'Nosso colega de perícia foi assassinado e só descobrimos na cena do crime'
Trabalhar com crimes não é fácil, mas com o passar do tempo os profissionais da área acabam se acostumando com a violência que encontram todos os dias. No entanto, há momentos em que, mesmo com anos de trabalho, os especialistas não se acostumam.
É o caso retratado no terceiro episódio de "Perícia Lab" intitulado "Cada escolha, uma sentença". Estrelado pela fotógrafa pericial Telma Rocha e pelo perito criminal Ricardo Salada, a série — exibida às 22h55, no AXN, toda segunda-feira — recria casos pelo ponto de vista da perícia.
Em entrevista a Splash, ambos contaram que não foi fácil gravar sobre o crime retratado porque se tratava de um amigo dos dois.
"Nosso colega de perícia morreu e só descobrimos quando atendemos o caso", diz Salada. "Foi muito trágico, porque era um colega nosso, Leandro. Ele foi vítima de um latrocínio no primeiro dia das férias dele."
O assassinato do amigo é retratado durante o episódio, assim como o processo usado pelos profissionais para desvendar o crime. Para mostrar ao espectador com detalhes, a produção recria em seus laboratórios minúcias do crime, o que não foi fácil para Ricardo Salada, que tinha conexão com Leandro.
"Para nós foi um crime muito marcante, até pela proximidade com a vítima. E todo mundo sabia que o cara era muito gente boa, muito querido. Foi um desafio fazer o nosso trabalho e fazer o atendimento no local".
Entre todos os casos abordados na série, este é também o que mais emociona Telma. "Justamente por ser um colega nosso, do setor de homicídios."
"Quando eu entrei no estúdio e vendo tudo aquilo, mesmo que cenográfico, de maneira bem lúdica, foi difícil. Tinham alguns elementos da cena de crime real. Eu cheguei a até me emocionar e chorar ali na hora."
Eu pedi cinco minutos porque a gente acha que trabalha com homicídio e não vai ser atingido por eles, mas não é o que acontece.
O crime de latrocínio - roubo seguido de morte - aconteceu na Zona Norte de São Paulo, quando um perito papiloscopista foi assassinado na porta de sua casa, enquanto aproveitava o seu primeiro dia de folga. O caso comoveu toda a corporação, afinal se tratava de de um amigo de todos. Por isso, a resolução se tornou uma questão pessoal.
Ao longo do episódio é discutido sobre as motivações do crime: vingança, queima de arquivo ou roubo. Para chegarem à conclusão do latrocínio, foi preciso investigar um boné esquecido na cena do assassinato e utilizar técnicas avançadas de estudo de DNA.
Para Telma Rocha, mesmo quando não se trata de uma pessoa próxima, o crime de latrocínio é o que considera mais banal. "Além de você querer o material, você coloca a vida de uma pessoa abaixo de um bem material. Isso para mim é inaceitável."
"Recentemente, eu fiz o caso do Renan, que estava andando com a namorada na Zona Sul de São Paulo e sofreu um assalto. Ele foi tentar defender a namorada e levou um tiro na cabeça, sabe? Por causa de um celular."
"A gente estava fazendo a perícia e os familiares começaram a chegar. Eles viram a gente trabalhando e falavam: 'Muito obrigada pelo o que vocês estão fazendo'. Você se sente uma bosta. O cara acabou de ter um filho morto e está agradecendo por fazer o seu trabalho. Isso abala a gente, mexe com o nosso emocional."
Além do caso de Renan, Telma fala a Splash de outro caso que a chocou durante o trabalho. "Eu cheguei no local da vítima de homicídio, que já tinha uns cinco roubos seguidos de morte, já tinha passagem por tráfico, estupro... Eram umas oito mortes no total. Então, vê-lo morto não me abalava tanto."
Até que a mãe dele chegou. Foi quando eu percebi: 'alguém se importa com esse cara'
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