Vítimas revelam esquema de coach que acusou Yasmin de tráfico de pessoas
Três mulheres denunciaram como Katiuscia Torres, Desirre Freitas e Leticia Maia, as três influenciadoras que acusaram Yasmin Brunet de tráfico de pessoas, aplicavam golpes nos Estados Unidos.
Em entrevista ao jornal O Globo, as supostas vítimas contaram que a guru espiritual e autodenominada "bruxa" Kat [Katiuscia ]Torres explorava seus pontos fracos para saber exatamente como extorqui-las.
Uma mulher que preferiu não se identificar afirmou que começou a falar com Katiuscia via Skype em 2017, e que foi extorquida em mais de R$ 150 mil — as consultas, em que a guru costumava dar conselhos amorosos, eram cobradas em dólar.
"Ela ficou cinco anos me acompanhando com todos os caras que eu saí. Ela sabia que eu era insegura e sempre falava para eu ir para as consultas para ter mais confiança. Para falar com os homens, ela escrevia a mensagem e eu só encaminhava. E os conselhos davam certo, por isso eu confiava. Tenho uma família muito bem estruturada, meu foco nunca foi ganhar dinheiro. Mas ela queria o meu dinheiro e conseguiu", relatou.
Na época, as consultas custavam cerca de R$ 1000. Katiuscia também oferecia outros serviços, como um "banho de iniciação", que deveria ser feito pessoalmente e que custaria US$ 10 mil, além de outras sessões de bruxaria, cada uma a US$ 800.
A mulher em questão chegou a viajar aos Estados Unidos para encontrar a guru.
Ninguém a conhecia de verdade, mas eu confiava.
"Eu fazia tudo o que ela mandava, decidi que abriria mão da minha vida no Brasil para passar um tempo lá. Coloquei condições de que teria de ter meu espaço. Ela e as meninas (Letícia e Desirrê) me tratavam como rainha. Mas comecei a ver que os banhos com cristais não funcionavam, o meu ex não me procurava, e as meninas deixaram escapar que a Kat as proibiram de falar de negócios comigo. A Flare, uma terceira menina que trabalhava com a Kat, também disse que o meu ex-namorado não era o homem para a minha vida. Então, depois de cinco dias, eu vim embora e nunca mais falei com nenhuma delas", contou.
"Sugar baby"
Outra suposta vítima que preferiu não se identificar relatou uma história parecida. O contato com Katiuscia começou em 2018, quando buscou ajuda e consultas para conseguir lidar com um relacionamento conturbado.
A guru, então, sugeriu que a garota fosse trabalhar nos Estados Unidos como sugar baby — em geral, mulheres jovens que aceitam presentes caros, viagens, entre outras de homens mais velhos e ricos, conhecidos como sugar daddy.
"Eu procurava as consultas, mas ela também sempre me procurava falando que a voz disse que eu precisava ouvir um conselho. Depois que terminei meu relacionamento, ela disse ter percebido que meu problema era não gostar do curso de engenharia do petróleo que estava cursando e propôs que eu fosse trabalhar com sugar baby nos EUA. Ela queria ter várias meninas fazendo o mesmo que eu porque me contou que pretendia montar um Airbnb para isso", afirmou.
Ela tinha um poder de coação muito grande, falava mal das clientes que não gostava, e isso me provocava um medo dela. No fundo eu queria ver até aonde ia essa história, porque eu nunca aceitei ir ilegalmente para os EUA. Mas me arrisquei demais.
Promessa de dinheiro e autoconfiança
Já com a catadora de recicláveis Maiara Ribeiro, de 28 anos, o primeiro contato aconteceu após um comentário nas redes sociais. Em uma foto publicada no Instagram, a jovem comentou que queria ser uma mulher "poderosa igual a Kat". Depois disso, a guru teria respondido ao comentário dizendo que poderia ajudá-la a ter mais autoestima e a convidando para ir aos Estados Unidos com tudo pago.
"Ela me dizia que eu voltaria da Califórnia uma mulher muito mais confiante e com dinheiro. Mas em momento algum ela me ofereceu um emprego ou disse para eu levar o meu marido e minhas duas filhas. Eu só acreditei, fui atrás dos documentos e encaminhei para que ela pagasse. Estava disposta a arriscar para ter uma vida melhor, mas infelizmente fui enganada", contou.
Porém, após a promessa, Katiuscia sumiu. "Uma das seguidoras dela me contou o que estava acontecendo e agradeci a Deus por ela ter parado de me responder. Eu me senti humilhada", refletiu Maiara.
Influenciadoras presas
Katiuscia Torres, Desirre Freitas e Leticia Maia, as três influenciadoras que acusaram Yasmin Brunet de tráfico de pessoas, foram presas nos Estados Unidos no início deste mês. As três estão na lista de detentas do Condado de Cumberland, na Carolina do Norte, mas o motivo da prisão não foi divulgado.
Em uma série de vídeos, Yasmin explicou que foi envolvida na história após entrar a live de Leticia Maia, uma brasileira que estaria supostamente desaparecida nos Estados Unidos. Ela pediu que a garota filmasse o quarto em que estava para provar que estava bem, mas a menina se irritou e encerrou a live. Em seguida, segundo Yasmin, Katiuscia fez uma publicação acusando-a de manter a garota em cativeiro, e as três passaram a divulgar a história.
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