como uma voz da direita após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.

Hoje pedi meu desligamento do 'Pingo nos Is'. Tivemos o episódio da censura do TSE, mas desde o resultado das eleições nosso microfone foi aberto e não houve restrição. No entanto, meu amigo e mentor Augusto Nunes foi desligado. Ele quem me levou para a Jovem Pan e quem de fato me manteve no programa. Na semana de sua saída, ele pediu para que eu ficasse. Então eu fiquei, obedecendo as ordens do nosso mestre. Mas seguir no programa sem a perspectiva da sua volta é impossível. E por isso pedi meu afastamento.
Ana Paula Henckel, postou em seu perfil no Twitter

A ex-jogadora de vôlei, que faturou a medalha de bronze nas Olímpiadas de 1996, ficou conhecida nas redes sociais por se identificar com a direita e apoiar publicamente o presidente Jair Bolsonaro (PL). Ela, inclusive, coleciona polêmicas por conflitos em razão de posicionamentos distantes de ex-colegas de esporte.

Ela já brigou com os ex-jogadores Neto e Walter Casagrande, causou polêmica com comentário transfóbico com uma nadadora trans e até distorceu informações sobre mortes por vacina na pandemia.

Acusada de racismo

Em 2020, Ana Paula foi acusada de racismo nas redes sociais. Ela fez uma postagem no Twitter, em inglês, dizendo: "12% negros, 62% dos roubos, 56% dos assassinatos. Faça suas contas".

Ela ainda retuitou um vídeo em que uma americana negra contestava os protestos antirracistas que tomaram as ruas nos Estados Unidos após o assassinato de George Floyd por um policial branco, em Mineapolis.

"A ignorância, a brutalidade e a maldade aparecem em todas as cores, assim como a honestidade intelectual, a coragem e a verdade", escreveu ela.

Briga com Casagrande e Neto

Em 2021, o comentarista Walter Casagrande usou seu blog na Globo para afirmar que Henkel era "defensora dos violentos, dos antidemocráticos, das armas e de tudo que é ruim em nossa sociedade" por seu apoio a Jair Bolsonaro.

No post, direcionado aos esportistas do Brasil, Casagrande pede "desculpas por ter posto no meio de vocês [atletas], e por muito tempo, uma pessoa intragável, prepotente, arrogante, defensora de armas, que se disfarçou de jogadora de vôlei".

Depois, Ana Paula usou o Twitter para disparar contra o ex-atacante. "Prezado Casagrande, olhe para a sua vida e para um espelho. Eu sou o menor dos seus problemas, acredite. Tente me esquecer", iniciou a ex-jogadora em sua rede social.

"Arrume o seu quarto primeiro, que há muitos anos está uma verdadeira bagunça, antes de querer 'consertar' o mundo", finalizou Ana Paula após a repercussão do texto do comentarista da Globo.

Quem não gostou da resposta de Ana Paula Henkel a Casagrande foi o apresentador Neto. Em edição do "Os Donos da Bola" (Band), o também ex-atleta de futebol questionou quem era ela para falar de seu companheiro de profissão.

"Ana Paula, quando você brigou pelo vôlei? Quando você brigou para que o vôlei - com tudo o que aconteceu, diga-se de passagem, a roubalheira - fosse melhor? Quando você desenvolveu uma opinião para que o vôlei fosse melhor? Agora, você falar do Casagrande. Quem é você para falar do Casagrande?", disse Neto.

O ex-jogador ainda citou o antigo vício de Casagrande em drogas para defender o colega de profissão. "Quem é você para falar que ele não sei o quê, ou que o pessoal do Bolsonaro ou do PT? Vocês não têm moral para falar do Casagrande. Quero saber de vocês que têm filhos viciados, ou que são alcoólatras. Quem é você para julgar uma pessoa doente? Em relação a esse vício desgraçado que acaba com famílias. E ele é um representante de famílias de que existe salvação desde que você tenha apoio", acrescentou.

No mesmo dia, Casão aproveitou a presença no "Bem, Amigos" (SporTV) para agradecer Neto. "Eu quero mandar um beijo para o Neto, que comprou uma briga que não era dele. Muito obrigado, Neto", afirmou.

Casagrande agradece Neto por o defender contra Ana Paula - Reprodução/SporTV - Reprodução/SporTV
Casagrande agradece Neto por o defender contra Ana Paula
Imagem: Reprodução/SporTV

Informações distorcidas na pandemia

Em uma das aparições na Jovem Pan, em fevereiro de 2021, Ana Paula disse que as vacinas contra covid-19 aplicadas nos Estados Unidos tinham causaram a morte de 501 pessoas e mais de 11 mil reações adversas. Entretanto, a informação foi distorcida pela comentarista.

Os dados eram de uma plataforma na qual qualquer pessoa pode incluí-los e, neste caso, ainda sem investigação por parte dos órgãos responsava. Ou seja, os números não podem ser creditados à vacinação de forma oficial.

A fonte que Ana Paula utilizou é do site do VAERS (Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas, na tradução), do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), agência do departamento de saúde dos EUA. A plataforma, de fato, reportou 501 mortes e 11.249 eventos adversos por conta das vacinas, no final de janeiro, mas ainda não houve nenhuma verificação do CDC.

Ana Paula também chegou a falar que o Brasil vivia uma "roleta-russa" por conta da aplicação das vacinas. Mas a afirmação, mais uma vez, também não fazia sentido, porque não havia na época qualquer registro que relacionasse as vacinas com eventos adversos graves ou mortes no país, conforme esclareceu a Anvisa.

Ana Paula Henckel distorceu informações da pandemia na Jovem Pan - Reprodução/Youtube - Reprodução/Youtube
Ana Paula Henckel distorceu informações da pandemia na Jovem Pan
Imagem: Reprodução/Youtube

Comentários transfóbicos

Em meio às polêmicas sobre vacina e com Casagrande e Neto, Ana Paula causou revolta nas redes sociais ao fazer comentários transfóbicos após a nadadora trans Lia Thomaz vencer uma competição universitária nos Estados Unidos.

No Instagram, Ana Paula publicou uma imagem de Lia e questionou sua participação em torneios femininos: "Conheçam Lia Thomas, atleta trans e a nova 'campeã' de natação da liga universitária dos EUA. Sua genética masculina desclassificou meninas, bateu recordes e recebeu troféus no esporte feminino. Respeito como as pessoas escolhem viver suas vidas, mas jamais aplaudirei isso no esporte. Jamais", declarou.

A ex-atleta prosseguiu: "Não há palavras para expressar a tristeza no coração em ver meninas tendo suas chances ceifadas, após anos de treinamento e investimento, por uma ideologia nefasta, vil e injusta. Parem de fingir que isto é inclusão. Isto é EXCLUSÃO de meninas e mulheres do esporte feminino. Acordem, atletas. Acordem. Vocês são as únicas capazes de parar essa insanidade contra nós mulheres. Não tenham medo".

"Eu respeito as decisões das pessoas. Não me interessa com quem elas se relacionam. Sejam felizes. Mas algumas decisões não trazem direitos automáticos. No esporte há XX e XY. Masculino e feminino. Não há "gênero", finalizou.

Derrota para Casagrande e Neto

Após as trocas de farpas com Casagrande, Ana Paula Henkel entrou com processo contra o comentarista e a TV Globo, que exigiu o pagamento de R$ 100 mil de indenização, mas acabou derrotada nos tribunais.

Ela teve, sim, o seu direito de resposta cedido no blog de Casagrande. No entanto, a juíza Rosana Moreno descreveu que, na realidade, quem chegou mais perto de ataques pessoais foi Ana Paula, que falou da doença de Casagrande. É o que informou o colunista Diego Garcia, do UOL Esporte.

A juíza entendeu que as declarações publicadas pelo ex-atacante do Corinthians não configuraram excesso da liberdade de imprensa e constituem regular exercício de critica, que "admite até mesmo o emprego de expressões contundentes, especialmente quando o criticado é pessoa notória, sujeita assim a maior escrutínio por suas posições públicas".

Assim, o tribunal condenou Ana Paula a pagar R$ 10 mil — ou 10% do valor pleiteado pela ex-atleta — aos representantes de Casagrande e da Globo.