Topo

Saída da Globo e guinada bolsonarista: a trajetória de Lacombe na TV

Luís Ernesto Lacombe relembra saídas da Globo e da Band - Reprodução/YouTube
Luís Ernesto Lacombe relembra saídas da Globo e da Band Imagem: Reprodução/YouTube

Colaboração para Splash, em São Paulo

13/11/2022 04h00

Luís Ernesto Lacombe foi demitido da RedeTV! anteontem, conforme antecipou o colunista de Splash Ricardo Feltrin. Ele ainda apresentará o programa desta semana, mas, nos bastidores da TV, é dado como certo que Amanda Klein o substituirá com um programa no mesmo horário.

Sua passagem pelo canal com sede em Osasco (SP) foi marcada por polêmicas decorrentes do alinhamento ao bolsonarismo, mas essa nem sempre foi a marca da carreira do jornalista carioca.

Começo de carreira e jornalismo esportivo

Formado pelas Faculdades Integradas Hélio Afonso, Lacombe começou sua trajetória no jornalismo como estagiário da TV Bandeirantes em 1988. Por lá ele também foi repórter e depois se tornou âncora do Jornal do Rio antes de se transferir para a Rede Manchete - onde foi repórter, apresentador e editor -, em 1990.

Em 1992, o jornalista se mudou para Florianópolis e passou a trabalhar na RBS (hoje NSC), afiliada da TV Globo na região. Cinco anos mais tarde, Lacombe volta ao Rio como repórter da TV Globo e depois é transferido para a GloboNews, onde foi apresentador.

Mas a notoriedade veio mesmo quando ele aceitou dar uma reviravolta e trabalhar com esportes. Em 2003, ele assume o comando do SuperVolley, no SporTV, para, em seguida, se tornar o apresentador do Esporte Espetacular (TV Globo), o mais notável dentre os programas de jornalismo esportivo da televisão brasileira. Por lá, ele ficou 7 anos, para depois apresentar o Placar da Rodada (TV Globo) e os blocos esportivos do Bom Dia Brasil (TV Globo).

Chico Barney, colunista de Splash, afirmou que, "até então, pouco se sabia sobre o que pensava Lacombe a respeito das coisas do mundo. Como um clássico condutor de telejornais, limitava-se a ler as notícias".

Saída da Globo e guinada bolsonarista

Demitido da Globo em 2017, na sequência comandou na Band um programa de competição misturado com reality show, o Exathlon Brasil. Mas foi só em 2019 que Lacombe deixou o universo esportivo de lado e assumiu o comando do programa Aqui na Band, ao lado de Silvia Popovic.

Por lá, Lacombe colecionou polêmicas, como as críticas feitas por Felipe Neto quando o apresentador disse que "não comprava" um discurso da ativista Greta Thumberg contra o aquecimento global.

Ele também bateu boca ao vivo com a colega Silvia Popovic enquanto discutiam os desdobramentos do caso da menina Ághata Vitória, de 8 anos, que estava dentro de uma kombi e morreu ao ser atingida por dois tiros no Complexo do Alemão, zona norte do Rio.

Popovic criticou a política de segurança pública do Rio, enquanto Lacombe discordou e saiu em defesa dos policiais, já que - segundo ele - não havia provas de que a polícia teria sido culpada pela morte de Ághata.

Meses depois, o assunto voltou a esquentar nas redes sociais quando ficou confirmado que Ághata foi morta por um tiro disparado por um policial militar e Lacombe foi cobrado no Twitter.

A crise no programa se acentuou quando pautas consideradas sem fundamento foram ao ar sem passar pelo departamento de jornalismo da emissora. Houve, por exemplo, uma discussão especulando "quem mandou matar Bolsonaro?" com debatedores de um único lado político e esquecendo o fato de que Adélio Bispo teria agido sozinho, segundo a polícia, durante a última campanha presidencial.

Lacombe foi desligado da Band e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), na época, classificou a demissão como "vitória da hegemonia esquerdista na TV".

Passagem pela RedeTV!

Em 2020, anunciou nesta quarta-feira (26) ter chegado a um acordo com Lacombe para apresentar "formatos". O colunista de Splash Mauricio Stycer afirmou que a contratação mostrava o alinhamento da emissora com o bolsonarismo.

Meses antes, o presidente Jair Bolsonaro escreveu no Twitter: "Luís Lacombe, Leandro Narloch, Caio Coppolla e Rodrigo Constantino possuem algo em comum, que é opinião própria e independência. Isso já é suficiente para serem considerados nocivos dentro de grande parte da mídia, hoje completamente dominada pelo pensamento de esquerda radical".

Na época, Lacombe afirmou que "boa parte" da mídia tradicional se comporta como "um partido político derrotado nas eleições".

"Omitir ou diminuir o que é bom no governo, aumentar o que é ruim, até mesmo inventar problemas, defeitos, isso tem sido um comportamento comum de alguns veículos de comunicação", disse em entrevista ao jornal O Dia.

Ele também disse que sofreu censura na Band, que exigia que as pautas do programa passassem pela equipe de jornalismo da emissora.

"Teve outro acaso, foi uma espécie de censura que a gente sofreu na Band e me fez sair da emissora. Sofremos uma intervenção, nossas pautas tinham que passar pelo jornalismo, perdemos uma liberdade para comentar. Foi um acordo [sobre a saída]", completou.

O programa semanal "Agora É Com Lacombe" apostava em pautas polarizadoras e chegou a colocar um médico negacionista para discutir sobre a pandemia da covid-19.

Foi trabalhando na RedeTV! que ele foi escolhido pelo Prêmio Comunique-se como melhor apresentador de 2021. Astrid Fontenelle gerou polêmica ao comentar a decisão, criticando a entrega da premiação a uma pessoa "negacionista" e declarada apoiadora do governo Jair Bolsonaro (PL).

E foi sob o comando de Lacombe que Paulo Guedes deixou a emissora durante uma entrevista que nunca foi ao ar, quando perguntado se era a favor ou contra o piso salarial dos enfermeiros. Em informação dada pelo colunista de Splash Ricardo Feltrin, o apresentador teria se irritado com o fato de o diretor de jornalismo da RedeTV, Franz Vacek, ter mandado que ele usasse um ponto eletrônico, algo inédito para o jornalista.

Lacombe nunca usou esse equipamento, que permite que alguém fale com ele enquanto está gravando ou fazendo um programa ao vivo. Vacek não só mandou usar o ponto como ele próprio ficou na ilha de edição como "guia" no ponto.

"A verdade é que, como bom governista, ele não queria fazer aquela pergunta, já antecipando que ela irritaria o visitante. Vacek insistiu e Lacombe perguntou", contou Feltrin.

A entrevista não foi ao ar a pedido de Paulo Guedes.