Musa nua, psicodelia e censura: momentos inesquecíveis da destemida Gal
Ricardo Calazans
Colaboração para Splash, do Rio
09/11/2022 14h17
"Ela nunca tinha querido nada em sua vida a não ser cantar", escreveu Caetano Veloso sobre a amiga Gal Costa em sua biografia "Verdade Tropical". Com sua voz, Gal Costa fez muito mais: revelou compositores, renovou a música popular e revolucionou costumes, com muitos momentos que marcaram a cultura e sociedade brasileiras nas últimas seis décadas.
Listamos seis momentos em que a personalidade destemida de Gal Costa se impôs e marcou sua trajetória:
O primeiro hit
A baiana Gal Costa era amiga de infância e adolescência do grupo que viria a fundar o movimento tropicalista na segunda metade dos anos 1960. Sua estreia foi ao lado de Caetano Veloso em 1967, no álbum "Domingo".
No ano seguinte, com Caetano, Mutantes, Gilberto Gil, Tom Zé, Nara Leão e Rogério Duprat, participou do álbum-manifesto "Tropicália ou Panis et Circenses", que lhe rendeu o primeiro grande hit da carreira: "Baby", que se tornou um clássico da MPB.
Líder da resistência
Com o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Gal Costa assumiu as rédeas artísticas do pós-tropicalismo, radicalizando tanto na psicodelia como nas misturas sonoras, sem abrir mão de sua liberdade artística num momento em que a democracia havia sido suprimida pela ditadura militar. Os incendiários shows "Fa-tal" (1971) e "Gal a Todo Vapor" (1972) e a capa do disco "Índia", censurada pelos militares, são exemplos de seu poder de enfrentamento.
Musa hippie
Nesta época, na zona sul do Rio de Janeiro, jovens hippies estenderam suas cangas ao lado de um píer de madeira na praia de Ipanema. A própria Gal Costa, musa da juventude contracultural, era vista por ali antes dos seus shows no Teatro Ipanema, e acabou batizando o pico como "Dunas da Gal". Surfe, drogas psicodélicas e novas modas, como o topless, prosperaram no lugar até 1975, quando o píer foi desmontado e as Dunas da Gal tiveram seu fim - o espírito contracultural.
Sem medo de ser feliz
Nos anos 1980, Gal Costa abraçou o pop e vendeu muitos discos. Continuou também a se divertir "chocando a sociedade", como quando decidiu, a poucos meses de completar 40 anos, posar nua para a revista "Status".
De peito nu
Na década seguinte, Gal causou mais polêmica nos shows da turnê de seu disco "O Sorriso do Gato de Alice", de 1994. Dirigida pelo controverso Gerald Thomas, durante a música "Brasil", ela abria a blusa e cantava com os peitos à mostra, para choque dos fãs conservadores e moralistas de plantão. Com esse trabalho, ela ganhou os prêmios Sharp e APCA do ano.
De volta aos festivais
Ao longo de toda a carreira, Gal nunca se divorciou do sucesso. Em 2011, o elogiadíssimo álbum "Recanto" foi eleito o melhor álbum do ano. Em trabalhos mais recentes, como "Estratosférica" (2015) e "A Pele Do Futuro" (2018), aproximou-se de jovens músicos e compositores, e passou a se apresentar para um público renovado em festivais de música. Há apenas um mês, durante show no Coala Festival, pediu: "Daqui a 15 dias a gente escolhe o nosso presidente, vamos votar direitinho, vamos votar com sabedoria e com inteligência, sem ódio e com amor".
Morre a cantora Gal Costa; confira momentos marcantes da carreira
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Gal Costa
Gal Costa morreu hoje aos 77 anos em sua casa em São Paulo. A informação foi confirmada a Splash pela assessoria da cantora.
Ela fez sua estreia em 1964, quando chamou atenção por seu cantar rasgado no espetáculo "Nós, Por Exemplo..." ao lado de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia.
Seu primeiro disco solo, "Gal Costa", foi lançado em 1969, após trabalhos em conjunto com Caetano e Gil, e trouxe sucessos, como as músicas "Baby", "Divino Maravilhoso", "Que Pena" e "Não Identificado".
Após completar 70 anos, Gal se manteve ativa musicalmente e passou a gravar nomes da nova MPB. Também conquistou os jovens com os álbuns "Estratosférica" (2015) e "A Pele Do Futuro" (2018).
Gal Costa voltou a ser requisitada em festivais pelo país. Ela estava confirmada no festival de música Primavera Sound em São Paulo no último final de semana, mas cancelou a participação semanas antes do evento.
Em 2007, adotou seu filho único, Gabriel, na época com 2 anos. Pela rapidez do processo, a cantora foi acusada de furar a fila de adoção pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
Na época, Gal divulgou uma nota dizendo que Gabriel "é um brasileiro típico, caboclo, subnutrido, raquítico e com sérios problemas de saúde" e que "ama a criança como filho".
Em entrevista a Jô Soares, em 2013, a cantora revelou que o apelido Gal Costa, pelo qual ficou conhecida passou a integrar seu nome de registro mais tarde.
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