Por que a fala de William Bonner sobre esquizofrenia foi ofensiva?
William Bonner, de 58 anos, se desculpou ontem no Jornal Nacional (TV Globo) por uma fala ofensiva durante a cobertura do segundo turno da eleição presidencial.
O jornalista fez o comentário no dia 30 de outubro, durante a apuração das eleições. Ele se confundiu com a projeção da pesquisa Datafolha em um dos estados para governador se justificou: "Não é que minha esquizofrenia tenha chegado a esse ponto. Me disseram uma coisa no ponto [eletrônico], que tínhamos uma informação nova", disse, na ocasião.
O noticiário exibiu uma reportagem sobre a esquizofrenia e Bonner se retratou: "Alguns dias atrás, no domingo do segundo turno da eleição, eu, por ignorância, usei a palavra esquizofrenia como se fosse sinônimo para uma explicação confusa que eu tentei fazer. [...] Felizmente, eu fui alertado para o erro. Essa reportagem é uma forma de me retratar pelo meu erro pessoal e também a nossa maneira de ajudar a combater a falta de informação".
Mas por que a fala de Bonner é considerada ofensiva? A fala dele foi psicofóbica ou capacitista? Qual a diferença entre esses dois termos? Deixa que Splash explica!
Segundo Lucas Pontes, editor da Revista Neurodiversidade, a fala de Bonner pode ser considerada psicofóbica e capacitista.
A psicofobia é o preconceito contra pessoas com transtornos e deficiências mentais, como a esquizofrenia, a deficiência intelectual, o TOC, entre outros.
A fala de William Bonner se utiliza de um transtorno mental de forma pejorativa, com o intuito de, mesmo que de forma humorada, justificar sua falha. [...] Uma das manifestações mais comuns de tal preconceito é, justamente, através de falas que relativizam e ridicularizam pessoas com transtornos mentais, ao justificarem uma falha própria ou de terceiros a partir de um suposto transtorno ou condição, fomentando a estigmatização dos transtornos mentais
Já o capacitismo é o preconceito contra pessoas com deficiência no geral: "Se dá, basicamente, através da falsa concepção de que essas são inferiores ou exageradamente especiais. Essas deficiências podem ser visíveis, como em uma pessoa cadeirante, ou invisíveis, como em uma pessoa autista", continua.
Nem todos os profissionais, porém, concordariam com a classificação da fala de Bonner como capacitista. Isso porque há divergências na hora de considerar a esquizofrenia uma deficiência.
Para Lucas, a retratação de Bonner foi feita da forma mais eficaz, por ter sido feita no mesmo contexto em que a fala preconceituosa foi veiculada. Além disso, por meio da reportagem sobre esquizofrenia, o âncora trouxe visibilidade para quem é diretamente afetado pelo preconceito.
"Reconhecer os próprios erros e retratar-se de forma assertiva, corrigindo o erro cometido e dando visibilidade para as pessoas afetadas pelo preconceito, assim como foi feito por Bonner e sua equipe, é de extrema importância para que possamos desconstruir e problematizar comportamentos antes vistos como aceitáveis", concluiu.
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